Partilhar
segunda-feira, fevereiro 01, 2010

os nomes que lhes dão

Quando, em meados dos anos 60 do século passado, nos deslocávamos para sul da praia da Costa de Caparica, que à época muita gente designava por Praia do Sol, designação que tem vindo a ser esquecida pelos milhares de pessoas que anualmente a utilizam como zona de veraneio, alguns quilómetros andados por piso asfaltado e de súbito, cerca da cortada para a Praia do Rei, aí tínhamos estrada de terra batida, estrada de macadame.

Subida íngreme que vinha cruzar com a então designada “estrada militar” e a que os populares chamavam “descida das vacas” designação que ganhou raízes, foi oficializada, fazendo hoje parte das designações encontradas na cartografia mais pormenorizada. Mas também muito perto está uma vereda a que chamam o “caminho das figueiras” e mais além o local conhecido por “mina”, de uma mina de oiro, “Adiça” já referenciada no tempo do Império Romano.

É curioso de analisar o facto de que as gentes davam nomes a sítios e coisas de uma forma sentida e forte, telúrica mesmo, coisas que a terra continha, que nasciam da terra, que viviam da terra, enriquecendo-a. Quantos milhares de vacas não terão descido (e mais difícil, subido) por aquela íngreme ladeira até delas recolher o nome? Era pura transumância de gado e gentes na procura de alimento e de algum rendimento.

Uma ligação estreita entre as gentes que trabalhavam os campos, agricultores, pastores, proprietários, rendeiros e aqueles que diariamente se afoitavam mar adentro nas artes piscatórias que haviam para aqui trazido de regiões do norte, como Ílhavo, por exemplo, ou do sul, das costas algarvias e do sudoeste alentejano.

Estes caminhos foram estradas romanas, quando os imperiais invasores se deslocavam para a pesca e para a exploração das minas auríferas; Foram caminhos reais, D. João V mandou plantar pinheiros mansos na zona dos medos de forma a segurar as areias e D. João VI percorreu estes caminhos nas suas caçadas e para degustar uma saborosa caldeirada; Foram caminhos de peregrinos que anualmente os percorriam integrados nos Círios a Nossa Senhora do Cabo Espichel, que se realizavam no promontório barbárico.

São caminhos da tradição, são rotas do nosso imaginário cultural.

Etiquetas: ,


Comments:
Gosto muito de conhecer estas coisas. Faz parte do encanto de nos conhecer enquanto povo. Bjs
 
Querida Sara

Passo muito do meu tempo nestas procuras...

...e quanto eu gosto de partilhar o que vou aprendendo!!!

Bendito tempo que utilizo "nestas coisas"... já valeu pelo prazer que sentiste ao ler.

Beijinhos.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?