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terça-feira, março 10, 2009

de volta à escola

Caminhar para Sul pelo Sudoeste Alentejano e pela Costa Vicentina é uma tentação que facilmente se transforma em paixão. Está sempre presente no meu sentir o chamamento das amplas planícies, onde o olhar se perde para lá da linha do horizonte na busca permanente da moira encantada, cabelo doirado cor de palha a contrariar os traços anatómicos da sua origem para lá do Mediterrâneo.

Mas também o apelo das escarpas recortadas onde o mar azul em prata se transforma, processo milenar de alquimia que os sentidos nos encanta.

Uma vez mais, como tantas outras vezes aconteceu, a rota seguida faz-nos aproximar do Sado, rio azul a beijar a cidade de Setúbal, que é atravessado num dos diversos “ferries” que garantem a ligação às terras de Tróia, onde relíquias arqueológicas testemunham a passagem e permanência dos romanos por estes sítios em tempos passados.

À Comporta vamos seguir na direcção de Alcácer do Sal, deixando o olhar acompanhar as largas dezenas de cegonhas que na região nidificam e onde, aliás, já se resolveram a permanecer o ano inteiro rejeitando a tradicional migração para terras de África quando a invernia chega com suas temperaturas baixas.

Em Cachopos que já foi herdade e é hoje aldeia de portas abertas, encontramos uma escola primária, arquitectura do centenário, transformada em sítio de comeres. A decoração do interior é sóbria, mantendo a tradição da região alentejana, enquanto o exterior mantém a traça do sítio de estudar as primeiras letras.



Serviço de mesas agradável, de salientar as toalhas e guardanapos de pano, de brancura impecável, depois de termos passado pelo lava-mãos onde as mesmas são enxutas com um atoalhado individual de turco, substituindo com charme os toalhetes de papel ou os inestéticos secadores eléctricos.

A boca começou a ser preparada com tirinhas de pimento assado, temperados com azeite envinagrado, alhos e coentros, e com uma saborosa linguiça, no dizer dos estremenhos que não dos alentejanos, frita depois de cortada em pequenos pedaços. Noutros comeres havíamos em tempos sido surpreendidos por um magnífico grão com bacalhau desfiado (meia-punheta da região saloia?), com delicioso pão alentejano fatiado.

O repasto foi constituído por iguarias escolhidas do capítulo “cozinha tradicional” donde salientamos:

Açorda de marisco servida em tigela, bem condimentada a saber a frutos frescos do mar e do rio Sado também.



Já por lá havíamos degustado uma Espetada de Choco [com gambas], acompanhado de feijão verde, cenoura e batata tudo cozido no vapor. O choco servido muito macio mostrou-se soberbo ao paladar mais exigente, mas isso é algo que da memória veio agora para o texto.

Na segunda volta saboreámos Batatas de Rebolão – carne de porco no alguidar, bem condimentada de maça de pimentão, servido com batatinhas coradas depois de haverem sido cozidas [de rebolão].



O vinho escolhido foi o “da casa”, que se apresenta com marca própria “A Escola”, tinto de 2006 da região alentejana de Cuba, teria em algum tempo sido degustado por Cristóvão, o Colombo?, onde predominam néctares das castas aragonês e trincadeira.


Recomendamos como sobremesa o "doce da casa", miolo de pinhão triturado misturado com doce de ovos e polvilhado com canela, a "fazer boca" ao cafézinho (sem açúcar) acompanhado de licôr de bolota directamente da cabaça para o cálice q.b..

O chefe cozinheiro merece o registo do nome, chefe Henrique Galvão, também ele “homem do mar” como o seu homónico histórico, pela forma soberba como confeccionou os manjares que foram servidos aos Reis, comensais Teresa e Victor, que almoçaram por cerca de 40 Euros.

A Escola – restaurante
Chefe de Cozinha: Henrique Galvão
Cachopos – 7580 Alcácer do Sal
Telef. 251 265612816
Encerra às segundas-feiras


Apreciação global da refeição bom/muito bom

Originalidade do prato 4
Sabor e apresentação 4
Carta de vinhos 4
Apresentação e atendimento 4
Higiene da mesa e das loiças 5
Higiene dos serviços 5
Ambiente e decoração 4

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Comments:
Ora sim Senhor! E não prepararam a boca nada mal... Só mimos! :D
 
Mesmo de barriga cheia degustei com prazer os manjares alentejanos.
Gosto tanto de passeios gastronómicos!

Beijinhos

Bem-hajas!
 
Um itinerário de deixar água na boca, uma boa maneira de evitar o abandono escolar. Já os romanos na península de Tróia preparavam iguarias daquilo que o rio e o mar davam. Na Comporta é de admirar aquela obra de engenharia hidro-agrícola, que deu o nome àquela terra.
Não haja dúvida que temos cá dentro bem melhor que aquilo que se vai procurar além fronteiras.

Um abraço
Carlos Rebola
 
Querida Milu
É zona de bons comeres, sem dúvida.
Beijinhos.
 
Querida Isamar
Caminhar à descoberta por esse Alentejo adentro é uma pequena maravilha. Não é o caso, pois A Escola já é por cá lugar de referência. Mas lá mais adiante as maravilhosas praias que são paraísos não me deixaram indiferente.
Beijinhos.
 
Amigo Carlos
Seguramente que é um belo itinerário... são locais de "peregrinação" anual.
Um abraço.
 
...andam a comer bom e 'nice'...
assez chére non?.
Um abraço
NB : esta de ter de ir a uma escola Est Novo para comer só lembra a VExas...rsrsrsrs
 
Amigo Victor
O esforço que fazemos na procura de boas casas de comida...
Relação qualidade/preço muito interessante.
Um abraço.
 
Afinal, voltaram lá antes de termos a oportunidade de uma primeira visita... Assim ganham muito avanço. Tss tss tss... Medidas drásticas exigem-se :-)

Um abraço
 
Amigo Rui
Vamos a essas medidas. A vossa vinda é sempre muito bem recebida.
Um abraço.
 
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