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sexta-feira, abril 25, 2008

25 de abril, sempre!

Muitos haviam deixado de acreditar. Outros tantos baixaram os braços no desespero de uma luta sem quartel onde se consideravam vencidos. A maioria vivia submersa num terror permanente de expressar o seu sentir, pois no virar da esquina ou mesmo ali um “bufo” acusá-lo-ia até do que não havia dito, levando-o a uma prisão em resultado de um julgamento sumário onde nem sequer defesa lhe era garantida.

Falava-se em voz baixa, cochichava-se mesmo, entre família e amigos seguros se alguma crítica ou algo em desabono do estado constituído se pretendia fazer. Nem “Viva a Portugal” era permitido gritar. Três amigos a conversarem na via pública ficavam de imediato sujeitos a uma “vigilância” mais cuidada pelos “olhos e ouvidos” do Estado Novo.

Um casal beijar-se na via pública era uma grave ofensa à moral. Nas escolas, turmas mistas nem pensar. Para proteger as fosforeiras usar isqueiro pagava imposto. Os livros mais “revolucionários” eram apreendidos mal chegavam ás livrarias e alguns nem lá chegavam. E se em casa de um cidadão eram encontrados havia problemas pela certa.

A mulher era altamente discriminada. Para se casar com um elemento das forças armadas tinha que apresentar documentação de bom comportamento moral e cívico. Para se ausentar do país tinha que ter autorização do marido. Para um cidadão ser admitido numa empresa onde o estado tivesse influência tinha que apresentar uma declaração em como não era comunista....

A esperança de vida nos homens situava-se nos 65,3 e nas mulheres nos 72 anos; A mortalidade infantil tinha a taxa espantosa e dramática de 37,9 por mil; Os lares sem electricidade rondavam os 36% e sem água canalizada os 53%. Ainda assisti à inauguração de luz eléctrica numa povoação a pouco mais de 30 quilómetros de Lisboa.

Estas e milhares de situações semelhantes somente encontraram solução depois do glorioso 25 de Abril de 1974. Valeu a pena existir um punhado de homens que nunca baixaram os braços que nunca deixaram de acreditar.

Nós, os que vivemos intensa e duramente esse tempos de escuridão temos a obrigação humana e solidária de transmitir aos nossos filhos, aos nossos netos, às gerações vindouras esse legado de esperança e de luta, a importância que teve para todos nós, mas especialmente para o futuro todos esses acontecimentos inolvidáveis.

Ontem senti-me tranquilo ao ver como largas dezenas de crianças leram, falaram, escrevera e desenharam sobre o 25 de Abril de 1974, acompanhados pelas suas professoras e educadoras, pelos seus familiares.

Ontem senti-me feliz a ver o empenho com que a filha do Adriano (sim, do Adriano Correia de Oliveira) leva as suas filhas de tenra idade a conhecerem quem foi o avô e a importância que os seus poemas, as suas cantigas, a sua intervenção cívica e política teve em relação às profundas mudanças verificadas com o Portugal de Abril.

Ontem emocionei-me ao ouvir na viva voz de dois lutadores antifascistas, o Pombo e o Bação, as agruras porque passaram por lutarem pela nossa Liberdade. As perseguições, a prisão, a perca dos direitos cívicos, o desemprego, a incompreensão... Mas resistiram!!! E ainda ontem falaram num futuro melhor, com maior justiça social com os olhos brilhantes de esperança.

Viva o 25 de Abril! SEMPRE!

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Comments:
Será que se ABRIL não acordasse os Portugueses poderiamos estar por aqui? Quantos bufos não andariam à procura destes espaços? Estou convencido que não haveria lugar para os lápis azuis. Batiam imediatamente à porta. Eles comiam tudo e não deixavam nada...
 
Amigo João
Não tenho dúvida alguma sobre as afirmações que faz. R muito mais, acrescento eu. Mas nada está terminado ainda... a luta terá sempre que continuar.
Um abraço.
 
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