domingo, fevereiro 28, 2010
levantina princesa
lua
sábado, fevereiro 27, 2010
marco os tempos
elmano sadino
Ficou sempre no nosso espírito poder melhorar o trabalho então realizado como forma de agradecer tão interessante acolhimento. O tempo foi passando e julgamos poder agora abalançarmo-nos nessa “epopeia”.
Deixamos aqui uma breve e singela introdução ao muito que o poeta Barbosa du Bocage nos legou e a promessa de voltarmos ao tema todos os sábados.

Manuel Maria Barbosa du Bocage é conhecido pelo seu vasto anedotário. Curiosamente, a maioria das anedotas atribuídas a Bocage não são da sua autoria, recorrendo, isso sim, à sua atribulada e rocambolesca vivência para urdir os temas das anedotas.
Aliás, na minha meninice circulava aqui em Portugal um pequeno livro, “As anedotas de Bocage” que mais não era do que uma compilação de anedotas sem autor, como o são a maioria, mas estas atribuídas indevidamente a Bocage.
Sonetos de Bocage
Bocage foi um poeta de excepção, destacando-se na sua obra os sonetos, com ou sem mote. Bocage deixa transparecer as suas vivências, o seu sofrer e o desprezo a que é votado pela sua eterna amada.
Com origem em famílias altamente colocadas na sociedade, optou por uma vida desregrada e boémia que acabou por o conduzir à prisão.
Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;
Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;
O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;
Inda assim não maldiz a iníqua Sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.
Erótico Bocage
O seu olhar crítico para com a sociedade de finais do século XVIII e dos primórdios do século XIX, repartida que foi a sua vida por Portugal e pelas Índias, espelha-se perfeitamente nas suas “Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas”.
É de um profundo erotismo a epistologia entre Olinda e Alzira, onde estas duas amigas trocam as mais íntimas confidências. Alzira a experiente mulher embalada pelas palavras inocentes (?) da Olinda.
A temerosa Olinda é quem me escreve?
É este o seu pudor, sua inocência?
Ah! Que as minhas lições tão bem aceitas,
Dão-me a ver que a discípula inexperta
Há de em breve ensinar a própria mestra.
Etiquetas: bocage, elmano sadino, literatura
sexta-feira, fevereiro 26, 2010
sensível e bela
em que pensas?
Sempre que chove fico tristonho. Gosto de ver a chuva cair em dança ritmada ao sabor do vento. Gosto do cheiro da terra, telúrica transpiração, quando as primeiras chuvas caiem de mansinho. Mas, contudo, quando chove fico tristonho.
Lembro-me o tempo que passava quando criança a espera que o meu pai chegasse do trabalho. Parecia-me uma eternidade e ainda era mais dolorosa a espera em tempo de invernia. E eu ali de rosto esborrachado contra a vidraça da janela a esperar.
Os vultos a meios-tons delineados pela chuva que caia pareciam-me fantasmagóricos. Amedrontavam-me, ficava tristonho e o meu pai tardava em chegar.
A minha mãe sempre me perguntava: “_Porque estás triste?” e a resposta era invariavelmente “_Á pá!” (como eu pretendia que me entendessem no “estou à espera do meu pai).
Por isso sempre fico tristonho quando chove vestindo os dias de primavera de trajes pardacentos, invernosos. Não é que eu desgoste de ver chover, mas que fico tristonho, lá isso fico.
Etiquetas: pequenas estórias
quinta-feira, fevereiro 25, 2010
incenso que defuma

