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sexta-feira, agosto 21, 2009

a culpa continua solteira

O Brasil é um dos poucos países no Mundo que coloca uma “data de validade” nas saquetas de açúcar, aquelas que acompanham o “cafezinho” e cujo conteúdo se destina a adoçar o mesmo, para quem goste de o fazer, o que não é o nosso caso que sempre bebemos o café sem açúcar (nem adoçante).

Procurámos uma explicação para o facto, uma vez que o açúcar devidamente acondicionado tem uma duração longa e, de um modo geral, os fornecedores imprimem uma grande rotatividade de forma a garantir o efeito “publicidade” para o qual a grande maioria das saquetas é utilizada.

A razão desta prática no Brasil destina-se, fundamentalmente, a ilibar os fornecedores de qualquer problema do foro “qualidade alimentar” se o prazo impresso na saqueta já tiver sido ultrapassado. Um pequeno “gesto” no fabrico, a impressão de uma data de segurança, pode resolver importantes problemas legais.

Vem esta conversa a propósito…

Ao correr da nossa costa Atlântica, especialmente nas zonas de arriba escarpada, e em alguns areais, encontram-se colocados pequenos cartazes, muitos já deteriorados por efeito da corrosão natural, alertando para o perigo de derrocadas ou de aluimentos de terras.

Com esta atitude, as entidades oficiais responsáveis por salvaguardar o bem-estar das populações e a pela sua segurança, consideram ilibada a sua responsabilidade para qualquer acontecimento e cumprida a sua missão de serviço público.

Resolver o problema de base? Para quê se colocaram lá um cartaz de alerta? E as verbas que teriam que ser envolvidas para resolver as situações? E a dimensão da nossa costa com tantos e diversificados problemas?

A catástrofe quando existe uma possibilidade de vir a acontecer, ACONTECE MESMO. É sempre uma questão de tempo. Os políticos, os filósofos da governação, isso deveriam saber. Contudo…

Os acontecimentos recentes na Praia Maria Luísa vieram confirmar o que acima deixamos escrito, tal como o grave acidente acontecido em Entre-os-Rios há alguns anos. E tal como então aconteceu é assistir com espanto (com espanto?) ao fugir às responsabilidades, ao “empurrar” entre entidades, ao encontrar justificações bacocas… Na verdade no topo de toda essa gente de mau-porte, corrupta, irresponsável, cobarde… está o Governo da Nação.

Responsáveis? As pessoas que utilizaram aquela praia naquele momento fatídico, muitos que perderam a própria vida, outros salvos por uma nesga de fortuna… Os governantes e os seus “funcionários directos” gente paga a peso de ouro para dar cumprimento ao que a Constituição determina… garantir a segurança de um Povo… esses vão diluir as culpas na morosidade dos Tribunais, nas prescrições, nos relatórios inconsequentes…

Que gente esta que nos governa… hem?

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Comments:
Sem comentários...
 
Amigo, não posso deixar de dizer-te que foi de lágrimas nos olhos que li este texto.A dor e a revolta que sinto não têm conta, nem peso nem medida. Uma família inteira( pai, mãe e duas filhas) e outros, perderam a vida debaixo de uma arriba que ameaçava desmoronar-se.Quem é o responsável por isto? Um simples sinal de alerta é suficiente para ilibar as responsabilidades do Estado? A culpa continua a morrer solteira, sua excelência a impunidade reina e, entretanto, quatro entes da mesma família desapareceram e os restantes familiares ficarão marcados pela dor, pela tristeza, pelo desespero e não haverá apoio psicológico que atenue tão profunda dor. Até onde vai a incúria de quem tem responsabilidades pela segurança dos cidadãos! Não conheço a Praia Maria Luísa embora algarvia mas outras praias do barlavento têm arribas e espero que a partir de agora selem todas as zonas que oferecem perigo. Para evitar males maiores que este já foi bastante grande.

Beijinhos

Bem-hajas!
 
Caro Victor

Os avisos são para se respeitarem. Estão lá.
Não desligam, ou não deveriam desligar, a responsabilidade das autoridades quanto a eventuais problemas.
Mas toda a gente sabe que é perigoso frequentar praias com falésias.
As autoridades falharam? Talvez. Mas, admitindo uma falha das mesmas, foi por uma ordem com que muita gente não concordará.
Dever-se-ia ter impedido, imediatamente, o acesso à praia. Depois, e focando a atenção na Praia Maria Luisa, Albufeira, deveria ter sido analisada a possibilidade de reforçar a escarpa para minimizar, apenas minimizar, o problema que nunca deixaria de o ser.

