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terça-feira, junho 09, 2009

maria, valente maria

Naquelas conversas de “passar o tempo”, de conseguir que o tempo mais depressa se esvaia, quando é tempo de pasmo, fala-se sempre um pouco de tudo e de nada. Umas palavras são ouvidas e enriquecem o nosso baú de memórias, outras nem tanto “entram por um ouvido e saem por outro” ou como os mais jovens em tempos usavam dizer “entra a dez e sai a 100”.

Assim aconteceu naquele dia em que o Povo foi chamado a pronunciar-se sobre gente para “nos defender” na Europa comunitária, não sabendo bem ao que ia, pois também ninguém dos mais sabedores, que não sábios, procuraram dar o mais pequeno esclarecimentos, preocupados com coisas de dinheiro e poder próprios.

Já passara a hora do almoço e um punhado de mulheres e de homens, com repasto tomado às pressas, ali se encontravam entregando seus tempos de lazer à causa pública, ao bem comum, sem que muito lhes fosse reconhecido por quem ali vai usar de um direito tão penosamente conseguido e agora quase fazendo um frete: o voto.

À conversa, nesse espaço de que o tempo passe, ali estavam uma mulher jovem, com aquela indefinida idade que tanto pode situar-se logo a seguir aos “teens” como no decurso dos “intas”, a Maria, e um ancião decerto com muita vida vivida, o velho Manuel.

E era de “vida vivida” que conversavam. A Maria com ar gaiato lá sublinhava da sua vida bem vivida. Este “bem vivido” é sempre pasto de cumplicidades e duplas intenções. O acompanhar com um piscar de olho e de um misterioso brilho no olhar, dava esplendor ao rosto da mulher e apimentava a conversa.

E um querer dizer mais, muito mais, do que aquilo que as palavras haviam transmitido.

Durante alguns segundos, que mais pareciam eternidades, entre os dois conversantes pararam as palavras, sobrando olhares trocados, sorrisos furtivos, silêncios falados.

Havia algo mais a ser dito e não era fácil, como um observador atente teria concluído, verbalizar os pensamentos.

Finalmente a Maria venceu as suas próprias resistências e disse:
“Quando digo que já vivi muito, vida intensa quase até ao limite do humano, quero dizer que sou imensamente feliz por ter tido a oportunidade de doar um dos meus próprios rins a meu pai para lhe salvar a vida. E felizmente estamos os dois bem…”

Ah forte Maria. Valente. O velho ancião sentiu-se, igualmente, muito feliz por ter sido escolhido como confidente e cúmplice neste momento em que Maria necessitou de verbalizar o seu sentir.

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