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quinta-feira, junho 04, 2009

tempos de inspiração

Existem tempos assim... a inspiração para escrever, como para qualquer outra actividade que envolva um acto criativo, anda por vezes arredia. Como afirmou uma querida amiga “falta a luz, a luminosidade...”. Então parece que tudo se torna mais difícil, o esforço é maior, os textos nascem baços e sem vivacidade.

O acto de escrever envolve um conjunto de sentires cuja forma de expressão nem sempre é linear. Aliás, a maioria das vezes não o é. Umas vezes resulta dos saberes acumulados durante uma vida, outras, tão somente o resultado de uma chispa captada em circunstâncias inexplicáveis. Quantas vezes tem origem numa palavra se dita pela “musa” inspiradora.

Admiro, pois, o que acontece com alguns criadores a quem, segundo as suas próprias palavras, o acto criativo acontece muitas vezes à revelia da sua própria vontade. Vou citar as palavras de três autores que me são queridos, ainda que, sem muita precisão nessas citações que faço de memória.

José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, refere em diversas ocasiões que a inspiração lhe surge nas mais díspares situações: quando se barbeia defronte de um espelho, quando se desloca de automóvel e é confrontado com a construção de um imenso imóvel, e em tantas outras situações comuns.

Jorge Palma, cantor de culto, afirmou numa entrevista que se inspira ao estilo de uma esponja, está tão ávido que qualquer coisa lhe serve de inspiração: uma frase, um livro, uma expressão, uma discussão, qualquer coisa. Depois deixa essa ideia trabalhar dentro da sua cabeça e é criado o poema, a música.

António Lobo Antunes vai mais longe. A inspiração surge-lhe num estado de dormência, em que está entre o dormir e o acordar e flutua. Como sempre escreve à mão, é mais produtivo no momento em que com o cansaço a mão se torna autónoma.

E por aqui, este escriba da Oficina das Ideias que para juntar letras, formar palavras e integrá-las no contexto tem que transpirar a bom transpirar. A inspiração é assim como que construída pedra a pedra, qual tarefa de pedreiro já para não dizer de trolha.

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Comments:
Também gosto muito de ler José Saramago e António Lobo Antunes. São dois autores que chamam as coisas pelos seus verdadeiros nomes, não fazem rodeios, dizem o que há para dizer e que deve de ser dito, por isso, sinto, quando os leio, uma espécie de violência, porque a verdade às vezes dói! Também gosto muito de escrever, mas não sei criar, apenas recrio, porque narro acontecimentos, não sei se exactamente como eles aconteceram se mais como da forma eles me ficaram impressos na memória. No entanto, tenho dias em que o acto de recriar me sai melhor. Na minha mente, espontaneamente e em catadupa, as ideias transformam-se em frases. Paradoxalmente isto acontece-me nos dias em que o meu cansaço é quase extremo, por exemplo nos dias em que trabalho num turno, no horário da madrugada e que de todo vai contra a minha natureza, fazendo com que nesses dias, (noites), não durma mais de três a quatro horas. Há momentos em que quase entro em esquizofrenia, que afinal em mim resulta muito produtiva! Tão produtiva que já tenho dado por mim a falar sozinha, não fosse eu uma pessoa esclarecida e ainda julgava que estava a ficar maluca! Felizmente sei reconhecer que essa minha frenética actividade mental, esse meu desvario, é apenas consequência de uma grande bebedeira,de sono, claro!
Não estou a par da obra de Jorge Palma, sei apenas que canta umas coisas que fazem pensar e que estão impregnadas de irreverência, pelo menos é esta a minha ideia.
 
Inspiração também é muita transpiração...digo eu
E pedra a pedra cria-se "um abrigo", "uma escada"...
 
Querida Milu
Bonito comentário o teu que muito me enriquece e aos demais leitores da Oficina que tenham a curiosidade de vir ver os comentários.
Muito obrigado.
Beijinhos.
 
Querida MagyMay
Podes crer que sim...
A Oficina é um importante abrigo que eu tenho.
Beijinho.
 
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