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domingo, julho 06, 2008

góis, capital do rio ceira

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta de viajar na procura das estórias que o Povo conta.

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Na margem direita do rio Ceira, no termo da vila de Góis, existe um espaço acolhedor e aprazível que as gentes da terra e os forasteiros sonharam ser lugar de convívio e de merendar, um excelente ponto de partida para uma caminhada que nos levará até à zona histórica de génese medieval. Chamam-lhe o Parque do Cerejal, bonito nome para tão agradável local.


Antes porém, a chama bruxuleante dos assadores de carvão, o rodar lento do espeto onde duas ou três pernas de porco vão ganhando a cor que anuncia uma saborosa degustação e os odores que impregnam o espaço envolvente, é prenúncio de que os estômagos serão devidamente aconchegados antes da caminhada se iniciar.


As margens do rio Ceira ladeadas por salgueiros, choupos e amieiros que parecem querer chegar ao céu no seu desenvolvimento vertical são de uma frescura ímpar, convidando ao passeio e à tranquila conversa. Pelo caminho cruzamo-nos com diversas capelas e alminhas facto que não deixa qualquer dúvida de que estes percursos foram caminhados vezes sem conta, na grande estrada que ligava o sul de Portugal a terras de Compostela, numa das principais rotas do Caminho de Santiago.


De súbito, somos surpreendidos pela visão de uma ponte de arcos românicos que alguns passos mais à frente se mostra em todo o seu esplendor. A “Ponte Real” mandada construir pelos reis D. Manuel I e D. João III ( uns estudiosos chamam-lhe “ponte manuelina”, outros designam-na como “ponte joanina”) no século XVI, cerca de 1533, atravessa o rio Ceira ligando terras de laranjal numa das margens a uma zona de serra, passado o vale do rio, onde se destaca a capela votiva ao Mártir S. Sebastião, de traçado hexagonal, contrastando a sua brancura com o verde da arborização serrana.


Uma bem cuidada esplanada é espaço de lazer, diria mesmo em muitos casos “de sesta”, e para gáudio da miudagem espaço de refrescantes mergulhos no caudal do rio Ceira, num constante vaivém entre o açude, a praia da ilha e as margens do rio. Seguimos pela rua dos Figueirais, tantas são as vias que tomam nomes de flores e frutos, e subimos até ao largo da Igreja Matriz, votiva de Santa Maria Maior, constituída por capela e torre sineira separadas em arrojado conjunto arquitectónico. Gerir os conflitos locais entre o padre, a comissão fabriqueira e a “senhora que sempre tem uma chave da igreja” é garantir que a visita ao seu interior se realiza.


A Dona Suzana foi prestimosa em conseguir a chave para visitarmos o interior da igreja, cuja construção corresponde a diferentes momentos, nomeadamente nos séculos XV, XVI e XIX. É composta por nave central, capela-mor e duas capelas laterais, do lado do Evangelho a Capela de S. José e do lado da Epístola a Capela das Almas, sacristia e antiga sacristia. No interior destaca-se, entre outras obras de arte, o imponente túmulo de D. Luís da Silveira, com a curiosidade da sua figura ter sido esculpida na posição de genuflexão e não deitada como é da tradição arquitectónica tumular.


Soberba vista se tem desde o largo fronteiro à Igreja Matriz. Quase em frente, um pouco para a direita, por entre o denso arvoredo podemos apreciar a Capela do Castelo, como é conhecida a Ermida de Nossa Senhora da Assunção construída no século XVI, ao estilo manuelino, por vontade de D. Luís da Silveira, 17º Senhor de Góis e 1º Conde de Sortelha. Se olharmos para a esquerda temos uma visão perfeita de uma imensa massa rochosa, designada Pena de Góis.



A zona histórica de Góis é constituída por muitos pormenores de origem medieva que nos encantam e absorvem. Uma referência ao que no nosso modesto entender se poderia considerar o ex-libris da “capital do rio Ceira”: a Cisterna do Pombal. De planta quadrangular simples, com cobertura piramidal, apresenta uma abertura neste momento protegida com uma porta de vidro. No interior, as paredes estão revestidas na sua totalidade com azulejos hispano-árabes de aresta, possivelmente com origem numa fábrica de Sevilha, policromos e de padrões geométricos formando uma rosácea. Com alguma “arte” poder-se-á afastar a porta de vidro para uma melhor observação destes belos azulejos.

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Comments:
E quantos banhos já aí tomei!
Águas frias, muito frias, até de Verão.

Tenho uma casa bem perto, de pedra, lareira de fumeiro... tempos parados.

E por aíi a bela chanfana no caçoilo negro do barro.

Parece que os nossos caminhos cada vez mais se entrelaçam.

Um beijo meu Querido Victor.
 
Querida Gasolina
De tanto nos cruzarmos nos caminhos da vida, dizes bem, já nos entrelaçamos...
É muito curioso o que nos acontece. Teremos, contudo, capacidade de nos surpreendermos mutuamente quando um dia nos encontrarmos fisicamente.
Beijinhos.
 
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