Etiquetas: plantas medicinais, postais, tradição
círio à senhora do cabo
Fez em sonhos convergentes um homem e uma mulher
Caminharem rumo ao barbárico promontório por haver
Na procura da Senhora da Pedra de Mu que aí luzia.
Soube o Povo dos poderes de tanto sortilégio e querer
Que em turba agitada ao Espichel se dirigiu em correria
Dos campos, pedindo para o gado e as colheitas bonomia
Da praia, protecção aos mareantes que afoitos usam ser.
Erigiram sobre penhascos e arribas em memória a capela
Por esmola e dádiva daqueles que mais nela encontraram
No querer, no sentir de séculos numa prece que se revela
Na memória das gentes que há muito sentiam e desejaram
Verdadeiro milagre resultante do labor e da luta que eleva
O Povo que agora aqui renova as tradições que perduraram.
Etiquetas: poesia
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
laboriosa colheita
retratista
Sem gaiola,
Desde que de si próprio teve
Sentir e conhecimento.
Caminhou veredas
Sem fim
Venceu escolhos
Traições.
Foi marinheiro
Poeta
Foi caminhante
Romeiro
Quem és tu?
Foi nómada
Dos sentires
E em cada retrato
Retratou
O sorriso da Liberdade.
nota: este poema foi comentário à postagem "ai se eu pudesse…", em Carpe Diem, onde se inspirou
Etiquetas: poesia
terça-feira, fevereiro 23, 2010
silvestre magia
o pinhal dos receios, ou a história das luminárias dentro da mata
Eram caminhos estreito por onde transitavam burros e cavalos de carga e alguns carros puxados por essas alimárias. Eram usadas mais pelos recoveiros [2] e gentes de posses, pois a população em geral fazia estas ligações de vários quilómetros a pé, seguindo por veredas e atalhos que o uso ia marcando por entre o mato e os pinhais.
Porque esta região era de “puros ares” e as terras de forte potencial agrícola, especialmente árvores de fruto e vinha, muitos foram os nobres que por dádiva real aqui construíram as suas quintas [3], de veraneio ou mesmo de residência principal, o mesmo acontecendo com algumas ordens religiosas [4] que consideravam estas terras vocacionadas para a oração e para a meditação.
Na Charneca de Caparica, para sul do Marco Cabaço, as terras eram arenosas e praticamente intransitáveis. A cobertura botânica era constituída por mato e outras plantas arbustivas, como seja a aroeira que deu nome à zona, por pinheiros bravos e mansos e por amplas zonas de juncal. Aqui e ali despontavam medronheiros [5], cujos frutos deliciavam os passantes.
Esta zona era praticamente inabitada, sendo muito poucas as pessoas com coragem para entrar em zona tão erma, sobre a qual se contavam histórias ou lendas de maus encontros, de lobisomens que apareciam em noites de lua cheia nos cruzamentos [6] ou mesmo de foragidos da lei que aqui se acoitavam protegidos pelo denso matagal.
Contudo, quem se atrevesse a percorrer o pinhal na calada da noite, apercebia-se, aqui e ali, o tremelicar de uma luz, normalmente candeia de azeite ou de petróleo, vinda de algum barraco construído na mata e onde viviam as famílias menos abastadas, muito abaixo do limiar da pobreza. As gentes da Charneca de Caparica conheciam-nos por “toupeiras” [7] pois à aproximação de estranhos fechavam-se dentro de casa e não se deixavam ver.
A Mata dos Medos [8], também conhecida por Pinhal do Rei, o plantio de pinheiros teria sido mandado fazer pelo Rei D. João V, por forma a “segurar” as areias em movimento, era lugar de difícil acessibilidade onde se acoitavam bandidos e outros foragidos da lei. A própria Guarda tinha dificuldade em entrar nas zonas mais recônditas do pinhal.
Esta mancha verde, autêntico pulmão com que a Natureza brindara a Margem Sul do Tejo, prolongava-se para lá da Lagoa de Albufeira, na direcção de Sesimbra e do Cabo Espichel, conhecido pelos antigos como Promontório Barbárico, pelas Herdades da Aroeira e da Apostiça. Para poente chegava ao areal, à época de enorme extensão e de altaneira linha dunar.
Contam os mais antigos que depois do pôr-do-sol somente entrariam no Pinhal do Rei aqueles que, pela confiança que neles tinham os foragidos, possuíssem o chamado “salvo conduto de palavra” [9], código de “honra”, senha e contra-senha que deveria ser dita a quem interpelasse os forasteiros.
Também havia um dia determinado da semana, a terça-feira, em que era permitido ao Povo, a viver em profunda penúria, colher lenha da mata nacional, lenha seca sem magoar os pinheiros, para ser utilizada para as lareiras e para o “fogo de cozinhar”. Famílias inteiras reservavam esse dia para a recolha de lenha, pois o excedente às suas necessidades de utilização sempre representava com a sua venda uns centavos adicionais para o magro orçamento familiar.
No tempo das pinhas, aproveitava o Povo esse dia para colher pinhas que, vendidas para Almada ou para Lisboa, e mesmo nas quintas da região representavam um acréscimo aos seus parcos rendimentos. Somente estavam autorizados a recolher pinhas secas, mas de forma furtiva sempre recolhiam pinhas de pinheiro manso, pois os pinhões já eram, nessa época, pagos a bom preço.
Notas
[1] – Massa de barro, muitas vezes misturada com palha, que depois de seca ao sol, especialmente no formato dos actuais tijolos, era utilizada como material de construção.
[2] – Os recoveiros, ou almocreves, eram peças fundamentais no comércio e transporte de mercadorias, alugavam ou trabalhavam com animais de carga.
[3] – No território que constitui hoje a Charneca de Caparica e no seu termo poderemos encontrar, entre outras, Quinta e Solar de S. Macário, Quinta da Regateira, Quinta de Monserrate, Quinta de Cima, Quinta da Carcereira.
[4] – De acordo com o Dicionário Geográfico escrito pelo padre Luís Cardoso existiram três conventos no termo de Caparica: o Convento dos Religiosos de S. Paulo, e que é orago N. S. da Rosa, fundado em 1410; o Convento dos Religiosos Arrabidos, dedicado a N. S. da Piedade, fundado no ano de 1558; e o Convento dos Religiosos Agostinhos Descalços, de que é padroeira N. S. da Assunção, fundado no ano de 1677.
[5] Ainda hoje fazem parte da mancha arbustiva, sendo um aliciante para quem caminha na mata em tempo de maturação dos frutos, os medronhos.
[6] – Hábito que se não perdeu, antes intensificou com a chegada de muitos imigrantes brasileiros, a prática de macumba deixa evidências para quem percorre a mata pelas manhãs: garrafas de bebidas alcoólica, velas vermelhas e muitos outros elementos característicos da prática de tais ritos.
[7] – Contam os mais antigos da existência de um clube “Os Toupeiras” que realizavam bailes frequentados pelas gentes do lado sul da Charneca de Caparica e por quem vivia em casebres no interior da mata. Quando se chegavam rapazes vindos de Palhais ou do Botequim eram frequentes grandes cenas de pancadaria.
[8] – A designação de Mata dos Medos tem origem no facto de parte da mesma se encontrar implantada em grandes elevações de terreno arenoso junto ao litoral conhecidas por “medo” ou “médão”.
[9] – O “santo e senha” que ainda há pouco uma senhora de Sobreda me referiu que o pai havia sido detentor para poder entrar na Mata dos Medos.
Etiquetas: contos do pinhal, minha terra
segunda-feira, fevereiro 22, 2010
novas texturas

