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domingo, junho 24, 2007

beirões do nosso burgo

O pessoal da Oficina das Ideias conviveu na noite de São João com os aldeões da Aldeia Lar, numa sensacional Noite Beirã. Num ambiente fraterno ímpar viveram-se momentos únicos de convívio e de amizade. À Direcção da Cooperativa Aldeia Lar e aos beirões e beiroas que tão empenhadamente organizaram o evento o nosso MUITO OBRIGADO. Aos nossos queridos amigos Lila e Victor que nos “levaram pela mão”... SEM PALAVRAS!!!!

Como homenagem às gentes das Beiras que tanto têm feito pela região da Península de Setúbal aqui fica uma modesta homenagem:


Os beirões do nosso burgo

A Península de Setúbal, a Margem-Sul como hoje é costume dizer, foi sempre terra de convergências. Da mesma forma, e não com menos intensidade, espaço de ampla difusão.

A zona em que vivemos, hoje com uma divisão administrativa muito diversa da de outros tempos, foi sempre uma grande atracção para as gentes que na procura de melhores bem-estar e condições de vida do que nas suas terras de origem, por cá se fixaram. Mas as razões não são somente essas – verifica-se, na realidade, uma forte atracção telúrica.

Quando hoje afirmamos, ou ouvimos dizer amiúde nas ruas, “a Costa está cheia de brasileiros e de ucranianos” não é nada de novo numa visão temporal mais alargada.

Também os romanos, e mesmo os visigodos e alguns povos do norte da Europa atlântica, que vinham à conquista da região que tinha como referência Lisboa, Olissipo urbe, já então uma importante urbe da Ibéria, acabaram por ser atraídos, atracção no seu verdadeiro sentir, pelas terras desta banda.

Na procura do pescado do Grande Areal ou mesmo dos filões auríferos, Adiça lhe chamaram, deixaram por cá importantes marcas e referências.

Mas falemos dos beirões...

Nos meses de Julho, Agosto e Setembro e por vezes até meados de Outubro, por volta dos anos 70 do século XVIII, na opinião de Manuel d’Agro Ferreira, aparecem a pescar no Grande Areal, depois designado Costa de Caparica e, poeticamente, Praia do Sol, pescadores vindos do Sudoeste Alentejano, a sul, e da Beira Litoral, a norte que aqui vinham fazer as suas safras.

Uma vez mais a convergência...

Fazendo a safra de Verão, em tempos de invernia o mar da Costa era muito violento para as embarcações “barcos de duna” que usavam, “mar macho” no dizer dos homens do mar, acomodavam-se em palhotas de colmo que construíam à chegada e a que lançavam fogo ao partir, foram pouco a pouco fixando-se, criando um povo onde antes não existia mais do que mar, um grande areal de traçado dunar e grandes extensões de pântanos e de juncais.

Os pescadores vindos da Beira Litoral e, mais tarde, as famílias completas foram-se fixando no lado sul do Grande Areal, podemos considerar que a actual Rua dos Pescadores seria a fronteira imaginária e depois física entre os pescadores do sul e da Beira Litoral.

Também do interior beirão gentes convergiam para esta região na procura de trabalho e de melhores condições de vida. Vinham, principalmente, da zona de Arganil. Somente nessas procuras ou também em resultado da já citada atracção telúrica?

Eram homens fortes que vinham de suas terras com uma pequena sacola de pertences às costas presa num bordão e descalços e, como contam ainda hoje os mais velhos, se reuniam aos domingos de manhã no largo da Igreja do Monte, no “mercado da jorna”, onde os grandes proprietários, senhores das quintas ou seus mandantes, iam na procura de contratar mão-de-obra à jorna, para os trabalhos sazonais, em especial, nos grandes vinhedos que à época existiam na região. Eram tempos da cava, do plantio e da colheita.

Na feira franca que se realizava no mesmo local compravam umas socas e uma foice, que passaria a ser o seu instrumento de trabalho. Aproveitavam as latas da banha vazias como panela para cozer batatas, muitas vezes o seu único alimento.

No Inverno pernoitavam muitos deles junto ao forno da padaria do Monte, por benesse do respectivo dono. Vida dura a destes homens.

Estes homens vindos do interior beirão eram designados por “caramelos” e dispersaram a sua actividade um pouco por todo o território da Península de Setúbal, com forte implantação na zonas de Pinhal Novo e de Palmela.

Estes “caramelos de vir-e-ir”, devido à sazonalidade das suas estadias em terras da Península de Setúbal, vieram a transformar-se em “caramelos de ficar”, quando José Maria dos Santos e outros proprietários criaram um sistema de foros, permitindo a fixação de muitos desses migrantes, primeiro com o pagamento de uma renda (rendeiros), depois com a dádiva das terras (proprietários).

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Comments:
Mas que beleza!
Aproveito para deixar-lhe um grande beijo e desejos de ótima semana.
 
...mas afinal quem faz 'o ambiente' são os presentes ....e tantos eles eram.
è de facto um 'modus operandi muito nosso' , os Aldeões.
Genuíno, bem cooperado, bem vivido, e bem 'acompanhado' por convidados que serão( e foram)sempre bem recebidos pela prata da casa.
 
Também costumamos acender fogueira de Junho...aqui no sul, para São Pedro, padroeiro do Rio Grande do Sul...um abraço...
 
Querida Luisa Margarida
Obrigado pelo teu carinho.
Beijinhos.
 
Amigo Victor
Foi noite de encantamento, mesmo!!!
Um abraço.
 
Querida Gata
A fogueira vem do fundo dos tempos... bom mote para fazermos uma pesquiza.
Beijinhos.
 
Eu não sou Beirão, mas sou um dos ALDEÕES !!!
Obrigado pelo seu completo e muito bem apresentado texto sobre os Valorosos Beirões e Beiroas da nossa Terra Lusitana.
Apreciei bastante!!!
Será sempre Bem-Vindo à Aldeia-Lar e se estiver em forma, convido-o desde já em nome do meu cunhado que o "levou pela mão", a dar o seu contributo atlético no nosso próximo evento das 12 Horas de Molho no dia 14 de Julho próximo.
No final, para se retemperarem as forças, será servido a todo o pessoal pela noite dentro, um copo de vinho e sardinha no pão, apesar de já não ser S. João...
 
Amigo Pedro
Obrigado pelo comentário amigo. Procuro todas as justificações para ir pesquizando um pouco sobre esta terra que eu amo.
Muito obrigado, igualmente, pelo convite. Tudo farei para estar presente, especialmente, pelo excelente ambiente a Aldeia e pela grande amizade dos aldeões.
Um abraço.
 
Já está inscrito !!!
Quem não souber nadar, terá de ir 5 minutos mais cedo do que a hora de início do respectivo período de de molho de 10 minutos que vier a ser determinado, para receber "In Loco", um curso teórico intensivo de Natação sem Mestre...
Contamos também consigo e com a sua esposa Teresa, para o " Retemperador Festim Gastronómico" que se seguirá pela noite dentro.
No final, serão distribuídos alguns DIPLOMAS !!!
Contamos Convosco !!!
 
Amigo Pedro
Grato pela sua amizade e pelo interesse mostrado na nossa presença nas "12 horas de molho". Tudo faremos para corresponder ao seu afecto.
Um abraço.
 
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