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sexta-feira, maio 07, 2010

comunicar livremente

É tema recorrente. Sempre que uma actividade humana mobiliza muita gente, “agarra” essas pessoas a uma participação activa, a questão volta a colocar-se. Debate-se, hoje em dia, amplamente e com muita acuidade o tema “Será que o uso da blogoesfera é viciante e afasta os utilizadores de um contacto mais directo e pessoal tão necessário à vida humana?”. Neste momento é tema de meditação em mais de uma vintena de blogues somente em Portugal. E não se trata, obviamente, de uma preocupação localizada.

Desde sempre o ser humano sentiu necessidade de comunicar. E não só no âmbito do seu seio familiar ou comunitário. Logo que a imaginação, a arte e o saber o permitiu quis levar esse acto de comunicar mais longe. Recordemo-nos, a título de exemplo, o grande avanço civilizacional que representou a capacidade (depois da sua invenção) de comunicar à distância através de sinais de fumo. E estamos a recuar à pré-história dos tempos.

A evolução foi constante neste campo da vida social, como em tantos outros, avanços técnicos e sociais, a ansiedade de chegar mais longe e mais rápido, a importância da comunicação, o alargamento cada vez maior dos canais de permuta de conhecimentos e de saber. Em plena “revolução industrial” surgiu a possibilidade de comunicar a longa distância sem qualquer suporte físico, nem a dependência da linha do horizonte. Que grande salto civilizacional representou a invenção e a generalização do uso da telegrafia sem fios.

O ser humano continuava no seu caminho de ampliação da capacidade de comunicar. Comunicação de cariz bidireccional, do diálogo, da permuta e da partilha, da troca de informações e da discussão de opiniões. O ser humano no seu expoente máximo do desenvolvimento social. Este desenvolvimento não agradava, contudo, a toda a gente. Não agradava, como não agrada ainda hoje, aos governos das nações, às elites que pretendem tudo controlar, até o pensamento humano.

O que lhes agrada e defendem é a existência de cada vez mais largos canais de comunicação mas que a sua utilização seja feita num único sentido, mantendo a maioria das pessoas como simples ouvintes sem capacidade de resposta. As televisões, as rádios, os meios de comunicação escrita valorizam cada vez menos a interactividade.

Rejeito ou utilizo com cautela a comunicação em que me “obrigam” a funcionar exclusivamente como receptor, especialmente quando detecto intenções de intoxicação, o que acontece amiúde nos debates televisivos, nos discursos dos políticos, nas conferências de imprensa. Não quero com isto dizer que numa comunicação dialogante não aprenda mais com o que oiço do que com o que digo, mas não invalida que não aceite ser forçado a ouvir quem nada tem para partilhar, antes pretende impor a sua “verdade” como dogma, logo, sem discussão.

Como há dias dizia um popular entrevistado por uma cadeia de televisão “eles falam muito mas nós não percebemos nada”. E quando o Povo não entende não sou eu suficientemente iluminado para aceitar ouvir.

O grande êxito dos meios de comunicação livres e populares, como é o caso da blogoesfera, como já foi nos anos 80 e 90 do século passado a Banda do Cidadão (comunicações rádio), é precisamente a capacidade que nos dão de formularmos a nossa opinião, de discutir as formas de pensar, de enriquecer, construindo, o nosso saber.

Não admira, pois, que este facto nos afaste da intoxicação permanente veiculada pelas televisões, que os sistemas no poder conseguiram transformar no local de reunião das famílias, antes durante e depois das refeições, onde a conversa e o diálogo estão afastados, “cala-te... deixa ouvir o que estão a dizer na tv!). Privilegiamos durante algum tempo da nossa vida este espaço de diálogo que não tem, forçosamente, de continuar permanentemente virtual.

É evidente que os psicólogos “de serviço aos poderes instituídos” já levantam a questão dos malefícios que este tipo de ocupação de tempos livres tem para a evolução social. Já o mesmo aconteceu com a Banda do Cidadão. Já o mesmo aconteceu nos tempos de ditadura “é proibido o ajuntamento de mais de três pessoas...”, acontecerá sempre em relação à necessidade e ao querer de utilização dos canais de comunicação cada vez mais tecnicamente evoluídos de uma forma livre e popular.

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Comments:
"Será que o uso da blogoesfera é viciante e afasta os utilizadores de um contacto mais directo e pessoal tão necessário à vida humana?”.
......................
Já ando por aqui há anos e nunca deixei de contactar com pessoas ou seja faço da internet um espaço de leitura com a vantagem de poder dizer ao autor que gostei ou não, o que não acontece com as televisões (como referes e bem), com os livros, com os jornais em papel!

Segundo, não troco a minha vida privada e familiar por este mundo de cabos!

Há que comunicar LIVREMENTE e nas mil formas que existe.

Parabéns pelo texto que subscrevo**
 
Querida Fatyly

Há que utilizar todos os meios disponíveis de comunicação, sem dúvida.

Comunicar é algo fundamental para a vida humana e para o desenvolvimento social...

Por isso... embora tecnologicamente sejam cada vez maiores e melhores os meios de comunicação o poder procura encontrar formas de incomunicabilidade entre as gentes...

Beijinhos.
 
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