transformam uma imagem real numa pintura
venham ver as acácias em flor na caparica
Esta zona de vegetação, ímpar no nosso País, além da função primordial de fixação do longo areal que vai da Trafaria à Fonte da Telha, protege as fecundas "terras da Costa" da brisa do mar e serve de tampão aos fogos florestais, tendo em conta a sua fraca capacidade combustível.
Designada "Mata das Dunas da Trafaria e da Costa de Caparica", integrada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, foi instalada entre os finais do século XIX e os anos 60 do século passado, com a finalidade de fixar as areias de dunas móveis, estendendo-se pela zona fronteira à arriba, sendo constituída essencialmente por várias espécies de acácias (Acácia sp.), predominando a Acácia cianophyla.

Na época da floração do acacial, quem percorre a Descida das Vacas, vindo da Charneca de Caparica na direcção da entrada para a Praia do Rei, ao virar na curva sobranceira ao mar, é agradavelmente surpreendido por uma paisagem sem igual, onde um vasto manto verde se apresenta profusamente salpicado de vários cambiantes de amarelo, dependendo do estado de maturação das suas flores.

Não é difícil de crer que a velha mulher que a lenda refere, descesse do interior onde vivia num pobre casebre até à borda-d’água, até ao acacial onde colhia muitas flores douradas que transportava no interior da sua capa. Os vizinhos e outras pessoas com quem se cruzava vislumbravam laivos dourados consoante a misteriosa mulher se deslocava, imaginando que transportava consigo ouro amoedado de não menos misteriosa origem. Daí à lenda foi um passo, não muito longo, por certo.

Etiquetas: acacial, arriba fóssil, costa de caparica
domingo, fevereiro 21, 2010
coragem e valentia
vida plena de luar
No segredar duma voz.
Sonoridades adivinhadas,
Na doçura das palavras,
Num olhar que foi furtado.
Estou a aprender a ver-me,
Em vez de me olhar,
Simplesmente!
Grande sabedoria
A que tu me ensinas…
Olhos marejados
De lágrimas que são correntes,
Um fugaz pensamento,
Lábios que estão carentes
Duma palavra que beija.
Na suave ondulação
Do arfar de seus seios,
Caminhar na vida plena,
Soletrar a prata da lua
Sentir o que tu sentes.
Etiquetas: poesia
sábado, fevereiro 20, 2010
mil olhos

com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo"
Neruda
Etiquetas: capuchos, memorial, mil olhos, neruda
memorial a pablo neruda
Na linha nascente/poente do magnífico jardim do Convento dos Capuchos foi erigido um memorial ao poeta da luta e do amor. “Mil Olhos” foi designado. Aqui registo e partilho a respectiva memória descritiva.
O memorial é constituído por dois elementos verticais, paralelos e separados, simbolizando um livro aberto, através do qual se pode admirar o mar, esse elemento que tanto inspirou o poeta e que aqui se apresenta em tons de azul únicos.
Suspensos entre as duas folhas do livro estão centenas de olhos, “mil olhos”, que fitam o observador, numa clara alusão à importância que as gentes têm na obra de Pablo Neruda. Dalguns dos “olhos” escorrem lágrimas, representadas escultoricamente por correntes.

