Partilhar
domingo, setembro 27, 2009

lembranças de outros tempos

Sentado no muro que delimita o Miradouro dos Capuchos, o velho Marinheiro olha longamente a linha do horizonte desse mar que sente tão seu. O vento forte que sopra do mar para terra fustiga-lhe o rosto rudemente o que parece não sentir, pensamentos perdidos no tumulto do mar agitado.

À sua direita, bem longe onde a bruma sobe do mar, a Serra de Sintra parece a guardiã de sentimentos profundos que Lord Byron tão poeticamente expressou em seus escritos nascidos da tranquilidade da serra, que não das suas paixões.

Para Sul uma linha marca a plataforma que entra mar dentro até chegar ao mítico Cabo Espichel. Não tarda, que ao sol poente raiem os primeiros fachos luminosos que o farol fará chegar às embarcações, qual guia no mar tormentoso.

À memória do velho Marinheiro ocorre, enquanto cofia a alva barba, tantos anos que já lá vão, a aflição que sentiu ao ver a embarcação em que navegava, seus companheiros e ele próprio quase serem tragados pelo mar alteroso. Terá sido a Senhora dos Navegantes que a todos salvou?

Vem desses longínquos tempos o pacto de fidelidade feito com o mar que hoje sente ser seu. Vem desses tempos passados a sua capacidade de entender o mar, no seu bru-à-à constante, mas também o de ouvir a maviosa voz de mulher que lhe povoa o sentir.

“_Tu és o meu marinheiro, o meu querido marinheiro...”
“_Sinto a Lua no meu ombro, tu marinheiro que és meu Sol...”

O marinheiro sentiu frio. O vento não só lhe fustigava o rosto violentamente, como passava através da sua roupa, arrefecia-lhe o corpo, mesmo a alma... Reparou, então, que o farol, lá longe em terras da Senhora da Pedra da Mu, dourava o firmamento com o seu facho luminoso. Sentiu respiração forte e cálida junto a si mas não viu ninguém...

Lembrou-se da “velha” rica de saberes e de eterna capa posta sobre os ombros que a lenda das gentes das redondezas regista. Lembrou-se do eterno Camões que de forma única cantou as Ninfas do Tejo. Lembrou-se da Senhora dos Navegantes.

E deixou-se dormitar na noite fria...

Etiquetas:


Comments:
Que estória tão bonita e quão longe nos leva este lobo do mar...
 
Uma história de encantar. Gostei.
A velha da capa rica que deu origem ao nome da Caparica, segundo dizem as lendas.
Um abraço
 
Querida Sara

Leva-nos a um belo espaço onde a paixão e aceite como um sublime sentimento do ser humano...

Beijinhos.
 
Querida Elvira

É, realmente, neste espaço de encantamento que a velha da capa-rica deu origem a uma vila de grandes tradições históricas e culturais.

Beijinho.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?