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sexta-feira, junho 04, 2010

a mata dos medos

[Medos] = elevações naturais de areia provocadas pelos ventos que sopram do mar




Inserida na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, a Mata dos Medos consiste num vasto aglomerado arbóreo que foi mandado semear pelo rei D. João V, com o objectivo de fixar as areias das dunas sujeitas ao efeito de erosão dos ventos e que invadiam os terrenos agrícolas do interior.

A Mata dos Medos está constituída desde 1971 como Reserva Botânica protegida por lei e abrange 338 hectares de floresta, onde predomina o pinheiro-manso, embora se possam observar diversas espécies arbóreas de importante valor.

A Mata dos Medos pode ser percorrida pedonalmente por dois caminhos diferentes que passam junto às principais espécies arbóreas e também de arbustos com passagem obrigatória por um dos miradouros sobranceiros às praia e de onde se desfruta magnífica panorâmica, desde a Serra de Sintra a Norte, até ao Cabo Espichel e Serra da Arrábida a Sul e a Nascente.

O Poente fica reservado para um deslumbrante pôr-do-sol quando o astro-rei mergulha aparentemente nas azuis e amplas águas do Oceano Atlântico.

Neste percurso por tão delicada região todos os nossos sentidos são estimulados de forma única. Debaixo da sombra protectora dos pinheiros-mansos, vários arbustos podem ser identificados nas suas cores e odores ímpares. A sabina das praias, com suas bagas vermelhas, o medronheiro, cujas baga de amarelo a vermelho, consoante a maturação, são comestíveis e possuem um ligeiro teor alcoólico e diversos arbustos autóctones, como é o caso da aroeira.

Os odores do rosmaninho, do alecrim, do tomilho e da salva inebriam-nos os sentidos e acompanham toda a nossa viagem. Lá mais no alto, pairando no azul do céu, podem ser observadas as águias reais, o peneireiro, o mocho galego ou a coruja do mato. A não perder é a oportunidade de observar a vivência dos corvídeos da Mata dos Medos em agregado familiar de um macho e de duas fêmeas.

Em tempos idos, na Charneca de Caparica, para sul do Marco Cabaço, as terras eram arenosas e praticamente intransitáveis. A cobertura botânica era constituída por mato e outras plantas arbustivas, como seja a aroeira que deu nome à zona, por pinheiros bravos e mansos e por amplas zonas de juncal.

A Mata dos Medos, também conhecida por Pinhal do Rei, o plantio de pinheiros teria sido mandado fazer pelo Rei D. João V por forma a “segurar” as areias em movimento, era lugar de difícil acessibilidade onde se acoitavam bandidos e outros foragidos da lei. A própria Guarda tinha dificuldade em entra nas zonas mais recônditas do pinhal.

Esta mancha verde, autêntico pulmão com que a Natureza brindara a Margem Sul do Tejo, prolongava-se para lá da Lagoa de Albufeira, na direcção de Sesimbra, pelas Herdades da Aroeira e da Apostiça, até aos inóspitas e desertificadas terras da Azóia já com o Promontório Barbárico, mais tarde designado Cabo Espichel, já à vista.

Contam os mais antigos que depois do pôr-do-sol somente entrariam no Pinhal do Rei aqueles que, pela confiança que neles tinham os foragidos, possuíssem o chamado “salvo conduto de palavra”, senha e contra-senha que deveria ser dita a quem interpelasse os forasteiros.

Era no Pinhal do Rei que o Povo se abastecia de lenha para “o fogo de cozinhar” e para se aquecer em tempos de invernia, encontrando-se o seu acesso restrito às terças-feiras, cuja transgressão estava sujeita a uma de coima de cinco tostões, valor elevado para a época e para a penúria das gentes. Eram conhecidos, ao tempo, os guardas florestais Ti Manel Guarda e o Francisco Papa-Léguas. O primeiro, filho da Charneca (sogro do Alvarez) sempre fechava os olhos a alguma transgressão, o que já não acontecia com o último sempre pronto a aplicar as coimas.

Às terças-feiras toda a família ia para o pinhal apanhar lenha para a semana, somente os troncos e pernadas secas. Na época das pinhas (de pinheiro-manso) a azáfama era redobrada, pois encontravam nos pinhões que delas retiravam um complemento importante no rendimento familiar com a sua venda no Mercado da Ribeira, em Lisboa, juntamente com os mimos que obtinham da terra.

Também havia um dia determinado da semana, a terça-feira, em que era permitido ao Povo, a viver em profunda penúria, colherem lenha da mata nacional, lenha seca sem magoar os pinheiros, para ser utilizada para as lareiras e para o “fogo de cozinhar”. No tempo das pinhas, aproveitava o Povo esse dia para colher pinhas que, vendidas para Lisboa, representavam um acrescento aos seus parcos rendimentos.”

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Comments:
Não conhecia esta história e nem imaginas o que eu e os meus durante esta época do calor apanhamos em termo de lenha e pinhas. Além do exercício fisico e uma autêntica algazarra de alegria:) poupam-se uns bons euros. Eu não tenho qualquer tipo de aquecimento, mas colaboro por ser para as lareiras deles e sobretudo porque os pinhais ficam ainda mais limpos!
 
Querida Fatyly

São estórias baseadas no que os mais idosos me vão contando.

Ir ao pinhal às pinhas é sem dúvida um encanto e a miudagem adora.

Beijinhos.
 
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