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sexta-feira, março 16, 2007

um café no gerbeaud

o meu caderno de viagens
Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo



Viajar para Budapeste, na minha opinião uma das mais belas e acolhedoras cidades do Mundo, resulta sempre num exercício de afectos, no alimentar do nosso imaginário das grandes viagens de sempre. O Rio Danúbio, que à beira de Budapeste em Duna se transfigura, conduz-nos ao sonho, ao eterno mistério da passagem entre o Ocidente e o Oriente.

Paralela ao Rio Danúbio, na sua margem leste, na zona designada por Peste e que cinco maravilhosas pontes unem a Buda e a Óbuda, a Rua Váci congrega em si desde o início do Século XIX as principais actividades comerciais, não só o comércio tradicional como também as mais modernas e elegantes lojas da cidade.

A tão celebrizada Rua Váci não é somente uma rua de comércio e atractivo para os turistas. É da mesma forma ponte de encontro e espaço de passeio dos habitantes de Budapeste que encontram nas ruas transversais amplas e soalheiras esplanadas que convidam ao descanso, à conversa ou à simples observação da vivência de uma cidade.

No topo da Rua Váci fica a Praça Vorosmarty, espaço de correria despreocupada para a miudagem e de peregrinação para os mais velhos que aí encontram restaurantes e cafés de onde emanam cheiros tradicionais e onde se degustam sabores únicos. Naquela loja à esquerda de quem entra na Praça, com montras coloridas de rótulos de garrafas de vinhos e licores, vou comprar uma garrafa de Unicom, licor de 40 ervas de sabor estranho, esquisito.

Mas é ali também nas imediações que o meu amigo Ali, no tempo em que a moeda do País fazia parte integrante da sua identidade tinha “banca” montada para a compra e venda de “shilings” a preços convenientes.

Num dos gavetos da Praça Vorosmarty situa-se o legendário Café Gerbeaud, que já se chamou Café Kugler, nome do seu fundador, em 1858, e Café Vorosmarty, alusivo ao nome da Praça onde se encontra instalado desde 1870. Inicialmente teve porta aberta na hoje Praça József Nádor.

Recebeu, durante a sua longa existência, alguns designativos elogiosos tias como “os melhores gelados de Peste” ou “ponto de encontro dos seis elegantes Mundos”. Na realidade por ali se cruzaram espiões e aventureiros, viajantes compulsivos e membros das casas reais europeias, em momentos de repouso (ou de trabalho) nas paragens prolongadas na cidade do célebre Expresso Oriente.

Quando visitei o Café Gerbeaud em 1992, antes de profundas obras realizadas em 1997, respirava-se ainda o ambiente desse ponto de encontro de gentes que de diversos mundos se dirigiam ou regressavam do Oriente. Toda esta azáfama de encontros e desencontros vividos com um café saboroso servido requintadamente numa chávena única de três peças, o pires, a chávena e um pequeno prato/tampa que continha o creme.

Quando pretendi obter esta autêntica peça de colecção solicitei-o à “chefe” que me pergunto de onde era eu oriundo. Quando lhe respondi reagiu com a nostalgia do longe “Ah Portugália, Portugália...”.

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