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terça-feira, fevereiro 05, 2008

não sou carnavalesco, mas...

Na realidade nunca fui um carnavalesco. Na minha meninice os corsos de Carnaval não tinham a grandiosidade que hoje têm, nem sequer tinham o cariz mercantilista da actualidade. Eram fruto da carolice e empenho de muita gente no desejo de manterem a tradição.

As distâncias mais difíceis de vencer à época faziam com que uma ida ao Corso do Carnaval de Torres Vedras mais parecesse uma aventura de vida. Quilómetros a vencer nas dificuldades do aquecimento do motor da “velhinha” Anglia, um farnel em geral de “arroz de coelho” que se mantinha quente por acção dos jornais com que se envolvia o tacho para garantir a refeição, e lá íamos.

Quando os anos avançaram e as coisas da tradição me começaram a interessa, também o tema Carnaval mereceu as minhas leituras, o meu interesse, a conversa com quem mais do que eu sabia.

Os folguedos de Carnaval muito têm de pagão, aliás como a sua própria génese, mas como acontece em tantas outras situações abraçadas pelo Povo, também o Cristianismo recuperou esta tradição para o calendário religioso.

Muitos autores encontram a origem do Carnaval em festividades da Roma Antiga (Saturnália?), enquanto outros vão mais além afirmando que já se festejava em homenagem à deusa Ísis ou ao deus Osíris no Antigo Egipto. O que não há dúvida é que ainda está ligado à exuberância do Povo quando se avizinhavam tempos de recolhimento devido às intempéries.

O Cristianismo quis dar-lhe um cunho religioso, tendo muita dificuldade em vergar a vontade do Povo de que se tratava de época de folguedos, de comezainas, até de uma certa libertinagem. Mesmo assim, na reformulação do calendário cristão no ano de 1091, lá encontraram forma de o colocar entre o Dia de Reis (Epifania) e a Quarta-feira de Cinzas (vésperas da Quaresma), uma espécie de último momento de alegria e festejos profanos antes do período de recolhimento da Quaresma.

Os dias eclesiásticos são calculados em função da data da Páscoa, o primeiro domingo que ocorre após a primeira Lua Cheia que se verifica após o dia 21 de Março de cada ano. Assim, o Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.

Ainda tenho na minha memórias os “chachas” e as “cegadas” que percorriam as ruas e jardins da Amadora, onde vivi a minha meninice e juventude, e que medo eu tinha dessas funções. Normalmente, os homens e mulheres trocavam os trajares nesses dias e escondiam o seu rosto com caraças, qual delas a mais terrível. Um dia, em defesa da segurança nacional, a Ditadura proibiu o uso de qualquer artefacto que escondesse os rostos e perdeu-se o encanto.

Eram, então, frequentes nessa época de folia os “assaltos”. Um telefonema avisava misericordiosamente a dona da casa que iria haver um assalto. Passado pouco tempo, era a invasão de mascarados. A dona da casa já estava “avisada” e tinha uma reserva de fritos que eram reis nestes acontecimentos: filhós, borrachos e azevias. As bebidas levavam os “assaltantes”.

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Comments:
E vão dois. Para mim o carnaval diz-me aquilo que muitos gostavam de ser durante toda a vida. Muitos daqueles que se intitulam foliões não passam duns cinzentões e se calhar acobardam-se quando for necessário expôr as suas razões. Um abraço João
 
Amigo João
Por isso se usam máscaras no Carnaval...
Um abraço.
 
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