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domingo, abril 27, 2008

o último lance de vida

No jogo das damas era exímio e temido pelos adversários, implacável quando erravam e muito difícil de “cair”. Era mesmo um campeão no jogo de tabuleiro por que se apaixonara desde muito novo. Movimentava as peças com destreza e precisão fruto de uma prática continuada.

Conhecedor, pela prática de milhares de horas enfrentando-se a si próprio em tabuleiro quadriculado de preto e de branco, dos movimentos possíveis numa estratégia de “fazer dama”, executava-os na certeza de uma vitória rápida, ou em momentos difíceis com algum tempo de espera paciente.

Mas não só na técnica se distinguia dos restantes jogadores. Bom observador, conhecedor das reacções humanas em situações limite, não fora ele durante muitos anos motorista profissional de transportes públicos, “estudava” sempre a intencionalidade de cada jogada dos adversários.

Naquele dia levantara-se mais cedo do que o habitual, aprontara-se, e depois de uma espera por alguns companheiros que formariam o seu grupo, “ala que tarde se faz” com destino à capital de distrito onde importante torneio se iria realizar e onde participaria como era seu costume.

Chegou cedo, com tempo para um café e dois dedos de conversa antes de tomar o seu lugar, tabuleiro à sua frente e tempo de aguardar a chegada do adversário para tirar “às sortes” se lhe tocaria jogar com as brancas ou com as pretas nessa partida inicial.

Num primeiro momento passou despercebido aos presentes, o fechar de olhos, uma ligeira inclinação do tronco. Depois a queda...

Já não teve oportunidade de executar o primeiro movimento dessa inicial partida do torneio de damas.

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