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quinta-feira, novembro 19, 2009

o outono

Outono do amor outono das aves
E de vozes caladas e de folhas
Molhadas de temor e surdo pranto

[Gastão Cruz, Poemas Reunidos]



O Outono bateu à nossa porta envergonhado por vir ensombrar o Verão que estava na hora de partir. É sempre assim todos os anos, mantém-se hesitante pelo menos até aos festejos de São Martinho. Depois desse tempo “de ir à adega e provar o vinho”, isso sim, começa afoitamente a preparar o caminho e, especialmente, o sentir das gentes para os tempos de invernia.

O Outono é do agrado dos amantes, pela suavidade que consigo traz, o convite ao recolhimento às carícias aos afagos. São tempos de maturação, depois de terminadas as colheitas. É tempo do mosto fervilhar e das grandes transformações, feitas com a tranquilidade do saber.

As avezitas voam mais baixo, sentem a força e atracção telúrica. Mas são voos de desassossego, de azáfama na procura de espaço de protecção e de abrigo. Outras tomam rumos do longe seguindo registos do seu código genético que as leva ao encontro de condições climatéricas adequadas à sua condição.

Daqui a pouco, as vozes alegres e expansivas que vibraram nos tempos de estio vão dar lugar aos murmúrios à volta da lareira, no recolhimento dos sentimentos, na preparação para o Inverno com os receios que desde eras imemoriais foram passando de geração em geração. As noites longas e escuras como breu sonham mundos fantásticos que o madrugar virá desvanecer nas mentes das pessoas.

Outono dos “amarelos e castanhos e dos vermelhões” como uma querida amiga tão bem o coloriu é tempo de afectos...

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Comments:
De afectos. É isso.
 
Que texto bonito, de novo, Vicktor.
Pelo que tenho percebido nessa minhas convivencias com os portugueses o outono daí vem bem diferente do nosso, que é ameno, com pouco frio, nevoeiro e solsinho fraco pela manhã.
Aí, como diz até as "avezitas"se recolhem a procura de um canto mais seguro. E como dizes também, é o tempo dos afetos, a beira da lareira, dos melhores abraços e aconchegos.
Te mando afetos.
 
Querida Paula

É tempo de fazermos valer os afectos sobre o egoísmo que a sociedade nos tenta obrigar a ter.

Beijinhos.
 
Querida Lis

É como dizes... as estações do ano ainda vão estando bem marcadas... mas as alterações climatéricas tendem a modificar o estado de coisas...

Sobra a tradição... sobram os afectos...

Beijinhos.
 
O Outono não tem de ser necessáriamente uma estação triste e fria. Pode bem ser o aconchego que tanto necessitamos. Bjs
 
Querida Sara

Outona aconchegado nos afectos do sentir.

Beijinhos.
 
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