Em parte nenhuma do Mundo existem praias com falésias cuja frequência seja permitida.
Nem mesmo às escondidas, tão ao jeito do português suave.
Porque se o fizerem são de lá afastados.

Quando tivermos que atacar algo ou alguém, façamo-lo sem participar numa espécie de campanhas todo-o-terreno.

Um abraço
 
Querida Paula

Ficamos sem palavras, na verdade, perante a súbita tentativa de desresponsabilização de quem a tem em primeiro lugar.

Beijinho.
 
Querida Isamar

Sei bem o que terás sentido, não pela modesta qualidade deste texto, mas pela situação que nele é aflorada.

Quanto às tuas considerações não poderia estar mais de acordo, cada vez mais certo de onde se encontram as responsabilidades perante as sucessivas tomadas de posição de entidades responsáveis.

Um beijinho.
 
Caro Observador

Como por vezes se costuma dizer: comecemos pelo fim...

Não entendo, ou faço por não entender onde quer chegar com o último parágrafo do seu comentário... "espécie de campanha", "atacar alguém", "todo-o-terreno"? Não é o governo da nação, este ou qualquer outro o garante executivo do cumprimento da Constituição? Não especifica a Constituição que deve ser garantidas ao Povo Português a "segurança" e o "direito à vida"?

Os "avisos" que estão colocados nas praias e no topo das arribas são "alertas" e não "proibições" e na conscuiência da existência real duma possibilidade de aluimento de terras deverá ser PROIBIDO, com a fiscalização e aplicação de coimas consequente... mas sabe? isso não interessa aos grandes empreendimentos turísticos do Algarve que pressionam nesse sentido as entidades oficiais "que se deixam" pressionar.

Temos que ser claros e não embarcar na fatalidade portuguesa "quem se lixa é o mexilhão"... é por essas e por outras que a impunidade continua a grassar no nosso País e disso ninguém tem dúvidas, creio eu...

Os governos, este ou qualquer outro, as autarquias no que aos seus gestores concerne, os institutos e outras entidades públicas deverão ser acima de tudo ENTIDADES DE SERVIÇO PÚBLICO e não simples detentores do poder que o Povo lhes atribuiu.

E isto nada tem do que o meu amigo chama "espécie de campanha todo-o-terreno".

Um abraço.
 
É ridícula esta procissão de entidades a descartarem responsabilidades.
 
Tens razão no que dizes, mas se existe um sinal, cartazes ou até vários sinais eu quero lá saber da morosidade do mesmo, CUMPRO E MAIS NADA.
Se ouviste ontem o telejornal sobre o assunto, fiquei de boca aberta sobre a praia da Nazaré, para não falar das três praias daqui da zona: Aguda, Magoito e Azenhas do Mar.
Sou testemunha de que têm sido intervencionadas e fiscalizadas e as sinaléticas mudadas, mas a meu ver os biliões que seriam gastos para...antes proibissem a contrução desenfreada perto das arribas, tal como o caso de Ofir, tal como quase todo o Algarve. A previsibilidade seria: um dia o mar vem e com a erosão própria da natureza mas a ganância do homem é muito maior.

Neste caso concreto, poderiam ter deitado abaixo? não sei, só sei que se cumprissem os sinais e regras de segurança não haveria nada a lamentar. Deveria ter grades? Claro...mas ainda ontem para ficarem mais próximos e verem melhor (mórbidos) ultrapassavam e a policia actuava, mas...enfim!

Outro caos é o que se passou na tua Costa da Caparica, os milhões já gastos e os que irão gastar na obra em curso. Perigo com os tubos da drenagem da areia e "pomposamente refastelados junto deles, chapeuzinho aberto e onde fica aqui o bom senso"?
A natureza é implacável e tudo que se possa fazer para travar ela em fúria vence tudo e todos.

Tal como na estrada...a culpa é sempre...do vizinho.

Lamento as vitimas, como lamentarei as de Entre-os-Rios (aqui sim, pura incúria humana) mas o povo tem que entender de uma vez por todas que quem manda é a natureza. Pior seria senão tvesse sinal nenhum!

Desculpa o meu desabafo, mas é o que sinto e farto-me de avisar os "desobedientes" quando faço os meus passeios por aqui:)

Uma beijoca
 
ah...só mais uma coisa, com o que disse não quero desculpar "as milhentas vezes que o governo foge com o rabo à seringa", mas nestes casos o cidadão deverá ter mais cautela.
Os sinais, avisos e tabuletas, além de terem o circulo vermelho de proibição, está escrito PROIBIDO OU INTERDITADO. Não sabem ler? Têm grades e ou fitas vermelhas e brancas.
 
