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quinta-feira, dezembro 18, 2008

reféns de si próprios

Desde finais da década de 60 do século passado que assisti de muito perto, mesmo com envolvimento pessoal, à evolução e desenvolvimento tecnológico no âmbito da informação, do conhecimento e do saber, aquando duma verdadeira “explosão” no campo da informática.

Nessa época ainda tão próxima considerada que seja a linha do tempo, mas tão distante no sentido que a vida lhe dá, dos aspectos políticos e sociais de Portugal, da Europa e do Mundo, deu-se a importante transição entre a designada mecanografia, onde predominavam os aspectos mecânicos aplicados à teoria da informação, e a informática à época emergente nos países mais desenvolvidos, e que recorria às mais recentes inovações no campo da electrónica com destaque para os transístores e outros componentes electrónicos que tomavam dimensões cada vez mais reduzidas.

Aos computadores, “filhos” da imaginação, da inteligência e do saber dos seres humanos, eram atribuídas cada vez mais funções, embora se tratasse de funções repetitivas eram cada vez mais abrangentes, e realizavam tarefas em tempo restrito que a serem realizadas pelos homens seriam tarefas de uma vida.

Depois, embora baseados em algoritmos elaborados pelo Homem, desenvolviam funções que a este, exclusivamente, pareciam reservadas. Nos anos 70 do século passado uma equipa constituída por dois finalistas do IST e por nós próprios produziu, a partir da geração de números aleatórios um sorteio tipo “lotaria” que levava os computadores para o campo dos “jogos de sorte”.

Eram frequentes os debates públicos sobre os computadores e a informática onde muitas vezes era levantada a questão “se um dia a criatura não viria a comandar o criador”. Não só estaria em causa a liberdade do ser humano como a sua própria relação com as religiões. Na década de 70 a tecnologia da informação avançou mais do que em todo o tempo histórico anterior.

Com o advento da computação pessoal o fenómeno tornou-se muito mais significativo. E embora não mais tenha voltado à discussão “quem manda em quem”, “a revolta da criatura contra o criador”, a verdade é que na sociedade de hoje seria praticamente impossível a vivência sem os computadores, as comunicações sem fios, a Internet e o correio electrónico.

O ser humano caracteriza-se, fundamentalmente, por tecer as teias em que ele próprio se enleia e das quais ficará refém. Numa ânsia desmedida de poder enfrentou a natureza, violentando-a com tremendas agressões ecológicas donde hoje não consegue sair.

Foi o mesmo desejo de poderio que o levou à globalização financeira, que não à globalização da solidariedade, à exploração desenfreada dos bens naturais e do seu próprio semelhante, tão violentamente como nenhum outro ser vivo o faz, a ignorar o sofrimento daqueles que por cegueira, mais cego é quem não quer ver, ignora a existência.

Na realidade, o ser humano teve capacidade para não ficar refém dos computadores, fruto da sua criação, mas não teve a mesma sabedoria para se não deixar enlear mortalmente pelo sistema de globalização que criou.

Chamemo-lhe o verdadeiro nome: sistema capitalista, liberal e explorador do próprio ser humano.



Recomendamos vivamente a leitura da crónica de José Gil, na revista Visão de 18 de Dezembro de 2008, página 28, intitulada “As duas crises”

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