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terça-feira, dezembro 19, 2006

segredos guardados no rio

O rio guarda os segredos da profunda paixão do velho Marinheiro, barba branca e cabelo desgrenhado, pela mais bela Ninfa do Tejo, olhos profundos e sorriso doce


Há sempre uma nova oportunidade

O velho marinheiro franziu o sobrolho, sinal de preocupação, enquanto contemplava o firmamento, a linha do horizonte, onde há pouco o sol se escondera, no seu aparente movimento resultante do continuado avançar do Mundo.

Mostrava-se preocupado pela súbita alteração do movimento das nuvens, momentos antes suave e tranquilo e que agora em turbilhão inesperado parecia querer revolver todas as massas de água em cúmulos constituídas.

Mantendo ainda tonalidades avermelhadas do recente pôr-do-sol resultantes, o céu tomava rapidamente cambiantes acinzentadas e, logo depois, de profunda acastanhada negritude. A tempestade ameaçava desabar sobre o mar e quebrar o tranquilo fim de tarde, ainda há pouco vivido.

O mar encapelado e o bru-á-á da rebentação, assustadoramente ouvido no topo da falésia, nas imediações do Convento dos Capuchos onde o velho marinheiro se recolhera, eram sinal de borrasca iminente.

Em terra as avezitas esvoaçavam errantemente, na ausência do equilíbrio de pressão atmosférica tão necessário à suavidade do seu planar. Pressentiam momentos difíceis que a brisa marítima a soprar fortemente já anunciava.

O velho marinheiro foi invadido por tremenda melancolia. Sabia que não iria ter o afecto da presença da mais bela Ninfa do Tejo, sua companheira de tantas andanças por estas e outras paragens.

A Natureza continuava a ser a sua grande mestra nos ensinamentos da vida, o mar seu confidente... Sabia, aprendia a cada dia de vida, que a luz, a luminosa tranquilidade, é algo fugaz e que a ela sempre se seguem momentos de escuridão, de tristeza de solidão...

Ainda parecia ouvir o doce murmurar da mais bela Ninfa do Tejo: “_Meu querido”. A tempestade já distorcia estas suaves palavras que agora se tornavam mais nítidas, com sentido tão diverso: “_É imperioso que me afaste! Marinheiro, prendeste-te demasiado a mim, que sou pertença do Rio... “

Um fugaz brilhar no fundo do olhar do velho marinheiro poderia significar um grande ensinamento de vida que a sua idade lhe trouxera: “há sempre uma nova oportunidade... esperança!”.

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