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domingo, julho 20, 2008

um belo cântico de amor

Ao longe, até ao alcance da vista, lugar de mistério e de magia onde o céu azul parece mergulhar nas águas do oceano, começa a levantar no vagar do tempo de ilusão que a distância provoca uma cortina de densa neblina em tons de cinza e de sépia que torna o ambiente ameaçador de tormentos que no mar sempre são mais sentidos.

Ontem ao pôr-do-sol, tempo mítico em que “os caranguejos devoram o disco solar”, no dizer popular dos homens do mar, nada fazia prever na transparência do horizonte avermelhado a prometer bom tempo no dia seguinte que o alvorecer de agora fosse tão soturno, de cinza triste, prenúncio de maus acontecimentos que somente o muito querer dos seres humanos poderá o sentido alterar.

O velho marinheiros de cãs desgrenhadas e rebeldes, lobo do mar e pescador, aventureiro sem porto certo, senhor dos faróis como já lhe chamou quem sentiu algures do tempo que passa a necessidade de utilizar a sua luz para lhe iluminar o trilho da vida, caminhos de amores e de desamores, ficou estático perante a prometida violência dos desígnios da Natureza, não dando sequer conta da frieza que lhe trespassava a roupa e de mansinho lhe penetrava o corpo.

Viu as artes saírem ao mar, loucura pensou para si, e no afastamento da beira-mar fazerem os lanços das redes emalhadas ainda há pouco, com malhas tecidas na expectativa de boa pescaria. Sentiu, então, o agreste caminhar do violento temporal que velocidade ganhava conforme se deslocava para terra. Pensou uma vez mais na ousadia que fora os pescadores fazerem-se ao mar que se mostrava, cada vez mais, agitado e ameaçador.

Seus pensamentos vogaram paragens longínquas na procura da cor que matizasse o cinzento quase breu que o envolvia e sobre si parecia abater-se. Sabia, contudo, que teria a espera como companheira até à sétima onda do mar que enrolava no areal. Com ela viria a bonança o arco-íris o pote de ouro a magia das cores a pesca farta e os seus companheiros das artes. Como em tempos ancestrais eles contariam como uma bela mulher de cânticos doces e olhar atrevido havia surgido do seio das águas e transformado o cinzento em azul magnífico e a tempestade em fartura de peixe prateado.

Contariam aquela estória que ele tão profundamente conhecia.

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