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sábado, junho 06, 2009

um relógio perdido no tempo

Em determinada altura da minha caminhada pelas veredas da vida deixei de usar relógio de pulso, não porque houvesse perdido o interesse pelo tempo que passa, mas porque me questionei acerca de ser demasiada carga física e espiritual transportar comigo todas as horas da minha vivência.

Não distinguia entre as horas boas e as insignificantes, entre as dolorosas, mesmo amargas e desesperantes, e aquelas que de tão agradáveis mais pareciam minutos ou segundos de tão fugazes momentos sentidos. Todas as horas pesavam no meu relógio e, por isso, no meu corpo, curvando-me com tamanha carga.

Nos tempos reservados a dormir, umas vezes as horas que convencionámos serem de bem para a saúde física e mental, outras vezes em número bem mais reduzido devido à labuta da vida e às preocupações do espírito, de um modo geral, o relógio era colocado sobre a mesa-de-cabeceira aliviando-me nessas nocturnas horas.

Por vezes na turbulência do sono avassalador olvidava-me de realizar o acto de retirar o relógio do pulso e, então, mesmo nessas circunstâncias de dormir, quantas vezes levado em caminhadas por sonhos mais reais do que a própria vida, a horas continuavam dentro de mim, sugando-me a energia em recuperação.

Na minha memória, memória profunda de tempos idos há muito, repousava aquela ideia recorrente de que o tempo, a medida e o sentir do mesmo, dependendo muito das circunstância em que é vivido, sendo mais importante funcionarmos como acumuladores de energia, muito activos em tempos de sol aberto, mais tranquilos e pouco consumidores quando este viajou para o outra lado do mar.

Deixei, pois, de usar relógio de pulso, sem perder o respeito que me merecem todos os contadores de tempo. Ele, contudo, ressentiu-se. Não era uma dessas banalizações tecnológicas, quartzo e pilha, pilha e quartzo, antes carecia do balanço do meu corpo para ele próprio ter vida.

E agora aqui estou… com um nó na garganta, com um soluço que me sobe do peito, a partilhar convosco esta minha decisão… acho mesmo que uma decisão egoísta.

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Comments:
uma história interessante...
mas não fiques assim, em desespero, com esse nó na garganta!
as minhas palavras são suspeitas, não uso relógio! vou-me "guiando" ao sabor do dia e pelo telemóvel!
lolololololol
beijinhos
 
Apenas uso relógio durante a semana de trabalho,porque sinto que não sou totalmente dona do meu tempo, há uma parte dele que não me pertence, pois é de outrem, que o contratou. Assim que chega o fim-de-semana, ao diabo o relógio! Acabaram-se os compromissos! E então volto a ser livre, ainda que por apenas dois dias!
 
Não vale a pena ficares com nó na garganta, vivo a olhar para o relógio, 10 minutos de atraso para mim equivalem a uma falta! gostaria de deitar fora o meu, seria sinal de que poderia descontrair e ser dona do meu tempo, por isso SORTUDO...
Bjs
 
Querida Gaivota
É a emoção de sentir um amigo sofrer por abandono... quantas vezes não são reflexos de vivências.
Beijinho.
 
Querida Milu
Sou também da opinião de que somos donos de uma fracção mínima do nosso tempo... que insistimos em chamar de "nosso"...
Seguirmos o tempo do sol, a força da Natureza, é maravilhoso.
Beijinhos.
 
Querida Lilás
Sabes? Pela amizade, muita amizade que te tenho, parte do meu tempo também o é teu...
Gosto desta partilha...
Beijinhos.
 
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