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sexta-feira, maio 14, 2010

os ares que respiramos

A “coisa” passou-se de forma tão sub-reptícia que nem eu próprio me apercebi do acontecido na altura, embora se um modo geral costume andar atento a movimentos fora do comum. Os próprios órgãos da comunicação social sempre tão atentos a movimentos suspeitos de gente suspeita nada registaram. Mas não há qualquer dúvida de que o funesto acontecimento teve lugar.

Um número ainda hoje por determinar de perigosos ladrões, com cadastro suficientemente sujo para intimidarem a segurança de qualquer país, evadiu-se de um estabelecimento prisional de alta segurança sem deixar rasto. Na calada da noite ou em plena luz do Sol, quem sabe?, puseram-se a monte acoitados por protecção do exterior.

Transformaram o seu visual recorrendo aos melhores cabeleireiros e institutos de beleza e modificaram a forma de falar, que de gutural e bruta passou a ser suave e melodiosa. Ganharam maneiras e passaram a ser citados nas revistas cor-de-rosa sempre ávidas de gente emergente no “soçaiti”. Aprenderam a linguagem do Povo e com este se misturaram nas praças e nos mercados.

Ganharam a confiança das crianças, das mães e dos pais, do Povo português e ganharam muito mais coisas. Mantiveram-se tranquilamente nos postos e posições onde foram sendo colocados e onde, eles próprios se colocaram. Colocaram muitos amigos em posições importantes e o tempo foi passando, esbatendo as arestas mais vivas dos acontecimentos.

Um dia o Povo, absorto em tantos acontecimentos estranhos que aconteciam à sua volta, privatizações, desemprego, falências, pedofilia, apercebeu-se que haviam desaparecido dois ou três euros que tinha no fundo do bolso. Havia sido roubado. Os órgãos da comunicação social eram ufanos em diariamente anunciarem que a segurança das pessoas aumentava a olhos vistos, que o crime diminuía neste Pais já de si de brandos costumes.

Daí para a frente os euros do Povo desapareciam mal ele se distraía. Até mesmo quando julgava estar atento. Os ladrões andavam à solta de novo, bem vestidos e bem-falantes, mas ladrões. Roubaram o emprego ao Povo. Roubaram a saúde ao Povo. Roubaram a escola ao Povo. Segurança quanto menos melhor para que os ladrões actuassem sem entraves. É fartar a vilanagem.

Senhores bem vestidos, de fatos de alpaca, a maioria em tons de cinzento, aplaudiam. Aplaudiam freneticamente. Felicitavam-se uns aos outros por terem salvado o País. Os lucros chorudos das suas empresas eram prova disso. Bancos, seguradoras, mas também as empresas das águas privadas que um dia já haviam sido públicas...

O próximo negócio que já foi aprovado pelos senhores do poder, para o qual se prepara a regulamentação provoca algumas disputas entre os grandes grupos financeiros. Mas eles ir-se-ão entender para bem da Nação. Os ares que respiramos vão entrar na concorrência liberal... Vamos pagar o ar que respiramos, na certeza de que terá muito melhor qualidade.


[O Povo tomou consciência da sua própria força. Voltou a aprisionar os perigosos ladrões que se haviam evadido da prisão de alta segurança]

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Comments:
Adorei e estive imenso tempo a reflectir e será que o povo aprendeu?
Numa UE nem o governo manda NADA e têm que cumprir o que mandam e a culpa é de quem os elegeu. Não é por acaso que a vinda de Trichet-BCE já deu mais andamento a processos dantescos/corruptos dos Srs.de colarinho branco.

De repente lembrei-me dum poema de Manuel Alegre (uma figura incontornável mas que se deixou maneetar e é uma sombra do foi)

(...)
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não!

- e quem diz NãOOOOOOOO? sobretudo quando se está ao serviço do Estado????

e para manter um povo em lume brando, nada como dar futebol, fado e missas e tu que és um jovem do meu tempo sabes muito bem ao que me refiro!!!
 
Querida Fatyly

Tão bem que compreendo as tuas palavras... quanto sei na pele esses tempos de escuridão...

Fortes tentativas são feitas para "adormecer" o Povo... e os abutres... e os "tais" vampiros" aí estão de novo...

ACORDA meu Povo que tardas na alvorada.

Beijinhos.
 
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