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sexta-feira, abril 09, 2010

bocage no degredo

elmano sadino
Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas



Com a Revolução Francesa à vista compreende-se que uma coisa eram os espíritos de eleição, como Bocage, e outra, os interesses do poder do estado. Pina Manique tinha que defender o regime o os ideais à volta da fé vigente. Bocage, por seu lado, muito embora tenha dedicado alguma da sua inspiração a temas religiosos, como a Ode à Imaculada Conceição, colocava-se, as mais das vezes, do lado do Povo desfavorecido, vociferando contra o clero.

Quando um frade escalabitano protestou contra um barrista que feirava bonecos de barro representando os da sua classe com corpos anafados, amplas panças e cordões cingidos, logo Bocage saiu à liça com um soneto de improviso pondo-se do lado do barrista e contra os frades.

Em Lisboa os seus detractores atribuíram-lhe a autoria da tragédia Vestal d’Anchet que era dada como de um anónimo na representação no Teatro Morgado de Assentis. Com ou sem razão foram-se acumulando suspeitas sobre Bocage.


Retrato de Bocage, Gravura de Fontes G. (1812)


Pina Manique deu, então, ordem para os seus polícias fazerem uma devassa à vida de Bocage, considerando ser desbragado de costumes e, além do mais, ser avesso às obrigações da religião.

Apanharam Bocage, quando este, a bordo da corveta Aviso, se preparava para zarpar para a Bahia Meteram-no no Limoeiro, uma prisão que era à época uma autêntica enxovia.

Voa a Lília gentil meu pensamento
Nas asas de esperanças sequiosas;
Amor, à frente de ilusões ditosas,
O chama, e lhe acelera o movimento.

Ígneo desejo audaz que em mim sustento
Mancha o puro candor das mãos mimosas,
Os olhos cor dos céus, a tez de rosas,
E o mais, onde a ventura é um momento

Eis que pesada voz terrível grito
Soa em minha alma, o coração me oprime
E austero me recorda a lei e o rito.

Devo abafar-te, amor, paixão sublime?
Ah! Se amar como eu a amo é um delito,
Lília formosa aformoseia o crime.

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Comments:
Querido Vicktor
Gostei muito deste post, que me fez lembrar que tenho um "esboço" de post sobre Bocage.
Comecei a prepará-lo há talvez dois anos, ou pouco menos, mas nem sei porquê ficou em "standby" até hoje.
Recolhi bastantes elementos porque é um tema que requer bastante consulta (nós não sabemos tudo, não é mesmo?:) )mas lá está, parado.
Um dia há-de vir à luz do dia...:)

Beijinhos
 
Gostei imenso de reler um pouco da história deste grande poeta:)

Beijos
 
Querida Mariazita

Escrever sobre Bocage é empresa difícil... quando a vida tantas vezes se confunde com a obra...

Mas é um desafio aliciante... concordo que muita pesquisa tem que ser feita... mas é muito bom.

Beijinhos.
 
Querida Fatyly

Semana a semana vou tentando colocar em confronto a vida e a obra de Bocage...

Fico contente por te ter agradado.

Beijinhos.
 
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