Do lado esquerdo do monumento destaca-se uma peça de cobre com a cara do Nobel da Literatura de 1971. No lado direito do memorial lê-se uma frase construída a partir de enxertos de Pablo Neruda: “Quem fui? O que somos? Não há respostas. Passámos, não fomos. Éramos. Outros pés, outras mãos, outros olhos. Mas aprendi muito mais com a maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo”.
Mil olhos!
Etiquetas: almada, capuchos, memorial, neruda
sexta-feira, fevereiro 19, 2010
mundo colorido
dádivas
De poucos milímetros até
São raiadas em linhas
Arqueadas
Em diversas tonalidades
De castanho e ocre que convergem
Para o ponto de união
Das duas conchas
Que constituem o bivalve.
Mas são também
De madrepérola banhadas
Que fulgem
Ouro do astro rei
E lilás
De imemoriais eras
Tempos de ninfas e sereias
De encantarem pescadores
Cantos suaves
Melodia.
São em si mesmas
Obras de arte,
Com o traço único
Da Natureza,
Encerram em si mistério
E beleza
Num testemunho fantástico
Duma caminhada
De encantamento
Pelas doiradas areias,
Acompanhada do lado do Nascente
Por uma bela arriba
Que o passar do tempo
E o recuo definitivo
Do mar
Fossilizou
E do lado do Poente
Esse mar imenso,
Pintado em laivos
De azul
De verde,
De lilás
Prateado
No constante espraiar
Da ondulação.
nota: este poema foi comentário à postagem "a prenda que o mar me trouxe" em Perfume de Jacarandá, onde se inspirou
Etiquetas: poesia
quinta-feira, fevereiro 18, 2010
sentir de artista
novos indicadores de leitura
1 – Pela qualidade extraordinária que encontramos em determinado blogue, de acordo com a nossa avaliação pessoal;
2 – Como reconhecimento aos comentários que são deixados nos posts da Oficina das Ideias;
3 – Em resultado da permuta de indicadores de leitura.
Esta permuta desinteressada de indicadores de leitura é uma das características mais positivas da blogoesfera e de quem a utiliza com espírito construtivo e solidário que coloca acima dos seus pessoais interesses a satisfação dos leitores.
Damos conta, de seguida, de alguns dos mais recentes, solicitando a todos os companheiros da blogoesfera que estando abrangidos pelos critérios referidos não tenham o respectivo indicador de leitura na Oficina das Ideias que nos façam chegar essa informação.
Novos indicadores:
Sem Margens, de A. Tapadinha (Portugal) – “Pintar a palavra; Escrever a pintura”
Tout sur Nathalie, de Natália Augusto (Portugal) – “Sou a eterna criança que mora em Fantasia”
A Casa da Micas, de Micas (Alemanha) – “Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em terras da Germânia”
Beijinhos Embrulhados, de Maria Teresa (Portugal) – “Sou avó e tenho muito orgulho. Toda a minha vida adulta lidei com muito jovens e menos jovens por motivos profissionais e adorei”
Lua de Lobos, de Maria de São Pedro (Portugal) – “Aprender tudo quanto o meu último neurónio aguentar”
Caminho para Ítaca, de Rita (Portugal) –
Escritos., de Joana Fernandes (Portugal) –
Foi desse jeito que eu ouvi, de Silvana Nunes (Brasil) – “Não permita que as nossas histórias se percam no tempo”
Planeta M… Meu Planeta, de Marlene (Portugal) – “Planeta M: Local onde exponho os meus anseios, devaneios e esperanças… O que imagino, penso e construo… O que mais gosto”
Etiquetas: indicadores, oficina
quarta-feira, fevereiro 17, 2010
memória e sentir
mar da caparica
Chega forte
Às praias da Caparica
Em explosões de prata,
Fantásticos sonhos,
Magia
Azul profundo
Fulge de luar
E de esperança matizado
Molda em submersos continentes,
Palácios
E castelos.
À sétima onda
O mar ganha novas energias
E saberes
Pulveriza o ar
Com milhões de salgadas gotícolas
De cristal
Por instantes,
A calmaria de afectos seculares
Forjada
O espraiar das ondas
No doirado areal
Que aguarda tal ternura.
No embalar das águas
Em ondulação suave
E sincopada
As gaivotas
Há pouco chegadas
À beira-mar se deliciam
Baloiçam quais folhas
De nenúfar
Em lago plantadas
Despertam,
Saltitam,
Esvoaçam ao sobressalto da rebentação.
Este namoro antigo
Do mar com a doirada areia
Da Caparica
É cumplicidade
Alimentada pelo desejo
Do muito querer vivido
Em que o mar
Oferece conchas
E milhões de grãos de areia
Recebe o afago
De quem sempre
Prazenteiramente o acolhe.
Etiquetas: costa de caparica, grande areal, mar
terça-feira, fevereiro 16, 2010
máscara enganadora
o carnaval na charneca
Até à Implantação da República, a época do Entrudo, em particular nos meios rurais, era tenebrosa com brincadeiras perigosas, chegando mesmo a ser aproveitada, a coberto das máscaras, para se porem em prática vinganças, guerrilhas e armadilhas. (séculos XIX e XX)
Organizavam-se cegadas, na rua ou nas agremiações recreativas, desde o início do século XX. Os ensaios tinham lugar nas adegas e nos retiros, à mistura com muito vinho e fortes bebedeiras, como acontecia na adega do Mário Casimiro, na Charneca. Os cegantes percorriam os principais arruamentos da povoação, metendo-se com toda a gente, especialmente, com as raparigas solteiras.
Para saber mais:
Carnaval em Almada
Alexandre M. Flores
Edição Associação “Amigos da Cidade de Almada”
Fevereiro de 1998
Etiquetas: carnaval, entrudo, tradição
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
vida de remedeio

