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terça-feira, janeiro 09, 2007

do fundo do baú de memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Os meus avós

Meu avô paterno, mestre sapateiro com oficina posta e aberta ao público, mestre Humberto, oriundo de Campolide, penso que com antepassados da etnia cigana, ainda com alguns vestígios de nomadismo vivido no passado. Era austero, com pendor republicano, patriarca e amigo do seu amigo.

Minha avó paterna, a Ti Joana, peixeira de profissão, a viver nas terras da Venteira vinda da zona de Viana do Castelo, perdera-se de amores pelo mestre sapateiro já em terras da Porcalhota. Ágil no caminhar com a canastra de peixe à cabeça, acabou por se estabelecer com banca no mercado junto à linha férrea.

Em casa o menu principal era sempre baseado no peixe fresco que ficava por vender no mercado da Amadora. Os meus avós sentavam à mesa na refeição do almoço, nesses tempos de dificuldades e penúria, mais de trinta pessoas, entre a prol familiar e os artesãos e aprendizes da oficina.

Meu avô materno, Manuel, trabalhador rural e pedreiro quando os trabalhos do campo eram escassos para alimentar a família, morreu cedo vítima da "pneumónica" ou de uma outra doença traiçoeira, na vitalidade da idade. Minha mãe contava-me que muitos muitos anos depois de ter perdido o pai ainda lhe parecia ouvir o seu tossir quando subia a calçada na direcção de casa.

Minha avó materna, Isménia, nome difícil até para os escrivães da época que a foram registando com variações onomásticas, veio para a capital muito cedo, após a viuvez prematura, acompanhada de uma filha, bela e rosada moçoila que mais tarde seria minha mãe. Veio servir, como então se dizia, para fazer frente à vida quando enviuvou. Mais tarde melhorou a vida arranjando um lugar de porteira quando a Porcalhota começou a desenvolver-se arrabalde de Lisboa já nomeada Amadora, lá pelos anos 40 do século passado.

Antepassados pobres, sofridos mas lutadores, ao que sempre ouvi dizer sérios e dignos, que constituíram famílias grandes, nem sempre tão unidas como seria desejável, como eles sempre idealizaram pudesse acontecer.

Comments:
Antepassados,alicerces no nosso crescer.Lindo relato,com tanta sensibilidade ,que chegueia viver a história.
Ligia
 
Querida Lígia. São memórias e, muito em especial, são referências que infelizmente se vão perdendo. Beijinhos.
 
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