Caro Amigo Victor

E nós, povo, só temos direitos? Não temos deveres?
Temos que esperar pelas proibições para depois reclamarmos delas?
Não usamos o bom senso ou limita-mo-nos a acusar?
Creio que tem sido este o caminho mais fácil.
Não para a maioria mas para o "tuga" é. Sem dúvida.

Muito havia para dizer sobre estas coisas, sem ficarmos retidos na praia Maria Luisa.
Mas, insisto, é muito mais fácil acusar.
Há quantos milhares de anos existe a costa portuguesa?
Lanço uma sugestão. Vamos deitar Portugal abaixo, nomeadamente a faixa litoral e reconstruir tudo.
De raíz. Ficamos com o problema resolvido.

Até parece que são os nossos governos os culpados de TUDO o que se passa. Mas não são.

Já me alonguei e não quero transformar este assunto numa "guerra". Que de facto não é.

Um abraço
 
Caro MFC

E a "procissão" continua...

E o cinismo com que os responsáveis aparecem no órgãos de comunicação social "lamentamos o sucedido, estamos solidários com o sofrimento das famílias enlutadas" e ao mesmo tempo ufanos em sacudir culpas próprias e em defender o "bom trabalho" dos seus "funcionários"...

Um abraço.
 
Querida Fatyly

Não tens que pedir desculpa do "desabafo", nem de nada... as tuas palavras e as posições que com elas defendes são sempre interessantes e enriquecedoras... somente tenho que agradecer...

Não pretendo ilibar o povo português, na generalidade considerado, da sua falta de civismo, do seu estilo de desenrascanso, da sua tendência nata para não cumprir as normas e as leis, ou pelo menos para tentar faszê-lo...

E neste aspecto, como a cada momento vamos sabendo, o mesmo se passa com gente colocada em altas esferas decisórias e da gestão deste País...

E quando o exemplo não sem de cima....

No entanto, na minha modesta opinião, quando existe uma norma ou uma lei, deverá haver capacidade de fiscalização e da aplicação de coimas aos não cumpridores... e isso, meste País de "laisser faire" não acontece na maioria das situações...

E é aos órgãos que detêm o poder, e às entidades deles dependentes, que essas responsabilidades deverão se assacadas...

Sou da opinião que sobre este assunto... ainda a procissão vai no adro...

Beijinhos.
 
Caro Observador

Temos direitos que não são respeitados: direito à saúde (até houve quem tivesse dito "quem quer saúde pague-a" e hoge é presidente duma Fundação); direito ao ensino; direito à segurança....

Temos deveres que muitos, lamentavelmente, não cumprem...

Quanto aos deveres fiscais se não cumprimos, a fiscalização e a execução, rapidamente actuam e aí temos as acções coersivas, as penhoras...

Quanto aos deveres cívicos, a fiscalização é escassa e as coimas dificilmente aplicáveis, num mundo do "laisser faire".

Numa análise muito interessante realizada ontem por uma geóloga da Universidade do Minho, chega-se à conclusão que muito do que está a acontecer na costa portuguesa não resulta de factores naturais, mas de erro grosseiros da intervenção humana: construções em zonas problemáticas, arruamentos perto da zona costeira, intensidade de tráfego nessas zonas...

São erros do passado, sem dúvida... mas que se continuam a fazer no presente.

Um abraço.
 
Nem sei que lhe diga ácerca deste assunto. Penso que as autoridades têm certas culpas Mas as pessoas também têm uma grande parte de culpa.
Viu ontem a reportagem da praia da Nazaré? Lá não têm simplesmente placas a avisar do perigo. Foi colocada uma cerca a 30 metros da arriba para impedir a aproximação dos banhistas. Pois eles pulam a cerca e vão estender-se mesmo na base da arriba. Estavam lá imensas pessoas. Algumas disseram mesmo que estavam conscientes do perigo mas gostavam mais de estar ali...
Um abraço
 
Querida Elvira

O civismo das pessoas é o que sabemos... prejudicam-se a si próprios e a terceiros por essa falta tão grave.

Mas não é admissível o corrupou de responsáveis junto dos órgãos da comunicação social a "sacudir a água do capote".

São pagos a peso de oiro para preverem, anteciparem, proteger, fiscalizar e até aplicar coimas quando disso for caso, nunca para de iemdiato se demitirem de responsabilidades.

Beijinhos.
 
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