nos baixios verdejantes da Charneca
Etiquetas: charneca de caparica, postais, rebanhos
este tempo
Na procura no sentir despudorado de teu corpo encontrar
Carícias ao compasso do relógio no seu ir e logo retornar
Por teu belo corpo caminha, pára minha boca ofegante
Quanto mais ela caminha em sentir delirante
Milhares de vezes pára em preito de amante
A simples expressão paracaminha de dúbio entendimento
Anima o romeiro que caminha no rumo do sentimento
Fica extasiado com o que vê... pára... para seus sentidos alimento
Este tempo
despudorado
do relógio
caminha, pára
caminha
pára
paracaminha
caminha
pára...
Etiquetas: poesia
domingo, fevereiro 14, 2010
dádiva de vida

a vida humana na superfície terrestre
Etiquetas: por-do-sol, postais
um selinho de amizade
E porque a Oficina das Ideias tem a honra de ser considerada entre os amigos de A Casa da Mariquinhas recebemos e aqui publicamos com muito afecto o “selinho” comemorativo.
Bem Hajas querida amiga.
ano lunar do tigre
O Tigre é o terceiro signo dos 12 signos chineses e representa, fundamentalmente, a coragem. Segundo a tradição chinesa o destemido tigre protege a nossa casa dos três maiores perigos pelos orientais considerados: o fogo, os ladrões e os fantasmas.

A passagem do Ano Lunar, que tem lugar na Lua Nova, este ano a 14 de Fevereiro, à 2.51 horas (tempo de Lisboa), é o mais significativo, em alguns casos o único, feriado oficial da China, embora se prolongue por sete dias e é um misto dos festejos ocidentais do Natal e do Carnaval, aliás, oriundos da mesma génese pagã. Daí que se celebre nesta época a Festa da Primavera, do renascer, das sementeiras, da fertilidade.
Etiquetas: ano lunar, calendários, tradição
sábado, fevereiro 13, 2010
azular a seda

Etiquetas: grande areal, mar, postais
andorinhas de valle do rosal
O azul do céu foi cortado por um voo diferente dos habituais nesta altura do ano. Uma andorinha executava um voo rectilíneo, voo de chegada pois os voos de estada são circulares e planando nas isobáricas.
Ainda estão longe os odores das rosas mas os jasmineiros já mostram pequenos botões no fundo verde de folhas, com uma ou outra florinha branca a despontar, que normalmente festejam a chegada das primeiras andorinhas a Valle do Rosal.
Esta primeira andorinha a chegar, sem dúvida uma atleta de fundo, é a indicação que as suas companheiras de viagem não tardarão. Daqui a pouco regressarão todas as que já cá estiveram e que resistiram à longa caminhada. Algumas terão perecido perante os escolhos de uma longa viagem, as intempéries, os predadores, a malvadez do ser humano. Contudo, a maioria regressará ao seu local de nascimento ou aos ninhos em que foram progenitores no ano anterior.
É temporã esta chegada, resultado sem dúvida do sol que tardou em chegar mas que já brilha nestas terras de camponeses e pescadores, mas são assim desígnios da mãe Natureza que hoje me deu esta imensa alegria. A partir de agora será a animação dos seus voos e a musicalidade dos seus piares, a labuta para a recuperação dos ninhos e para a construção de novos que irão albergar a família aumentada.
Recordamos aqui o registo da Oficina das Ideias no que se refere à chegada da primeira andorinha do ano a terras de Valle do Rosal:
Em 2004, a 16 de Fevereiro
Em 2005, a 10 de Março
Em 2006, a 12 de Fevereiro
Em 2007, a 13 de Fevereiro
Em 2008, a 13 de Janeiro
Em 2009, a 25 de Fevereiro
Salvo o ano de 2005 em que a sua chegada tardia muitas preocupações trouxe às pessoas que tanto gostam de apreciar a beleza dos seus voos e o empenho do seu labor na reconstrução dos ninhos, e em 2007 que foi temporã essa chegada, o primeiro avistamento tem tido lugar por volta da segunda semana de Fevereiro.
Bem vindas a Valle do Rosal belas andorinhas!
Etiquetas: andorinhas, valle rosal
sexta-feira, fevereiro 12, 2010
mensageiras de elmano
lengalenga
*
Imaginação
Angústia
Esquecimento,
Ausência
Solidão
Muito sofrer,
Olhar profundo
Sorriso
Bem-querer,
Amor eterno
Alegria
Sentimento.
Regresso
Presença
Abraço apertado,
Ilusão
Alegria de viver
Amor,
Cruel verdade
Sofrimento
Dor,
Um beijo
Ternura
Caminho desejado.
Realidade
Tristeza
Desengano
Uma lágrima
Um adeus
Infinito.
*
*
Etiquetas: poesia
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
doce presença

em Valle do Rosal, Charneca de Caparica
Etiquetas: flores de jardim, postais
o mel da arriba fóssil
Na região da Costa de Caparica proliferam colmeais, localizados, curiosamente, nos extremos Norte e Sul da Área Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica. E, pela riqueza da flora, de influências atlântica, mediterrânea e continental, produzem mel de extraordinária qualidade.

