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domingo, outubro 28, 2007

a revolta dos contadores de tempo

Os canais de televisão, quer os designados “canais abertos” quer os que chegam até aos nossos televisores através de cabo, apresentavam a essa hora, na generalidade, uma programação chatíssima. Filmes de violência gratuita, debates entre os nossos “homens da frente” que de tudo sabem imenso, televendas, música de cordel de acordo com play-lists internacionais...

No meu sótão há muito que parara o desassossego dos melros a piarem em fim-de-dia em cima do telhado e chegara o silêncio quebrado unicamente pela melodia de uma música a sair pelas colunas de som do computador. Mão amiga me fizera chegar acordes de Mantovani.

De súbito a agitação... Olhei o relógio de pulso... 2 horas da madrugada!

Dezenas de contadores de tempo que fui juntando com o passar dos anos reagiam cada um à sua maneira à institucionalizada “mudança de hora”. Era chegado o momento de, cada um de nós, “ganhar mais uma hora de vida” (logo, logo, seis meses depois perdida), dar um passo para entrarmos no chamado “horário de Inverno”, aqui no hemisfério Norte e, concretamente, em Portugal.

Os computadores, o de mesa e o portátil, que foram registando conhecimentos com o passar do tempo, ou com o tempo que passa, não necessitaram de qualquer intervenção, trataram da sua vida. Os despertadores de corda manual, preocupados unicamente com os ponteiros de marcar o tempo, pois o de despertar manter-se-á na mesma posição, pediam somente um pouco mais de corda para a hora de trabalho adicional. Os de pilhas e cristal de quartzo, somente a carecerem de que os ponteiros retrocedessem uma hora.

Depois... os contadores de tempo “muito especiais”...

Um relógio de Sol, conservador no sentir, quer lá saber disso da “hora legal”! Quer é o Sol de cada dia para desempenhar a sua função!

Uma ampulheta que deseja comemorar a ocasião e que pede para que lhe demos uma “viradinha” que ela de encarregará de lentamente deixar passar um a um os grãos de areia...

E o relógio de pulso da marca “Romano” em metal dourado e correia de pele natural? Bom esse magnífico relógio vindo ali das bandas do Cais do Sodré, pela mão do meu amigo Silva, do British Bar, esse para atrasar uma hora terá que ser adiantado.... [mistério!!!!]

Alguns minutos depois das 2 horas, seriam então 1 hora e 5 minutos, o sossego voltou ao meu sótão, como é próprio do adiantado da hora na pacatez da Oficina das Ideias.

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Comments:
amigo victor
o tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem...
há tempo para ficar em silêncio...
e há tempo para a paixão...
depois... há o tempo e o silêncio.
e há o silêncio de paixão...
e há as palavras.as nossas.
as ditas e as por dizer. as que se pensam e se dizem e as que não se pensam ou ficam por dizer...
e nasce a revolta por não conseguirmos medir o tempo. nem ter fita métrica para medir a paixão. e faz-se silêncio...sentido.
bj
 
Muito bem colocado o comentário da Ivone, e concordo com ela. Essa medida de tenpo irreal, à qual temos que estar sujeitos dentro do sistema em que estamos inseridos, alguns escravos, outros rebeldes como eu à fim de ser somente seus usuários, é só uma coisa à ser medida para as coisas funcionais, transitórias, porque o tempo real, nos nosso sistema solar, que implica em nascer e morrer do sol, este está indiferente à tudo isto, e à nós importa realmente o tempo para o que sentimos, que é o que de mais verdadeiro existe. Tudo o mais é secundário, faz muito pouco sentido diante do que estamos aqui à cumprir e encontrar.

Beijos

Gwen
 
Querida Ivone
Bonito comentário que faz uma perfeita ligação entre o tempo que passa e as palavras que são ditas, entre a vida e os silêncios.
Enriquecerdor do meu modesto escrito.
Beijinhos.
 
Querida Gwen
Na realidade o tempo que passa quer aprisionar-nos, pelo que deveremos lutar com todas as forças contra essa intenção.
Beijinhos.
 
Olá, Victor!

Hoje em dia só me apetece ler os posts que versam assuntos de que não me lembraria escrever... Ora, aqui está um - e, não por acaso, excelente. O que nos vale é que a mãe natureza não liga a estes sortilégios dos homens. Por isso, como adivinhas, estou com o relógio de sol.

Um abraço,
Rui
 
Amigo Rui
Acompanhar o tempo que passa com um relógio de sol é simplesmente magnífico.
Dessa forma se vibra com o sentido do tempo.
Um abraço.
 
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