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sábado, janeiro 09, 2010

cantar as janeiras na aldeia

Foi tempo de correrias porque os deuses da cultura e da tradição resolveram que este seria o dia de todos os acontecimentos, alheios ao facto de que os Reis do Oriente querem que a tradição se cumpra e que os Cânticos de Reis nos salões e o Cantar das Janeiras de porta em porta, na vizinhança da aldeia se realizem.

Por aqui e por ali andámos e com a ajuda do S. Pedro que durante algum tempo “mandou” que a chuva fosse cair a outras terras que destes usos e costumes estão alheias, cumprimos o destino traçado aos andarilhos, aos caminhantes e aos nómadas dos sentires na boa companhia de quem nos quer bem, no festejar de um petisco acompanhado com tinto de boa cepa.




Enquanto os Reis do Oriente adoravam ainda o “menino Jesus” em sua cabana de palha, em longínquas terras, fomos percorrer os arruamentos da Aldeia Lar, na Freguesia de Sobreda (que foi e poderá voltar a ser de Caparica), de lar em lar, na boa companhia dos aldeões festeiros que querem manter a tradição e que alumiados por uma candeia lá iam parando à porta de cada vizinho para cantarem:

Boas Festas, Boas Festas
Boas Festas vimos dar
Venham-nos dar as Janeiras
Se nos as quiserem dar

Estas casas não são casas
Estas casas são casinhas
Tantos anos viva o dono
Como ela tem de pedrinhas

Levante-se lá senhora
Desse banco de cortiça
Venha-nos dar as Janeiras
Ou morcela ou chouriça

Senhora que está lá dentro
Nesse banquinho de prata
Venha-nos dar as Janeiras
Que está um frio que mata


E “os da casa” lá vinham receber as Boas Festas os desejos de um Feliz Ano Novo e ajudarem a compor a cesta com mais uma garrafa de vinho ou com uma chouriça, e então “de roda” saía mais uma cantoria musicada com ferrinhos e reco-reco e outros instrumentos populares, onde pontuava a concertina e o cavaquinho tocados pelas mãos sabedoras e mágicas de Rita e Vítor Reino, dos Maio Moço…




Quem vos vem dar Boas Festas
Ai lé, piro-lé. Ai ló
De noite pelo escuro
Ai lé, piro-lé, ai ló
Bem de certo quer saber
Ai lé, piro-lé, ai ló
Se o seu vinho está maduro
Ai lé, piro-lé, ai ló.


Se alguma mão mais avara nada deixasse na cestinha e testemunhámos que isso não aconteceu, teria que ouvir:

O toucinho é muito alto
A faca não quer cortar
Estes barbas de bagaço
Não têm nada para dar


Lá para as tantas para reconfortar das andanças e dos cantares um convívio de fim-de-festa juntou muitos aldeões que quais reis do Presépio partilharam comes e bebes da tradição.


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Comments:
Um magnífico post. Aqui não se cantam as Janeiras, mas numa aldeia mais próxima ainda cumprem essa tradição que sempre achei tão engraçada.
 
Ai as cestas estão cheeinhas!!!!
...e que fizeram vós com o que lá estava dentro?...conta Vicktor REIS, conta!!!
(rsrs)
Beijinhos e boa semana
 
Aqui está uma tradição de que gosto muito e que infelizmente se está a perder em muitas regiões do nosso país.

Durante muitos anos também eu fiz parte de um grupo destes mas perdeu-se no tempo.

"Quem canta seu mal espanta" já dizia o povo e sabe tão bem ouvir estes cantinos de pessoas simples a desejar boas novas e protecção para o resto do ano.

Como as coisas estão, todas as ajudas são poucas e esta forma de o fazer será, de todas, a mais agradável e simpática de tal forma que só me apetece citar José Afonso, desejando com as suas palavras, um bom ano para todos.

Cantem comigo:

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

Bjs
 
vamos cantar as janeiras,
linda reportagem sobre este tema muito nosso, por esses quintais adentro, vamos, ó raparigas casadas...
beijinhos
 
....a 'peça' tá completa, pq eu
estive lá. Há aqui quem pergunte...e o que fizémos nós aquilo tudo???
Fácil, foi muito fácil; comemos e bebemos e..dançámos noite dentro
conforma se comprova aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=00K_eG9NEPY&feature=channel

tá lá tudo...
 
Querida Fatyly

O "Cantar as Janeiras" é algo genuinamente popular... que me perdoem os puristas mas não direi o mesmo do "Cantar dos Reis", mais "virado" para festa de salão.

Beijinhos.
 
Querida MagyMay

E o esforço dos transportadores?

A resposta à tua pertinente questão está já a seguir...

Beijinhos.
 
Querida Sara

Foi bom teres trazido o Zeca aqui para a Oficina... ele está no coração aqui dos trabalhadores...

Ah o Zeca!!! Que belas memórias dele tenho.

Beijinhos.
 
Querida Gaivota

Bem... fui mesmo andarilho das Janeiras...

Foi na Aldeia-Lar, foi na Charneca de Caparica, nos Lares e nas Colectividades.... vai ser ainda junto do comércio tradicional...

Temos que animar esta gente que a luta "inda" agora começou.

Beijinhos.
 
Amigo Victor

Aqui está uma achega fundamental de alguém que muito trabalhou para que a vizinhança sentisse a tradição.

E conseguiu...

Abração.
 
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