Estes colmeais tiveram a sua origem no trabalho desenvolvido pelo velho Gouveia que cuidava do apiário dos Serviços Florestais das Matas Nacionais.
Etiquetas: arriba fóssil, colmeias
quarta-feira, fevereiro 10, 2010
vigias de labuta

como é tradicional e cantada a "feira de Castro"
uma visita recomendada ao sul alentejano
Etiquetas: castro verde, moinhos de vento, postais
o pescador e o "papagaio"

Aproximo-me, com curiosidade. O velho pescador aproxima-se de mim fazendo o caminho ao contrário. Cada passo que eu dou ele dá outro também. O tempo de aproximação entre nós reduz-se, assim, a metade.
“Boa tarde!”
“Boa tarde. Se eu lhe disser o que estou a fazer, você não acredita” – antecipou adivinhando a minha curiosidade.
“Então… o que está a fazer?”
“Estou a preparar um “papagaio” para ir com ele pescar”
Sorri. Incrédulo, na incerteza se o velho homem estava ou não a brincar comigo.
“Verdade?”
“Claro que é verdade. Mas eu já havia dito que você não iria acreditar”
“Acredito, pois. Então como vai pescar com esse “papagaio”?”
“Estive a aumentar o tamanho da cauda para aguentar melhor o vento que hoje está… Mais logo, pela noite, se o mar o permitir vou com ele à pesca”.
E lá me explicou tratar-se de uma “arte” proibida mas que as condições actuais da pesca, o muito mar desta época, e a “crise” assim o obrigavam. O “papagaio” é levado pelo vento e nele suspenso segue um aparelho de anzóis que depois mergulham na água devidamente engodados. Quando o peixe “picar” é só puxar.
“Ainda há quinze dias pesquei 40 quilos de robalo com este aparelho!” – concluiu a jeito de justificação e com orgulho pelo sistema que aperfeiçoou e utiliza".
Etiquetas: artes, pescadores, praia do sol, tradição
terça-feira, fevereiro 09, 2010
naufrágio

mas o mar não é traiçoeiro...
sempre avisa...
os seres humanos têm que saber "ler" seus sinais
a taberna do faustino 2
Outrora terra de pescadores, a pesca é ainda hoje a base do rendimento dos seus habitantes, transformada num aglomerado de casas de veraneio e restaurantes de gosto duvidoso, por aqui se instalaram diversas companhas das artes piscatórias, num mar que pelo seu desenho costeiro é mais afável mesmo durante a invernia.
Há notícia de que nos anos 40 do século passado era ainda constituída por cabanas de colmo dispersas na faixa dunar, onde os pescadores viviam e iam à faina, primeiro de forma sazonal pegando-lhes fogo e abandonando-as em tempo de invernia e, depois, de um modo regular, estabelecendo-se aí pequenos núcleos familiares.
O pouco comércio existente à época resumia-se às tabernas do Camões e do Faustino, onde de tudo se vendia, normalmente para “pôr na conta” pois somente quando o tempo bom permitia a ida ao mar das companhas se obtinham parcos rendimentos para pagar o que estava em dívida.
No pós-guerra, em meados dos anos 40 de século passado as carências de bens essenciais eram tamanhas que o estado novo implantou o regime de racionamento, senhas pala os bens alimentares e outros de primeira necessidade, sendo rigorosamente punidos todos aqueles que transaccionassem esses bens de forma clandestina. Fora implantado um regime de terror, de delação, os “bufos” multiplicavam-se e a troco de alguns centavos acusavam os próprios amigos e familiares que a tal eram induzidos e incentivados.
As tabernas do Camões e do Faustino ainda hoje existem na Fonte da Telha, com o aspecto modernizado que os tempos são outros, mas situam-se nos lugares de outrora. A Tasca do Faustino mais a sul mesmo junto à colónia piscatória. Pela manhã ainda por lá se “mata o bicho” com um copo de aguardente que a friagem é muita. E no regresso da faina ali se conversa acerca do mar.
O actual restaurante O Camões mais recuado em relação à linha do mar, mais próximo da falésia. Ficava no caminho por onde desciam os recoveiros da Charneca que vinham comprar o pescado que depois transportavam em cabazes feitos de cana para venderem em Almada e até em Lisboa.
Notas:
(1) Alexandre Cabral, considerado o maior estudioso da vida e da obra de Camilo Castelo Branco, no seu romance “Fonte da Telha” descreve de forma soberba a vivência dos pescadores na primeira metade do século passado (edição: Lisboa, 1949)
(2) A minha amiga .Lis do blogue Flor de Lis num seu comentário incentivou-me a que descrevesse um pouco mais o que sei sobre a Tasca do Faustino, cujos familiares vivos me dão a honra de serem meus amigos.
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segunda-feira, fevereiro 08, 2010
arriba fóssil
arriba fóssil da costa de caparica
É o testemunho presente de uma época em que a linha da costa se situava muito mais para o interior. Actualmente e devido à acumulação de grandes quantidades de areia junto à Arriba, o mar já não a atinge, sendo por isso designada por Fóssil. Para defesa deste património natural único foi legalmente constituída em 1984 a designada Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica.

