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domingo, setembro 14, 2008

um outro olhar 1

Em 6 de Outubro de 2003 entre os autores dos blogues Oficina das Ideias (letra de estilo regular) e Segredos de Deméter (letra de estilo itálico) foi criada uma parceria para a elaboração de um conto escrito “a quatro mãos” que se manteve durante diversas semanas. É o fruto dessa parceria que hoje aqui se recupera na memória de um interessante trabalho realizado na defesa da lusofonia: a língua portuguesa, o património cultural e as vivências diversas. O Victor mantém a edição diária do blogue Oficina das Ideias. A Marley é assessora de imprensa na Prefeitura de Goiânia, Brasil.




Cai a primeira chuva de Outono em Vale do Rosal. Chuva miudinha, persistente, a chamada “chuva de molha tolos”. O céu toda a manhã encoberto mas com muito de azul à mistura, torna-se cinzento, uniformemente cinzento, dando a sensação que nunca mais deixará de ser assim.

Do solo emana um forte odor a terra, odor que invade os pulmões e, curiosamente, chega ao coração, ou será ao cérebro?, onde vai despertar uma série de sentimentos de bem-estar e de força, força telúrica e criadora.

As aves mais jovens, muitas delas nunca viveram antes esta época do ano, ensaiam voos mais baixos na procura dos insectos que se encontram mais junto ao solo. Apresentam sinais de alguma desorientação, mas muito em breve se adaptarão às novas condições climatéricas e voltarão a dominar o espaço como antes.

Os dias também já são mais curtos. O Sol tem um pouco mais de preguiça em se levantar no horizonte nascente, mas os melros não alteram o seu relógio biológico. Noite escura já lançam os seus piares estridentes, comunicando com os seus semelhantes a hora da alvorada.


Do outro lado do Oceano, um olhar perdido, procura encontrar na primavera que inicia, indícios de fertilidade. A natureza parece estar em festa. O canto das cigarras se mistura ao ruído dos carros na rua. Não é uma disputa, mas elas conseguem cantar mais alto anunciando que é tempo de flores, de borboletas, de revoadas de periquitos.

Nesta época as chuvas não são constantes e, por mais incrível que possa parecer, na primavera faz mais calor que no verão. Também esta estação afasta os pássaros que buscam alimento no meio urbano durante o inverno. Alguns voltam para as matas próximas. Outros, aguardam a independência dos seus filhotes. Fizeram ninhos na cidade.

No ar o cheiro de flores toma conta do ambiente. A cidade se veste inteira de flamboyants e bougainvilles de coloridos vivos. Os canteiros das avenidas readquirem seu verde intenso e se enfeitam de sempre-vivas, margaridas, azaléias, campânulas, petúnias e flores típicas do cerrado. Um brinde aos olhos do caminhante desatento. Não é possível ignorar tanta beleza.

As manhãs são sempre barulhentas. Gorjeios de pássaros e cigarras começam muito cedo e, do outro lado da rua, um papagaio imita todos os sons que ouve. Enfim uma verdadeira alvorada festiva celebrando a vida, o renascimento, o Sol se levanta mais cedo para participar da alegria e sente uma dificuldade enorme de ir embora. O por do sol é uma explosão de cores colhidas durante o dia. Em cada praça, em meio a edifícios, há sempre um artista com pincéis ou câmeras querendo eternizar aquele momento.

Mas aquele olhar perdido...

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