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sexta-feira, novembro 02, 2007

nuvens rendilhadas

"Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas"

[Cesário Verde, Poesia Completa]


A minha amada caminhou na areia doirada do Grande Areal, mas eram tão leves as marcas dos pés que deixava na sua passagem que mais parecia flutuar envolvida no odor da matinal maresia. Não me olhou, antes lançou seu longo olhar, de tantas cambiantes de cor como a paleta de um pintor, para o mar azul que se agitou em laivos de verde e prata.

Não conhecem a dimensão do seu coração aqueles que afirmam que os seus olhos mais parecem lâminas de espada. A doçura que emana do seu olhar faz que o mar se agite e procure urgente lançar uma vaga prateada sobre a orla da areia seca por forma a lhe beijar os pés. Homenagem.

Mas não o faz de forma encapelada, antes com suavidade espraia sua espuma como um “mar de damas” como lhe chamam os pescadores endurecidos pela faina das artes e de tez crestada pelo sol e pelo sal dos tempos a fio passados a navegar.

O rendilhado das nuvens é como o prateado da rebentação das ondas que num instante se transformam em pequenas gotícolas que o Sol intenso logo evapora. São assim os amores à beira praia, sobra o sonho que continua a fazer avançar os sentires como avança com o mundo rumo à esperança.

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