Partilhar
segunda-feira, novembro 26, 2007

companheiro na alegria

Na verdade nada acontece por acaso. Cheguei ao edifício da Junta de Freguesia, para a sessão inaugural da exposição “Os Primórdios da Rádio”, ao mesmo tempo que esse consagrado gigante da Rádio que é Francisco Igrejas Caeiro.

_ Ó meu grande amigo! Seguiu-se um efusivo abraço, todo o prazer de um encontro.

Igrejas Caeiro, um dos pioneiros da Rádio em Portugal, era o orador convidado para a cerimónia inaugural da referida exposição e ali estava cumprindo o compromisso e o horário, senhor de 88 anos na sua perfeita e total lucidez.

Na apresentação do orador foi-me pedido que pronunciasse algumas palavras, Igrejas Caeiro “exigiu” mesmo que isso acontecesse. Sobrou-me recuar quase 50 anos na minha vida e nas minhas recordações, até aos anos 50 do século passado, para evocar a obra desse verdadeiro operário da Rádio, que durante anos percorreu todo o País, em época em que isso era difícil fazer, para levar ao Povo dos mais recônditos lugarejos o programa Rádio publicitário de maior êxito de sempre: Os Companheiros da Alegria.

Recordei, e como ainda se mantém vivo na minha memória, quando em 1952, com 8 anos de idade e às cavalitas de meu pai, assisti ao espectáculo de Os Companheiros da Alegria realizado no ringue de patinagem dos Recreios Desportivos da Amadora, o mesmo onde nasceu o hóquei em patins em Portugal. Ainda recordo a cara bonita da Bertine Branco uma das muitas descobertas de Igrejas Caeiro e que veio a casar com o novel cantor António Alvarinho e cujo casamento Igrejas Caeiro apadrinhou.

Recordei também o terrível despacho do ministro salazarista, Costa Leite Lumbralles proibindo Igrejas Caeiro de trabalhar e impedindo, não só os espectáculos, como toda a actividade que dependesse da Inspecção dos Espectáculos. Tudo isto por ter dito, numa entrevista concedida ao jornalista Rolo Duarte, para o jornal Norte Desportivo, em 11 de Fevereiro, que o pandita Nehru era o maior estadista da nossa geração, provocando revolta e profunda tristeza não apenas de todo o grupo como também, nos milhares de entusiastas dos programas e principalmente das centenas dos que se apresentavam no Trindade para os espectáculos para que haviam adquirido bilhetes.

Muitos recusavam o reembolso do que haviam despendido, em tocantes gestos de solidariedade perante esta prepotência e mesquinhez do regime autoritário e persecutório.

Finalizei solicitando que não batessem palmas à minha intervenção mas que as dedicassem integralmente à figura ímpar de homem bom e humanista de Igrejas Caeiro.

Um abraço forte, sentido e com lágrimas de amizade concluíram este inolvidável momento.

Etiquetas:


Comments:
Foi de Igrejas Caeiro a frase: "um bom locutor não fala para o microfone mas sim pelo microfone".

Veja-se o que significa a alteração de uma simples palavra.

Analize-se e conclua-se da veracidade da frase.
De resto, dita por quem disse, teria mesmo a força de quem sabe.

Malta contemporânea, locutores robôts. Aprendam com quem sabe.

Um abraço, Victor e obrigado por me fazer recordar esse HOMEM, pleno de honradez e de profissionalismo.
 
Amigo Repórter
O Igrejas Caeiro dá-me a honra de ser meu amigo de tantas caminhadas feitas nas ondas hertzianas.
No tempo que passa sem abrandar é sempre bom caminharmos nas memórias de tempos passados, felizes na luta.
Um abraço.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?