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sexta-feira, outubro 16, 2009

um papel em branco

Naquele dia, vindo das terras do longe, chegou à povoação um homem velho, tez crestada pelo sol, andrajoso, amparado a um bordão seu companheiro de longas caminhadas. Só dele se abeiravam os cães que na sua liberdade de vaguear pelas ruas pareciam reconhecê-lo. Aproximavam-se com a cauda a dar a dar de contentamento. Não lhe ladravam tampouco.

As pessoas, essas evitavam com ele cruzar-se, temendo serem importunadas por esse homem velho que tinha todo o aspecto de ter realizado longa caminhada, embora não fizesse qualquer gesto que indicasse que procurava repousar. Antes, o seu olhar percorria o espaço que o rodeava, na procura sabe-se lá do quê.

A mulher que descia a rua pelo mesmo passeio e que não se desviou do velho homem ficou surpreendida, ao cruzar-se com ele, com o brilho do seu olhar e com o odor a jasmineiros que de sua figura suja e andrajosa emanava. A mulher sentiu-se, por momentos, estonteada e teve que procurar apoio na parede mais próxima.

No boteco da esquina o velho entrou e tomou uma cerveja, bebida mesmo pela garrafa. Pagou com uma moeda que foi buscar lá bem no fundo do bolso das calças e junto com a qual vinha um pedaço de papel. Estendeu-o ao empregado do boteco, dizendo-lhe:

“_Algum dia uma bela mulher entrará aqui com as lágrimas nos olhos. Entregue-lhe este pedaço de papel.”

Logo que o velho homem saiu do boteco, o empregado, roído de curiosidade, desdobrou o papel para poder ler o que lá estaria escrito. Grande decepção. O pedaço de papel estava completamente em branco. Contudo, seguindo as indicações do velho homem, guardou-o.

....................

Quando um dia entregar o mesmo pedaço de papel a uma bela mulher que entre no boteco com as lágrimas nos olhos, ela poderá ler:

“Caminha! Ultrapassa vales e montes, mares e continentes... Vais sentir dificuldades, escolhos, traições... Com a tua força interior continua a caminhar que encontrarás a merecida tranquilidade... o bem-estar”.

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Comments:
Amei a história dese velho.Sempre me enterneço com eles. E uma folha de papel, em branco pode dizer muito,como no conto.
Boa ideia.
Abraços
 
Querida Lis

São estórias de vidas virtuais "vividas" em terras do Recife, no teu adorado Brasil.

Beijinhos.
 
Este conto bateu fundo...e mal vejo as teclas. Desculpa tá? lindissimo e comovente...mas não menos real!

Beijos sinceros
 
Linda esta história!
 
Querida Fatyly

Na verdade quando revejo a sua leitura também a mim me emociona... e fico sempre com a sensação, sensação aliás recorrente, de que não foi por mim escrito.

Beijinhos.
 
Querida Sara

Sinto que tem muito de verdade...

Beijinhos.
 
Vim desde lá de cima pondo a leitura em dia. Lindos os cartões como sempre. As margens do Douro que bem conheço, as máscaras de cartão e cortiça iguais às que meu pai sempre fazia para se mascarar no Carnaval.
E agora esta história maravilhosa deste velho sábio.
Um abraço e vou continuar a leitura
 
Querida Elvira

Muito grato pela tua dedicação à Oficina das Ideias. É sempre incentivo grande a continuarmos esta partilha de saberes que o nosso Povo ainda mantém.

Beijinhos.
 
Victor amigo,
Há muito não venho ler-te.. e hoje após me deliciar com tantas imagens lindas deste meu fotografo preferido, chego aqui nesta leitura.. Então fui ler o meu "sonho ou realidade"
Boas lembraças... também um estímulo à poesia , à vida, aos mistérios da vida e à arte de escrever!
beijos
 
Doce Lualil

São mesmo lembranças que permanecem no nosso sentir.

Ainda um dia preencheremos muitas folhas de papel em branco...

Beijinhos.
 
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