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domingo, janeiro 11, 2009

esta margem tão diferente

Porque o Tejo também é nosso, O Tejo tem duas margens, Quis o destino e os homens que a nossa margem esquerda do Tejo no caminho para sul não fosse industrializada, Amplas charnecas, montados de sobreiros, frondosos e verdejantes pinhais e uma orla marítima infinita de limpidez e cor sem igual, A margem esquerda do Tejo é um longo percurso para descobrir, Surpreendente a cada passo a cada virar de folha a cada subida a um morro a cada olhar na profundidade de um declive, A Mata dos Medos e o Pinhal d’El Rei, O doirado acacial e o manto muito azul deste mar tão belo, As terras e as gentes os usos e os costumes.

Almada beija com ternura o Tejo com quem desde há milhões de anos mantém uma doce cumplicidade, Aqui o contacto é mais íntimo, Almada permite que as águas se espraiem nas suas entranhas, Ali Almada torna-se altaneira mira o Tejo de cima mas vai-lhe piscando o olho em conversas que somente aos dois diz respeito, Que somente os dois entendem, A aproximação a Almada vindos de Lisboa num cacilheiro que acaricia as águas do Tejo é um momento inolvidável, Calma tranquilidade transparência apetece respirar fundo encher o peito de um ar puro que Almada oferece a quem a visita, Cacilhas Ginjal Boca do Vento O Passeio Ribeirinho Elevador Panorâmico e muito em especial gente afável e hospitaleira que de forma incomparável souberam acolher reis e princesas nos momentos em que Lisboa lhes foi agreste.

O Pátio do Prior, Do Crato teria que ser, Sobranceiro ao rio a olhar o Cristo-Rei de construção mais recente está a Casa da Cerca senhorial de João de Portugal, E caminhando para o interior depois do Pragal e do Monte onde viveu Bulhão Pato, Lembram-se dos Contos do Monte?, Vem a charneca imensa das quintas da realeza e doutros nobres menos reais que aí encontraram espaço de tranquilo estar, Caçarias e cavalhadas caminhos abertos no mato para mais tarde ser serventia de recoveiros e carreiros em montadas de muares, Por aqui também ficaram por longas temporadas os monges e os noviços em espaço de meditação, Mais perto dos seu deus que os vinha inspirar, Missionários viveram estudaram aprenderam saberes de evangelização para no Brasil irem pregar, Daqui saíram os que seriam “40 Mártires” que deu nome a quinta que era um vale rosal, E depois o mar esse eterno companheiro de quem o sabe amar.

É diferente o respirar do ar puro e o beber da água cristalina que na sua maior parte quase não careceria de tratamento, poderia ser directamente bebida da nascente, como se estivéssemos perante as águas alpinas que dos gelos eternos vêem junto das gentes para nelas se dessedentarem, E aqui mais para o interior a mancha imensa de verde colorida, a Mata dos Medos, o Pinhal do Rei, por merecimento dado o nome pelo monarca em cavalgadas de caça, mantilhas de cães a sentirem a real liberdade das loucas correrias pelos matos que acoitam a caça desejada, E as gentes laboriosas, sofredoras mas resistentes que na primeira linha souberam estar ao alvor dos sentires republicanos, Republicanos antes mesmo da Implantação da República, Lutadores pela solidariedade e igualdade entre os seres humanos.

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Comments:
Victor, penso que já terei alguma vez escrito isto no meu blog, não estou certo, mas sou um Almadense de coração. Nasci em Lisboa na maternidade, mas algumas horas passadas já morava em Almada. Foram 25 anos seguidos. Depois quis o destino (e o preço dos apartamentos) que me transferisse para o concelho do Seixal. Mas a casa que escolhi não poderia ser mais perto de Almada. Tanto o é que nas traseiras do "meu" prédio se implanta já o primeiro de Almada, nesta linha recta que tracei. Lê-lo a escrever da margem Sul como escreveu e de terras Almadenses em particular, emocionou-me. Obrigado.

(por momentos pareceu-me ler-lhe no estilo Alves Redol de outros lugares, mas do mesmo Tejo)
 
Amigo Alves Fernandes
També eu nasci na margem norte do Tejo, na então aldeia da Amadora, depois vila, mais tarde cidade. Hoje descaracterizada.
Há mais de 25 anos adoptei o concelho de Almada como "minha terra", mais propriamente Charneca de Caparica.
Desde aí têm sido tantos os envolvimentos, que conheço o território e as gentes como as minhas mãos. Conhecer é o primeiro passo para amar.
Realmente VIVO Almada intensamente...
Um abraço.
 
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