Partilhar
quarta-feira, maio 12, 2010

na glória da controvérsia

elmano sadino
Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas




É nesta época complicada da vida de Bocage que este entra em disputas com o poeta José Agostinho, a quem tarda dar opinião sobre traduções efectuadas, usando da sua posição na Casa Literária. Por outro lado, colocava Ovídio, o poeta dos amantes, acima do grande Virgílio, deixando José Agostinho apopléctico.

Aqui começam novas disputas e controvérsias, alcunhando-o José Agostinho de “palhaço” “vadio” “magro” e “feio”. Bocage não lhe poupou represálias, retirando-o da lista dos “génios” poéticos.

Bocage nunca perdoou a José Agostinho que este lhe tenha chamado “doente imaginário”, quando realmente a melhor poesia de Bocage não era mais do que imaginação exacerbada, amor da morte, doença. Isso Bocage não admitia.

Conta-se que estando um dia o Morgado de Assentis sentado a uma mesa do Botequim das Parras, bebendo e fumando tranquilamente entra Bocage e diz “_ Escreva! Pena de Talião!”.
É a vingança do poeta. Daquele que ganha o pão de cada dia com o suor do rosto, escrita suada de facto, contra um padre, José Agostinho que flana no Rossio à porta do Daniel chapeleiro.

E a disputa entre os dois não se ficou por aqui. Bocage em tempos de glória sobrepunha-se a todos esses ataques, muitos dos quais já na fronteira da má-língua.

Com o que Bocage nunca soube lidar correctamente foi com as mulheres, com os amores e desamores, com os amores perdidos e os ciúmes queimados. A lista de mulheres que aparecem nos sonetos de Bocage é infindável. Contudo, são sempre mulheres fingidas, sombras e cujos nomes têm por finalidade primeira garantir a métrica e a rima.

Perto da realidade somente aquela infeliz paixão com a sua menina de Setúbal, a doce Gertrudes, mas tal como toda a vida de Bocage, assuntos desgraçados.


Soneto 48

Enquanto muda jaz, e jaz vencida
Do sono, que a restaura, a Natureza,
Aumento os meus males e graveza
Eu, desgraçado, que aborreço a vida.

Velando está minha alma escurecida,
Envolta dos horrores da tristeza,
Qual tocha que entre túmulos acesa
Espalha feia luz amortecida;

Velando está minha alma, estão com ela
Velando Amor, velando a Desventura,
Algozes, com que a Sorte me flagela;

Preside ao acto acerbo a Formosura,
Marília desleal, Marília, aquela
Que tão branda me foi, que me é tão dura.




O que já foi publicado na Oficina das Ideias sobre Bocage:
Elmano Sadino
O Homem e o Poeta
Regresso à Vadiagem de Lisboa
Os Alvores da Nova Arcádia
As Sátiras de Elmano Sadino
Bocage no Degredo
Caminho da Libertação
Enfim livre!
Esta Liberdade não desejava Bocage

Etiquetas: , , ,


Comments:
Realmente foi um homem que não atinava com as mulheres, como dizes nos amores e desamores, mas pelo muito que já li sobre ele...foi altamente vivido e boémio, como quase todos os grande nomes da literatura portuguesa.

Gostei!
 
Querida Fatyly

Na minha modesta opinião foi um dos (se não o) maiores poetas portugueses e do Mundo.

Beijinhos.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?