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sábado, fevereiro 27, 2010

elmano sadino

A partir do último trimestre do ano de 2003, publicou a Oficina das Ideias um conjunto de textos, singela homenagem ao enorme poeta Bocage, Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, que tiveram um agradável acolhimento junto da comunidade universitária de S. Paulo, no Brasil, especialmente no curso de Literatura Portuguesa.

Ficou sempre no nosso espírito poder melhorar o trabalho então realizado como forma de agradecer tão interessante acolhimento. O tempo foi passando e julgamos poder agora abalançarmo-nos nessa “epopeia”.

Deixamos aqui uma breve e singela introdução ao muito que o poeta Barbosa du Bocage nos legou e a promessa de voltarmos ao tema todos os sábados.




Anedotas de Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage é conhecido pelo seu vasto anedotário. Curiosamente, a maioria das anedotas atribuídas a Bocage não são da sua autoria, recorrendo, isso sim, à sua atribulada e rocambolesca vivência para urdir os temas das anedotas.

Aliás, na minha meninice circulava aqui em Portugal um pequeno livro, “As anedotas de Bocage” que mais não era do que uma compilação de anedotas sem autor, como o são a maioria, mas estas atribuídas indevidamente a Bocage.


Sonetos de Bocage

Bocage foi um poeta de excepção, destacando-se na sua obra os sonetos, com ou sem mote. Bocage deixa transparecer as suas vivências, o seu sofrer e o desprezo a que é votado pela sua eterna amada.

Com origem em famílias altamente colocadas na sociedade, optou por uma vida desregrada e boémia que acabou por o conduzir à prisão.

Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;

O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;

Inda assim não maldiz a iníqua Sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.



Erótico Bocage

O seu olhar crítico para com a sociedade de finais do século XVIII e dos primórdios do século XIX, repartida que foi a sua vida por Portugal e pelas Índias, espelha-se perfeitamente nas suas “Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas”.

É de um profundo erotismo a epistologia entre Olinda e Alzira, onde estas duas amigas trocam as mais íntimas confidências. Alzira a experiente mulher embalada pelas palavras inocentes (?) da Olinda.


A temerosa Olinda é quem me escreve?
É este o seu pudor, sua inocência?
Ah! Que as minhas lições tão bem aceitas,
Dão-me a ver que a discípula inexperta
Há de em breve ensinar a própria mestra.

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Comments:
Foi sempre o meu poeta de eleição e mesmo no tempo da ditadura conseguimos ler alguns sonetos eróticos obtidos por alguns colegas que já não me recordo como:)
 
Uma bonita homenagem a um grande pensador.

Já em tempos comentei um post que fizeste sobre o Bocage que, no meu entender era um grande poeta.

Era um boémio, um provocador mas uma pessoa muito conhecedora do ser humano e de uma grande sensibilidade.

Deixo aqui um poema que ele própro escreveu sobre os seus próprios versos e que só prova o quanto de interessante tinha este homem.

O autor aos seus versos

Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura, Urdidos pela mão da Desventura, Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz e tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco, Que não pode cantar com melodia Um peito de gemer cansado e rouco.

Bjs
 
Querida Fatyly

Que os clássicos poetas me perdoem mas, para mim Bocage é "o Poeta".

Os poemas erótricos de Bocage, mesmo aqueles em que ele utiliza a linguagem praticada no "botequim das Parras" são sublimes.

Um beijinho.
 
Querida Sara

Grato por esta tua bonita contribuição...

Na realidade o Bocage merece muito mais do que este meu simples t pelo que semanalmente vou reenditar um trabalho que sobre ele fiz em 2003 (revisto e aumentado).

Um beijinho grande.
 
Bonita homenagem ao teu homónimo, ele merece.
Bjs
 
Querida Lilá(s)

Quem me dera que ele "baixasse" sobre mim e me inspirasse...

Beijinhos.
 
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