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segunda-feira, agosto 17, 2009

o sentir

Nem o próprio saberia explicar, quanto mais eu modesto narrador de uma estória forjada naquele estranho sentimento que os portugueses usam chamar “saudade” mas que eu prefiro dizer “memória”, sedimento de sentires agradáveis que nos faz desejar que ganhem vida, se repitam, estejam sempre presentes.

Nem o próprio saberia explicar porque razão naquele dia, naquela hora, sem razão especial aparente a não ser a da tal “memória” resolveu utilizar um equipamento das novas tecnologias, que por motivos que não vêm à estória até abomina, o telefone portátil, o telemóvel.

Com uma tecla apenas, a primeira letra do nome a quem iria telefonar, um menu listava uma série de nomes e a escolha foi imediata. Após um número reduzido de toques de chamar uma voz atendeu: “Estou…” E a resposta: “Olá… boa tarde… estou somente a telefonar-te para te piscar o olho!”. No retorno uma gargalhada aberta.

Quando se haviam separado em tempo de férias ele havia lhe dito: “Telefono-te de vez em quando, se tal não for incómodo, nem que seja para te piscar o olho”. Mais gargalhadas, contentamento pelo contacto estabelecido, o contar de como as férias estão a ser desfrutadas, os concertos, os passeios, as idas à praia. “Estou castanha de tanta praia!” O perigo não seria grande pois a tez escura naturalmente ajudava a protecção solar…

Depois uma pergunta com algum sentido. “Porque me telefonaste hoje? E não ontem? E porque não amanhã?”. “Sinceramente não sei… foi um impulso de momento. Não saberei explicar o porquê”.

Muito menos saberei eu, o narrador, como antes já deixei claro.

“Sabes? Hoje é o dia do meu aniversário! Sei que não tinhas disso conhecimento. Nem sei o que pensar”. Ele ainda retorquiu sem saber bem o que dizer: “Como ambos não acreditamos em coincidências… e as coisas não acontecem por acaso…”.

“Eu sei… Por isso somente te posso responder – beijo-te muito!”

Como simples narrador desta estória, uma coisa posso garantir, do que da vida conheço, sabedoria de cabelos brancos e desgrenhados, muito mais situações destas se virão a verificar entre os dois porque têm ligados entre si os quereres e os sentires.

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Comments:
Que lindo estoria,Vicktor. Coincidencia, sintonia, bem querer,saudade de alguém ou memoria como quisermos chamar, a verdade é uma só: um simples toque, o ruido de uma voz e a felicidade.De amizade, de amores ou somente coincidencia ...
acredito em pensar forte ,desejar.
Linda semana e um forte abraço.
 
Que a amizade se consolide, que o amor nasça com a força dos quereres e dos sentires de ambos. Afinal o que seria de nós se na vida não houvesse o amar e o ser amado.

Bem-hajas, narrador de histórias polvilhadas de afectos.

Beijinhos
 
Uma história de amizade que talvez venha ou não a ser uma história de amor. Mas que é muito bonita.
Um abraço
 
Querida .Lis

Por vezes pergunto a mim próprio se sou eu que escrevo estes textos...

Também eu acredito no pensar forte...

Na realidade, eu, como narrador, não sei distinguir o sonho da realidade...

Mas quando releio este e outros textos semelhantes emociono-me.

Beijinhos.
 
Querida Isabel

O mundo avança é com os amores, nunca com os desamores...

E é maravilhoso AMAR (sim, na plenitude das suas muitas vertentes).

Beijinhos.
 
Querida Elvira

Para mim narrador é uma história de AMIZADE...

Mas que por ali se respira muito AMOR, não tenho dúvida...

Mas pergunto-me sempre: onde estará a fronteira entre o narrador e o sujeito?

Beijinho.
 
Amigo Viktor,

Que bonita história e que maravilhosa descrição do que é ter saudade ou memória de alguém.

Estes momentos podem ser inexperados e podemos mesmo não perceber o seu sentido imediato mas são os que sabem melhor porque são autênticos.

E assim se vai construindo uma amizade... Bjs
 
Querida Sara

A construção de uma amizade, a construção do amor, a construção de uma vida são as acções mais belas do ser humano.

Um sorriso de afecto é o melhor reconhecimento a quem deseja construir.

Beijinhos.
 
Olá! Mas que estória que o narrador sempre descobre, aqui e ali, pois está sempre atento ao que o envolve! Ainda dizem que não há coincidências! Muitas não serão facilmente explicadas e assim terão mais mistério e possibilitarão, a cada um por si, a sua interpretação, o que é giro e estimulante. Um abraço
 
Conta mais narrador, conta...
bjs
 
Sei bem o que é esse sentir, porque o Amor é tão vasto e pode existir até numa bela amizade, bem ao contrário do que culturalmente nos impingiram que "amor" só existe numa realção entre duas pessoas, casadas, juntas ou sei lá mais o quê.
Coincidências? existem sim senhor e acredito que todos temos um destino ao qual não podemos fugir, salpicado por momentos que tu "narrador" tão bem descreveste.

Um abraço
 
Karlitus

Os "radares" ligados isso sempre. A inspiração somente por vezes. A qualidade, é suada e difícil...

Como diz o outro: "dou o meu melhor!"

É bom que nestes modestos textos seja encontrada a possibilidade de cada um fazer a sua leitura... Sei que eu próprio daqui a uns tempos o lerei de forma diferente de como escrevi.

Um abraço.
 
Querida Lilá(s)

Tivesse este modesto narrador "engenho e arte" para contar tudo o que sente...

Continuo a transpirar para que umas palavritas saltem para o texto...

Beijinho.
 
Querida Fatyly

Agradeço muito teres tão bem clarificado o espírito da minha modesta escrita que interpretaste correctamento segundo o meu pensar.

Para mim o amor, o verdadeiro o total, tem exactamente a abrangência que referes.

Um beijinho.
 
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