Para além das características geológicas, muitos outros factores contribuem para que seja considerada um dos principais pólos de interesse natural da região. Possui locais muito favoráveis para a alimentação, reprodução e repouso de aves de rapina, de entre as quais se destacam a águia-de-asa-redonda, o peneireiro-comum, o mocho-galego e a coruja-do-mato. A variedade da fauna é completada com outros animais, desde o rato do campo ao coelho, da perdiz ao pintassilgo.
As matas da Arriba são um local privilegiado de passagem para as aves migratórias, sendo ainda de assinalar a presença de uma importante colónia de corvídeos, com relevo para as famílias de corvos comuns, caracteristicamente constituídas por três elementos. Pode-se igualmente observar e admirar na zona envolvente a Reserva Botânica da Mata Nacional dos Medos, também conhecida por Pinhal do Rei, o qual foi mandado semear pelo rei D. João V, com o objectivo de impedir a progressão das areias dunares para o interior.
No perímetro da Arriba Fóssil são visíveis os marcos com o símbolo da Casa de Palmela, ao longo da antiga estrada que o monarca utilizava nas suas deslocações de Lisboa para o Castelo de Palmela.


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domingo, fevereiro 07, 2010
contemplação
a taberna do faustino

Seu Faustino abriu a porta da taberna. A mulher estava também já levantada, preocupada com a caiação dos quartos, que o filho casava para Outubro.
- Chama o rapaz, anda.
- Coitado, deitou-se ontem tarde. Bem sabes que foi à Charneca falar à namorada. E trouxe o assucar e o azeite.
O homem parou no meio do cimentado, a mão gorda suspensa no acto de abotoar a camisa.
- Cuidado com essas coisas… fora do racionamento… “
do romance “Fonte da Telha”, de Alexandre Cabral, Lisboa 1949
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sábado, fevereiro 06, 2010
tempos idos
nos caminhos das “fontes da charneca”
Numa caminhada de cerca de duas horas foram visitados:

Antigo depósito de água e Chafariz do Botequim

Poço de água (mineral cloretada sulfatada)

Fonte dos Casais da Charneca (antigo enchimento das Águas de S. Vicente)

Fonte ou mina de Nª Sª da Rosa (o povo diz se a Fonte de Santa Luzia)

Fonte do Convento dos Paulista (o povo diz ser a Fonte de Nª Sª da Rosa)

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sexta-feira, fevereiro 05, 2010
sonhar é construir
percorro insanos caminhos – oitavas
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Percorro insanos caminhos que eu traço
Nos grãos de areia que uma mão enchem,
Deixo divagações profundas que enlaço
No sentir de solidões que me preenchem;
E no suave cântico das Tágides me embaço
Na busca das inspirações no peito crescem.
No firmamento está Nour em doce enleio
Acolhendo meus pensares em seu seio
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Percorro insanos caminhos que desfaço
Os nós apertados duma vida de alguém
No caminhar de gigante que é o meu passo
Desenho liras de amor de que sou refém
Para atingir planuras de tão amplo espaço
Onde corro nómada do ir ainda mais além.
E no doirado areal que o mar acaricia e beija
Olha minha sombra meu reflexo que me reveja.
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Percorro insanos caminhos em que me enlaço
Com o pensamento posto em quem mais sofre
Neste mundo que com meu olhar trespasso
Palpitante coração sofrido guardo em meu cofre
No desejo imenso de perceber o que eu faço
Para melhorar na tranquilidade e não de chofre
Quando uma palavra tem mais valor que a riqueza
Desenhamos veredas de luz, de cor e de beleza
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Percorro insanos caminhos em que devasso,
Segredos guardados pelas pedras milenares.
São estreitas veredas, não o tempo a compasso,
Pois neste a viagem assenta nos mil pilares,
Que na vida eu construo e nunca mais desfaço,
Como a trama e a malha razão de ser dos teares.
Os mistérios milenares são riqueza e saber
Herança dos tempos que quero fazer crescer.
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Percorro insanos caminhos mar de sargaço
Navego aguadas gigantescas e tenebrosas
Ergo-me erecto e vertical qual valentaço
Nas ondas cavadas profundas, tumultuosas
Evoco as ninfas e os deuses do parnasso
Que por mim entoem poesias espantosas.
Depois de tanto navegar mares e marés
Arrojo-me reconhecido a seus pés.
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Percorro insanos caminhos sem cansaço
Subo montanhas e desço desfiladeiros
Quando necessário estugo meu passo
Teus olhos guias do firmamento luzeiros
Prometem o enleio o afecto de teu abraço
Nómadas dos sentires somos parceiros.
E no final dos tempos que começam
Terminam as promessas que professam.
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Percorro insanos caminhos tempo escasso
Na procura de uma imagem por mim sentida
Envolvo-me em górdios nós e em um baraço
De uma memória noutras eras construída
Em vivências pulverizadas em mil estilhaços
Pela vereda de existir já há muito percorrida.
Na certeza incorruptível do tempo que passa
Encontraremos um futuro de energia e graça.
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Percorro insanos caminhos do meu fracasso
Na procura da luz da esperança desenhada
Na pele de vincados sulcos na lama do cansaço
Que nos tormentos da vida sinto desesperada
Vocifero mas é no silêncio infinito que ameaço
Abandonar a senda desta luta definhada.
Mas no compasso do som dum violino virtuoso
Retomei o caminho desmedidamente luminoso.
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quinta-feira, fevereiro 04, 2010
música presente
a dívida e o deficit
Os governos são despesistas e corruptos… os banqueiros são corruptos e alarves!!!!
Quem é o culpado? O Povo, claro está…

