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domingo, junho 14, 2009

um dia da nossa vida

O ano de 2001 não era ainda meado quando, numa semelhante sequência de acontecimentos, meus pais partiram para as terras do longe, com a diferença de um mês, o que em tempo universal pouco significado tem. Ficou um vazio enorme que é ausência, mas o mais doloroso é aquele que resulta da perca de referências.

Nesse ano já não partilharam, na realidade das coisas, o tempo passado sobre aquele dia em que 57 anos antes o Manuel mal podendo esperar pelas sete horas da tarde, hora de encerramento do estabelecimento em que trabalhava, para regressar a casa, recebeu a notícia:

“_Vai já pra casa Manel, tens lá um rapaz!”

O Manuel e a Conceição encontraram-se de forma que sempre parece casual no caminhar de duas vidas. Gostaram um do outro. Viviam-se tempos difíceis dos anos finais da II Grande Guerra mas arriscaram viver juntos, constituírem família. As dificuldades a dividir por dois talvez fossem mais facilmente suportáveis. Foram viver para a cave de um prédio onde a mãe da Conceição era porteira.

Foi da mesma forma aparentemente casual que partiram. Mas tal como no resto da vida, fizeram-no juntos.

Oito anos passados no rodar inexorável dos ponteiros do contador do tempo e na falta da referência viva dos nossos antepassados é nossa obrigação e dos nossos vindouros garantir a perenidade das memórias. Muitos acontecimentos foram talhando o passar do tempo e os sentires e quereres partilhados deverão ser perseverados.

Sessenta e cinco anos de vida vivida não nos transforma em sábios, mas obriga-nos a ser reflectidos e a meditar:

_Quantos anos de idade eu tenho?
_Tenho 35 anos!
São os que tenho até aos 100 anos para aprender e ser solidário, bom, amigo, camarada...

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Comments:
Que encanto, como descreves as tuas referências, "o teu sangue".
Raramente uso esta expressão, daí fazê-lo agora:
Bem Hajas, Victor!
Quero "estar contigo" nestes próximos 35 anos...aguenta-me!
 
Querida MagyMay
Toda a vida para mim têm sido muito importantes as memórias e as referências. Superam a saudade na dinâmica da formação humana.
Os meus pais foram gente simples mas que me incutiram valores soberanos de afecto.
Claro que sim... os 100 anos não tardam... somente faltam 35.
Beijinho.
 
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