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quarta-feira, abril 07, 2010

as margens do rio

Fui encontrar o tejo a correr entre fráguas, Em terras do muito longe onde vivia um gitano. que um dia de amores morreu quando saltou, Para o tejo que entre rochedos é tajo. vem das altas serranias, Em veloz e agreste caminhar. quando chega à nossa beira vem suave, É espelho luminoso quando mergulha no mar. e porque o tejo também é nosso, O tejo tem duas margens. quis o destino e os homens que a nossa margem, Seja a esquerda do tejo no caminho para a foz. voltando o olhar para o sul não fosse industrializada, Amplas charnecas montados de sobreiros, frondosos e verdejantes pinhais e uma orla marítima infinita de limpidez e cor sem igual. a margem esquerda do Tejo, É um longo percurso para descobrir. surpreendente a cada passo a cada virar de folha, A cada subida a um morro a cada olhar na profundidade de um declive. a mata dos medos e o pinhal d’el rei, O doirado acacial e o manto muito azul deste mar tão belo.

as gentes e as terras, Os usos e os costumes.

almada beija com ternura o tejo amante, Com quem desde há milhões de anos mantém uma doce cumplicidade. aqui o contacto é mais íntimo, Almada permite que as águas se espraiem nas suas entranhas. ali almada torna-se altaneira mira o tejo de cima, Mas vai-lhe piscando o olho. em conversas que somente aos dois dizem respeito, Que somente os dois entendem. a aproximação a almada vindos de Lisboa, Num cacilheiro que acaricia as águas do rio é um momento inolvidável. calma tranquilidade transparência, Apetece respirar fundo encher o peito de um ar puro que almada oferece a quem a visita. cacilhas ginjal boca do vento, O passeio ribeirinho elevador panorâmico e muito em especial gente afável e hospitaleira. que de forma incomparável souberam acolher reis, E princesas nos momentos em que lisboa lhes foi agreste.

a tasca do cão, A casa da cerca de dom João Portugal.

o pátio do prior, Do crato teria que ser. sobranceiro ao rio a olhar o cristo-rei de construção mais recente, Está a casa da cerca senhorial de joão de Portugal. quem és tu?, Ninguém. E caminhando para o interior, Depois do pragal e do monte onde viveu bulhão pato. lembram-se dos contos do monte?, E do digressões e novellas?. vem a charneca imensa das quintas da realeza, E doutros nobres menos reais que aí encontraram espaço de tranquilo estar. caçarias e cavalhadas, Caminhos abertos no mato para mais tarde ser serventia de recoveiros e carreiros em montadas de muares. na rota dos recoveiros, De sesimbra à charneca correria de muares. por aqui também ficaram por longas temporadas, Os monges e os noviços em espaço de meditação. mais perto dos seus deuses que os vinham inspirar, Missionários viveram estudaram aprenderam saberes de evangelização para no brasil irem pregar. daqui saíram os que seriam “40 mártires”, Que deram nome a uma quinta que era um vale rosal. e depois o mar, Esse eterno e cúmplice companheiro de quem o sabe amar.

é diferente o respirar do ar puro, E o beber da água cristalina tal como corre das fontes. ou que que se encontra nas minas, Poderia ser directamente bebida da nascente. como se perante as águas alpinas estivéssemos, Que dos gelos eternos vêem junto das gentes que nelas se dessedentam, e aqui mais para o interior a mancha imensa de verde colorida, A mata dos medos. o pinhal d’el rei, Por merecimento dado o nome pelo monarca em cavalgadas de caça. mantilhas de cães, A sentirem a real liberdade das loucas correrias pelos matos que acoitam a caça desejada. e as gentes laboriosas, Sofredoras mas resistentes que na primeira linha souberam estar ao alvor dos sentires republicanos. republicanos antes mesmo da implantação da república, Lutadores pela solidariedade e igualdade entre os seres humanos.

pelos caminhos e carreiros, Pelas veredas de silvados ladeadas. convergiam gentes crentes no pagamento duma promessa, Que as colheitas fossem fartas em campos férteis de húmus. que os homens do campo que à faina da pesca iam em tempo de mais calmaria, Feitos pescadores. voltassem escorreitos desse mar, Ora mar de seda de damas. logo depois mar macho, Como dizem os homens da borda d’água. nos caminhos da devoção senhora do cabo, Lá nas terras do longe espichel barbárico promontório.

vinham da margem esquerda do tejo, Terras da Trafaria. vinham da brisa do oceano, Da costa do pescado mais tarde de Caparica. que caparica era nos montes, E pela charneca fora árida e seca. das quintas da nobreza, De outras de padres missionários. ou somente à meditação e ao estudo dedicados, Juntavam-se na quinta de monserrate das anuais festividades charnequeiras. ou charnequenses, E caminhavam pela azinhaga onde alguém colocou uma placa toponímica “dos sírios”. rumo ao pinhal de valle de cavala, Mata dos medos e apostiça. a azóia, Local da lendária pernoita do homem de alcabideche e da mulher da Caparica. da charneca, Que a imagem da devoção por eles aguardava no cabo.

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Comments:
Eu cresci nas margens do Tejo e toda a minha vida ouvi histórias de encantar e histórias dramáticas sobre o mesmo.

Brinquei muitas vezes nas suas margens.

Ele foi e é testemunho de vida, de civilizações inteiras que sem ele nada eram.

O Rio tem uma magia diferente do mar mas também muito intensa. Bjs
 
Querida Sara

É mágico mesmo o Rio Tejo... não serás tu uma das "ninfas do Tejo"?

Beijinhos.
 
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