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sábado, setembro 19, 2009

o ouro da foz do cobrão

lendas das terras visitadas
de medos e fantasias, de desejos e imaginação, criaram-se em tempos imemoriais estórias que a razão desconhece. No aconchego da lareira ou na árdua labuta diária, quantas vezes de sol a sol, foram percorrendo os saberes de gerações. O viajante andarilho recolhe e partilha as “lendas das terras visitadas” ouvidas às suas gentes.





Quando do alto dos penhascos que rodeiam a aldeia de Foz do Cobrão deixamos o nosso olhar vaguear pela magnífica paisagem de serranias sem fim, acabamos por nos fixar bem lá no fundo, onde o rio Ocreza passa apertado numa garganta formada por imponentes aflorações quartzíticas e é impossível não imaginar homens atarefados na labuta de procurarem pepitas de ouro que o rio poderá transportar.

Do imaginário popular conta-se até que nos tempos do muito longe, uns homens encontraram um carrinho cheio de ouro num poço muito fundo do rio Ocreza, num local chamado Vale Mourão. Felizes com o achado, subiram ravinas acima em direcção do povoado. A meio caminho já o cansaço era grande quando um exclamou: “Queira Deus ou não, este carrinho de ouro já é nosso!”. Palavras não eram ditas, qual castigo divino, o carrinho soltou-se e o ouro caiu ravina abaixo, indo depositar-se nas funduras de um poço do rio.

Há quem diga que ainda hoje se lá encontra, pelo que é frequente encontrarmos gente a peneirar as areias do rio na procura das doiradas pepitas. O povo conta como verdade, mas é a lenda que indica, que o tesouro deverá encontrar-se junto a uma nascente de água e para o encontrar é necessário sonhar três vezes seguidas com um mesmo local.

São os cabritos pretos que pastam livremente na penedia que indicações certas poderão dar sobre a localização do ouro que por decisão divina ao fundo de um poço do rio foi parar. Mas o pior é que se encontra uma serpente de guarda ao tesouro e a lenda alerta de que se a serpente não vir a gente devemos matá-la, mas se ela nos vir devemos fugir a toda a pressa.

Já de regresso da Foz do Cobrão passei a uma aldeia de nome Chão das Servas de onde se conta partir um túnel na direcção do tesouro, contudo, com muitas armadilhas no seu percurso. Mas que por ali há muito ouro não devemos duvidar. Quem sabe ver de uma forma especial conta que a certas horas do dia aparece uma moura (encantada?) que penteia seus cabelos com um pente feito do áureo metal.



[a aldeia de Foz do Cobrão pertence ao Concelho de Vila Velha de Ródão]

Créditos: Na elaboração deste texto, além do contacto com o lugar, utilizámos a leitura dos contos “O carrinho de ouro”, “Mina de ouro” e “A buraca da moura”, da autoria do estudioso José Carlos Duarte Moura.

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Comments:
Gosto de lendas...beijos.
 
Também já cá tinha estado a ler a lenda. Gosto de lendas, tradições e outras narrativas do antigamente
 
Fico fascinada com lendas já que todas elas têm um fundo real sobre algo que se passou.

Um magnífico texto!

Beijos
 
Amigo Vikctor,

É nas lendas e das nossas tradições que encontramos as nossas raízes pelo que obrigado por mais uma magnifica história.

Essa região é muito bonita. Lembra-me de um fim-de-semana que tive à uns anos com amigos em que fizemos o Tejo internacional em canoa, precisamente nessa zona.
Boas recordações que agora me permitiste avivar. Obrigado por isso. Bjs
 
Querida Paula

E eu muito gosto de as recolher junto de quem as conhece... e depois partilhar.

Beijinhos.
 
Querida Elvira

É algo que também me encanta.

Beijinhos.
 
Querida Fatyly

Isso é uma verdade... e curiosamente nos locais sempre se encontra alguma pista que aponta para o conteúdo da lenda.

Beijinhos.
 
Querida Sara

Que bom é poder trazer-te boas memórias...

Continuarei a procurar agradar-te.

Beijinhos.
 
Do que é capaz a imaginação das gentes simples! Esta lenda bem repuxada dava um excelente filme!
Um beijinho
 
Querida Milu

Se dava... aliás esta estória que aqui conto procura juntar ideias de três lendas da região que por objecto têm a existência de oiro na região.

E ainda hoje é atracção turística procurar pepitas de oiro nos areões do rio Ocreza, afluente do rio Tejo.

Beijinhos.
 
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