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terça-feira, maio 12, 2009

do mar

Deitara-se tarde, no tempo em que a noite já caminha afoitamente para o madrugar, cansado das andanças da vida, percorrendo veredas de cor na procura do sonho, o sonho que outros dormires lhe tirara, por esquivo mais desejado ainda.

O corpo dorido a pedir repouso disputava o seu sentir ao espírito que teimava em manter-se desperto e que num turbilhão de desencontrados pensamentos, o lançava. Encontrava-se naquele estado de vigília em que o corpo já parecia ter-se ausentado mas a alma teimava para as pálpebras não cerrarem.

No meio de tamanha tormenta que lhe trazia à memória o mar tumultuoso que tantas vezes procurara amainar, pareceu-lhe ouvir um fio de voz que murmurava nos lugares mais recônditos do seu cérebro: “meu mar… mar… ai o mar...”, uma voz maviosa, talvez mesmo, somente a musicalidade de um cântico de uma misteriosa sereia.

Sobressaltou-se, não sabendo mesmo distinguir o sonho da realidade, pois as palavras sentidas continuaram a pairar no seu ouvido, agora completamente desperto, o sono que não chegara sequer a tomar-lhe o corpo e o espírito e agora tudo a parecer-lhe mais confuso, acelerando-lhe as batidas cardíacas.

O sossego já o deixara e levara consigo o cansaço, procurou agasalhar-se que sabia estar fria a noite aclarada pelos primeiros raios da aurora e caminhou na direcção do areal onde se projectava a sua sombra dando mais mistério ao momento, verificou então quanto curvado estava seu corpo sofrido pelo tempo que passa.

Sentiu-se só, muito só no vasto areal e quando olhou para sul na direcção das minas de ouro onde as pepitas já não fulgem e mais além o barbárico promontório vislumbrou que o cacimbo matinal melhor não deixa ver uma silhueta que reconheceu por tanto a ter no pensamento.

Estugou a passada difícil de no areal caminhar mas tem a perfeita noção de que a distância se mantém, a imagem tão etérea como antes, o sentimento de quem nunca conseguirá atingir o que procura, na impossibilidade de realizar a utopia. Mas caminhou, caminhou cada vez mais depressa.

Tudo lhe pareceu irreal, mesmo os sítios por si tão conhecidos de tanto os ter calcorreado, temeu mesmo já ter perdido o sentido de orientação, quando de súbito numa mudança abrupta do cenário se viu junto ao vulto que ainda há pouco tão distante lhe parecia.

Não reconheceu aquela mulher tão bela mas teve a certeza de que tinha sido a sua maviosa voz que pronunciara as doces palavras que o haviam despertado, tão pouco ela reagiu mais do que com um leve sorriso e continuou o caminho, mas com espanto verificou, na direcção do norte, do monte da lua, esfumando-se no seu sentir.

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Comments:
:))
 
Querida MdSol
O teu sorriso é para mim um afecto. Grato pela tua vinda a esta modesta Oficina.
Beijinhos.
 
O sonho estava ali, pertinho de ti...só agarrar, não é?
É que quem sonha VIVE...acho eu
 
Querida MagyMay
Os sonhos são mesmo assim... por vezes aquela sensação de muito caminharmos, muito rapidamente, e mesmo assim não conseguirmos chegar ao ente amado....
Os sonhos...
Beijinhos.
 
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