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segunda-feira, setembro 15, 2008

que viva bocage

15 de Setembro de 1765 - Nasce em Setúbal, filho de José Luiz Soares Barbosa, bacharel em canônes, e de D. Mariana Joaquina Xavier Lestof Du Bocage, filha do francês Guillet Le Doux (ou l'Hédois) Du Bocage


[frontispício da edição de 1853 das Obras Completas]



Faz hoje 243 anos, 15 de Setembro de 1765, nasce em Setúbal, na rua de Bartissol, aquele que viria a ser a figura mais controversa da sociedade da época. Irreverente e satírico, todos estavam sujeitos à sua escrita rija e contundente, mesmo as figuras mais gradas do reino onde o clero estava incluído.

Devasso mas sofredor, marginalizado por uma sociedade relativamente à qual se encontrava com décadas de avanço, nunca deixou de escrever o seu sentir com o gosto e a antena de escândalos que desde muito jovem o acompanharam.

Representa o expoente máximo pré-romantismo literário em Portugal, que há época vivia ainda a plenitude do classicismo quando há muito na Europa sopravam ventos do romantismo.

Os seus sonetos são sublimes...

Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza, e sem brandura,
Urdidos pela mão da desventura,
Pela baça tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mundo esquecimento e sepultura:
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, ó versos, cobardia,
Da sátira mordaz o furor louco,
De maldizente voz a tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco,
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado, e rouco.



Nem para ele próprio a sátira foi mais leve...

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n’altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.




Alguma bibliografia bocagiana (da biblioteca da Oficina das Ideias)


Bocage
Hernani Cidade
Lello & Irmão, Porto, 1936 – 104pp

Sonetos
Bocage, introdução selecção e notas de Vitorino Nemésio
Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1961 – 88pp

Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas
M. M. De Barbosa du Bocage, baseada na publicação de Paris de 1911
Editora Escriba, São Paulo, 1969 – 178pp

Bocage, Obra Completa, Volume I – Sonetos
Edição de Daniel Pires
Edições Caixotim, 2004 – 411pp

Bocage, Obra Completa, Volume VII – Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas
Edição de Daniel Pires
Edições Caixotim, 2004 – 185pp

Bocage, Obra Completa, Volume II – Cantatas, Canções, Idílios, Epístolas, Odes e Cantos
Edição de Daniel Pires
Edições Caixotim, 2005 – 332pp

À descoberta de... Bocage
Sector de produção editorial
Texto Editores, 2006 – 44pp

Bocage, a vida apaixonada de um genial libertino (romance)
Luis Rosa
Editorial Presença, 2006 – 219pp

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