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terça-feira, dezembro 16, 2008

o último fado de fernando maurício

Em 16 de Julho de 2003 publicou a Oficina das Ideias um texto sobre o fadista Fernando Maurício, aquando do falecimento deste grande fadista com quem tivemos oportunidade de privar algumas vezes. Texto com mais de cinco anos de presença na blogoesfera e sem dúvida o mais lido de acordo com os acompanhamentos que fazemos aos trabalhos por nós publicados.

Por essa razão, porque se mantém actual no nosso sentir, em homenagem a muitos “mauricianos”, fadistas ou não, que continuam a dizer presente na Oficina das Ideias e em reconhecimento a um amigo nosso que nos fez chegar “os melhores fados de Fernando Maurício” aqui reproduzimos o texto original e partilhamos um dos seus mais belos fados: “Fui dizer-te adeus ao cais”.

Eis o texto então publicado:

Nas minhas andanças pelo mundo, no tempo que passa sem sentirmos, deixei-me vadiar pelas casas de fado, especialmente aquelas onde se cantava o fado amador e espontâneo, em ambiente simultaneamente rasca e fidalgo, numa perfeita comunhão do querer e do sentir.

Na chamada “Linha”: Cascais, Birre, Alcabideche frequentei com alguma assiduidade O Tabuinhas, O Arreda, O Estribo e O Estribinho e pela Madragoa, em Lisboa, o Timpanas, a Cesária e o Solar da Madragoa, onde se ouvia o fado vadio até à exaustão e onde pontuavam figuras que pela sua forma de vida e pelo casticismo do seu cantar se transformaram em ícones de um imaginário fadista e da fadistagem.

Alto, elegante, com um carismático bigode foi envelhecendo neste caminho, foram-lhe despontando cãs que lhe davam mais encanto e encantando-nos com sua voz, especialmente com o fadistar de “A Igreja de Santo Estevão”. Voz profunda, olhar penetrante não demos importância ao tempo que ia passando.

Sempre pronto a partilhar a sua arte muito gostava de sair “fora de portas”, atravessar o rio e de Cacilhas, já não de burro que isso teria sido nos finais do século XIX, vir para junto do mar, e onde o fado fosse batido, num improvisado tasco de um parque de campismo ou na nobreza do Convento dos Capuchos, cantar o fado.

Mas os contadores do tempo não param, mesmo quando estamos menos atentos e não sentimos a areia da ampulheta a esgotar. Fernando Maurício foi tudo isso. A fadistagem está mais pobre. Enriquecidos estarão sempre os que tiveram o privilégio de o conhecer e de o ouvir.


Para o deleite de todos nós...



FUI DIZER-TE ADEUS AO CAIS

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