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domingo, julho 13, 2008

a chave da igreja

Há sempre alguém que possui ou sabe onde encontrar a chave da igreja local, este é o nosso saber de prática confirmado, quando desejamos visitá-la com cuidado e atenção e a porta se encontra cerrada. Situação esta cada vez mais frequente atendendo à série de roubos que se tem verificado, especialmente nas capelas e igrejas mais isoladas do povo.

Recordo ter escrito a propósito da Igreja de Peroguarda quando a pretendemos visitar: “Assim como São Pedro tem as chaves do Céu, assim se passa com a Dona Inês que possui as chaves das palavras e dais ideias e, igualmente, as chaves da igreja paroquial de Santa Margarida que fez questão que visitássemos.” A Dona Inês além de nos franquear a entrada na igreja ainda nos brindou com este belo versejar

Aldeia de Peroguarda
És a minha terra natal
És a mais alentejana
Nas terras de Portugal
Por todas és invejada
És minha terra natal
Aldeia de Peroguarda


Mas, de igual forma, aquando da visita à Capela de Santa Bárbara, em Freixo de Numão, terras de Foz Côa, do povo surgiu a chave que nos possibilitaria visitar este templo granítico, altaneiro e austero. Mulher idosa, cabelos brancos e carrapito, é a fiel depositária duma chave que abre pesados portões de verde pintados.

Numa recente viagem, conhecer sítios e gentes, à vila de Góis, gerou-se a desilusão ao verificarmos que as portas da Igreja Matriz, votiva de Santa Maria Maior, se encontravam cerradas. Por perto nem viva alma, muito menos o pároco ou o sacristão. Nem a soberba vista que se tem sobre o vale do Rio Ceira ou do rochedo da Pena de Góis carregado de simbolismo deu ânimo a quem desejava ver o interior da Igreja e o tão celebrado túmulo de Dom Luís da Silveira.

Foi quando saída sei lá de onde uma anciã de brancos cabelos e trajar modesto se aproximou do escriba destas linhas. Um “boa tarde” de saudação e a conversa sobre a “chave”, os furtos da estatuária religiosa das igrejas, a ausência do padre e a distância a que fica a “comissão fabriqueira” criaram as condições para a pergunta sacramental, que já Saramago sugere na sua obra Viagens em Portugal: “E a chave? Quem terá a chave da Igreja?”.

Não foi fácil. Mas conversa puxa conversa e a Dona Suzana, essa é a graça da anciã que de nós se tinha abeirado lá se prontificou a “conseguir” a chave caminhando à torreira do Sol na busca da mesma.

Confirmado! “Há sempre alguém que possui ou sabe onde encontrar a chave da igreja local”.

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