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terça-feira, maio 04, 2010

esta liberdade não a desejava bocage

elmano sadino
Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas



José Seabra da Silva e outros amigos influentes tinham convencido o Intendente de que Bocage não seria fonte de perigo, pelo que nem sequer a acusação de mação que uma senhora caridosa lhe fez teve qualquer influência.

Seabra convidou-o a trabalhar na Real Biblioteca, mas Bocage não aceitou pois não conseguia ver-se durante um dia de trabalho fechado entre quatro paredes, mexendo e remexendo em livros antigos e bolorentos, inalando a poeira das estantes.

Contudo, o dinheiro fazia-lhe falta para seu próprio sustento e para o ponche que ia beber a Taberna das Parras e, ainda, mas o sustento de sua irmã Maria Francisca, que já não contava com a ajuda da Marquesa de Alorna, desde que esta fora para Inglaterra.

Foi, então, viver ali para os lados da Calçada do Combro, em Lisboa, onde aperfeiçoava as suas versões e adaptações de Ovídio ao mesmo tempo que procurava ganhar algum dinheiro com traduções de obras muito procuradas na época, especialmente narrativas e poemas sobre as belezas naturais que estavam, então, muito na moda.

O negócio tornou-se tão próspero que o director da Casa Literária do Arco do Cego, da cidade de Lisboa, resolveu assalariar Bocage, dando-lhe, assim, um pouco de desafogo financeiro, mas obrigando-o a viver rodeado de dicionários, de anotações de revisão, de frases fabricadas o que muito o contrariava. Mas havia que garantir alguns meios de subsistência.


Soneto XL (erótico)

Pela rua da Rosa eu caminhava
Eram sete da noite, e a porra tesa;
Eis puta, que indicava assaz pobreza,
Co’um lencinho à janela me acenava;

Quais conselhos? A porra fumegava;
“Hei de seguir a lei da natureza!”
Assim dizia e enfeitou-se a empresa;
Prepúcio para traz a porta entrava;

Sem que saúde a moça prazenteira
Se arrima com furor não visto à crica,
E a bela a mole-mole o cu peneira:

Ninguém me gabe o rebolar d’Anica;
Esta puta em foder excede à Freira,
Excede o pensamento, assombra a pica!



O que já foi publicado na Oficina das Ideias sobre Bocage:
Elmano Sadino
O Homem e o Poeta
Regresso à Vadiagem de Lisboa
Os Alvores da Nova Arcádia
As Sátiras de Elmano Sadino
Bocage no Degredo
Caminho da Libertação
Enfim livre!

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Comments:
Uma faceta irreverente e tão peculiar de Bocage que só num passado recente se tornou público.
Gostei imenso deste post!
 
Querida Fatyly

Bocage é sempre genial em qualquer vertente poética. O erotismo, por muito mais difícil na minha modesta opinião, mais realça o seu valor.

Beijinhos.
 
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