segunda-feira, outubro 15, 2007
o outono
E de vozes caladas e de folhas
Molhadas de temor e surdo pranto
[Gastão Cruz, Poemas Reunidos]
O Outono bateu à nossa porta envergonhado por vir ensombrar o Verão que estava na hora de partir. É sempre assim todos os anos, mantém-se hesitante pelo menos até aos festejos de São Martinho. Depois desse tempo “de ir à adega e provar o vinho”, isso sim, começa afoitamente a preparar o caminho e, especialmente, o sentir das gentes para os tempos de invernia.
O Outono é do agrado dos amantes, pela suavidade que consigo traz, o convite ao recolhimento às carícias aos afagos. São tempos de maturação, depois de terminadas as colheitas. É tempo do mosto fervilhar e das grandes transformações, feitas com a tranquilidade do saber.
As avezitas voam mais baixo, sentem a força e atracção telúrica. Mas são voos de desassossego, de azáfama na procura de espaço de protecção e de abrigo. Outras tomam rumos do longe seguindo registos do seu código genético que as leva ao encontro de condições climatéricas adequadas à sua condição.
Daqui a pouco, as vozes alegres e expansivas que vibraram nos tempos de estio vão dar lugar aos murmúrios à volta da lareira, no recolhimento dos sentimentos, na preparação para o Inverno com os receios que desde eras imemoriais foram passando de geração em geração. As noites longas e escuras como breu sonham mundos fantásticos que o madrugar virá desvanecer nas mentes das pessoas.
Outono dos “amarelos e castanhos e dos vermelhões” como uma querida amiga tão bem o coloriu é tempo de afectos...
Etiquetas: pequenos textos, tempo