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segunda-feira, agosto 11, 2008

o nome que lhes dão

minha terra é meu sentir
Caparica mais do que uma terra é um Povo. Gente que construiu vida entre o mar e a floresta em diversificado labor. Da sua vivência aqui se regista testemunho




Quando, em meados dos anos 60 do século passado, nos deslocávamos para sul da praia da Costa de Caparica, que à época muita gente designava por Praia do Sol, designação que tem vindo a ser esquecida pelos milhares de pessoas que anualmente a utilizam como zona de veraneio, alguns quilómetros andados por piso asfaltado e de súbito, cerca da cortada para a Praia do Rei aí tínhamos estrada de terra batida, estrada de macadame.

Subida íngreme que vinha cruzar com a então designada “estrada militar” e a que os populares chamavam “descida das vacas” designação que ganhou raízes, foi oficializada, fazendo hoje parte das designações encontradas na cartografia mais pormenorizada. As também muito perto está uma vereda a que chamam o “caminho das figueiras” e mais além o local conhecido por “mina”, de uma mina de oiro, “Adiça” aí referenciada no tempo do Império Romano.

É curioso de analisar o facto que as gentes davam nomes a sítios e coisas de uma forma sentida e forte, telúrica mesmo, coisas que a terra continha, que nasciam da terra, que viviam da terra, enriquecendo-a. Quantos milhares de vacas não terão descido (e mais difícil, subido) por aquela íngreme ladeira até delas recolher o nome? Era pura transumância de gado e gentes na procura de alimento e de algum rendimento.

Uma ligação estreita entre as gentes que trabalhavam os campos, agricultores, pastores, proprietários, rendeiros e aqueles que diariamente se afoitavam mar adentro nas artes piscatórias que haviam para a região trazido de regiões do norte, como Ílhavo por exemplo, ou do sul, das costas algarvias e do sudoeste alentejano.

Estes caminhos foram estradas romanas, quando os imperiais invasores se deslocavam para a pesca e para a exploração das minas auríferas; Foram caminhos reais, D. João V mandou plantar pinheiros mansos na zona dos medos por forma a segurar as areias e D. João VI percorreu estes caminhos para degustar uma saborosa caldeirada; Foram caminhos de peregrinos que anualmente os percorriam integrados nos Círios a Nossa Senhora do Cabo Espichel, que se realizavam no promontório barbárico.

São caminhos da tradição, são rotas do nosso imaginário cultural.

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Comments:
Victor,
gostei imenso deste seu post, fiquei a saber algumas coisas que não sabia, morei perto tantos anos, mas nesses anos o trabalho era tanto que quase não havia tempo para ver a cultura da terra! Quanto "estrada militar" ( se for a que eu penso)essa passei muitas vezes mesmo...mas não fazia a ideia de que lhes chamavam "descida das vacas"!

Gostei muito mesmo!
Um beijo,
Sony

*curiosidade minha: o picadeiro da Aroeira ainda existe?
 
Querida Sony
Obrigado pelas tuas palavras. É sempre bom recordarmos os "nossos" sítios.
Quanto ao picadeiro da Aroeira o único que agora conheço fica dentro do condomínio do Golf da Aroeira...
Beijinhos.
 
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