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terça-feira, janeiro 19, 2010

os corvídios do pinhal e da praia

Dois vultos negros contrastam com o azul celeste da aurora, num voo suave ritmado com destino certo. Asas longas bem desenhadas com recortes característicos nas extremidades contrapõem-se aos corpos esguios elegantes.

Ontem, vindos das matas do Pinhal do Rei e da Mata dos Medos, tinham como destino uma zona de denso arvoredo, logo ali à beira dos areeiros do Cruzeiro.

Ontem eram um par, um casal de família constituída. Hoje voaram em trio até às doiradas areias do Grande Areal, como acontece as mais das vezes, e cujo sentido encontrei numa deliciosa crónica da autoria de Affonso Romano de Sant’Anna, no seu livro A Mulher Madura.




Entre os corvos acontece uma relação triangular, pois quando se verifica a carência de macho, as fêmeas ritualizam entre si o acto do amor, cortejando-se e seduzindo-se mutuamente até que uma das fêmeas passa a exercer o papel masculino. Fruto desse amor a outra fêmea choca os ovos, que por serem estéreis não resultam. Mas o romance não termina aí. Quando surge o macho, mesmo que atrasado, e começa a namorar uma das fêmeas já em estado de acasalamento “homossexual”, não conseguirá desligar as duas amadas. Terá que compor com elas um “menage à trois”, tendo que cuidar das duas ninhadas.

O macho voou agora até ao ponto mais alto de um casebre destinado aos aprestos das artes da pesca, em pleno areal. Voo sem hesitação e ao pousar lançou um primeiro som forte, estridente, metálico. Este som, um chamamento matinal, serve para dar indicação às fêmeas de onde se encontra. A sua posição sobranceira ao mar garante-lhe uma visão ampla e plena para toda a região.

Sinal de que a Primavera está perto, altura em que voarão sobre o verde pinhal em trabalho de nidificação, responsabilidade dobrada para o macho. Não resisto a uma saudação de amizade a estes amigos de uma vida. Voltem sempre que adoro observar o vosso voo.



Nota: pela mão da minha gentil amiga Cathy, do Bailar das Letras (ex-Despenseiros da Palavra), o livro de Affonso Sant’Anna veio enriquecer a biblioteca da Oficina das Ideias.

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Comments:
Desconhecia e gostei imenso de ler já que por estas zona abundam imensos.

Parabéns pelo post.

Um abraço
 
Querida Fatyly

Procura observar a sua vivência... vais encontrar o que descrevo.

Beijinhos.
 
Lindo este teu "olho de Lince" no alegre observar da natureza. Bjs
 
Querida Sara

Esta é uma estória dos mistérios profundos da Natureza.

Beijinhos.
 
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