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quarta-feira, fevereiro 03, 2010
escada infinita
Sonhei que era poeta
As palavras saltitavam na minha mente procurando o lugar próprio na frase a que davam sentido, mas sentido poético.
E sonhei que da arrumação das frases surgiram poemas autêntica homenagem ao corpo de mulher, ao corpo de uma bela mulher.
E para que tudo resultasse perfeito constituíram o número mágico de SETE, de sete poemas. Os olhos, o cabelo, os lábios e os seios. Depois o umbigo, as nádegas e as coxas. Sete poemas de muito encantar, aquém da beleza da mulher sonhada, num sonho as mais das vezes impossível de dominar.
Voar com o sonho e tentar recordar para que o registo tenha lugar e sentido, mantendo perene o que tão fugaz nasceu.
Guardar na memória o percurso infindável por terras e mares, por sentires e quereres, sem idioma nem bandeira.
Os Seios
Cachos de uva branca, doirada, de tão grande doçura,
Que nascem em teus ombros tão suaves e macios,
São frutos maduros que uma paixão sincera e pura
Deseja colher apreciar amar em lascivos desvarios.
A magia da Natureza esculpiu tamanha obra de arte,
Que representa as mais belas colinas do Universo,
Nelas se espraia a luminosidade do sol de Gaudi que parte
Com destino à sensualidade da mulher que eu verso.
Se flores houvesse que tanta beleza nos oferecessem,
Rosas negras, mamilos de tons que na paleta estão perdidos,
Que o desejo e o muito querer animam e florescem
Para delírio de nossos olhos e de todos os sentidos.
Na praia seriam doiradas dunas, sensuais no sentir,
Onde o mar se espraia e vem beijar com ternura sem fim,
Excitando os amantes que encontram aí o devir
Mesmo quando o pensar diz não, o coração diz sim..
Seios, belos seios de mulher apontam o infinito,
Magníficos de desejo, sensualidade e delicioso sabor,
Que de tão perfeitos, esculpidos por artista que é um mito
Criado pela alegria de viver que nos enchem de amor.
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terça-feira, fevereiro 02, 2010
tulipa de paixão
pôr-do-sol na arriba fóssil
Quando o Sol, no seu diário movimento, mergulha com doçura no Oceano, lá bem longe na linha do horizonte, vai criando uma mudança ímpar na paleta das cores da Natureza. Do azul, como só existe no céu da Caparica, passando por vermelhos que são tonalidades diversas do fogo, escurecendo até quase ao negro para depois, numa reviravolta na paleta das cores, fulgir em doirados únicos e maravilhosos.

Sugiro uma ida até à arriba sobranceira à Fonte da Telha, ali para os lados onde se diz terem existido minas do áureo metal, para admirarem a mais bela imagem do pôr-do-sol esplendoroso com os pinheiros mansos em contraluz.
Etiquetas: arriba fóssil, mar, por-do-sol
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
flores singelas
os nomes que lhes dão
Subida íngreme que vinha cruzar com a então designada “estrada militar” e a que os populares chamavam “descida das vacas” designação que ganhou raízes, foi oficializada, fazendo hoje parte das designações encontradas na cartografia mais pormenorizada. Mas também muito perto está uma vereda a que chamam o “caminho das figueiras” e mais além o local conhecido por “mina”, de uma mina de oiro, “Adiça” já referenciada no tempo do Império Romano.
É curioso de analisar o facto de que as gentes davam nomes a sítios e coisas de uma forma sentida e forte, telúrica mesmo, coisas que a terra continha, que nasciam da terra, que viviam da terra, enriquecendo-a. Quantos milhares de vacas não terão descido (e mais difícil, subido) por aquela íngreme ladeira até delas recolher o nome? Era pura transumância de gado e gentes na procura de alimento e de algum rendimento.
Uma ligação estreita entre as gentes que trabalhavam os campos, agricultores, pastores, proprietários, rendeiros e aqueles que diariamente se afoitavam mar adentro nas artes piscatórias que haviam para aqui trazido de regiões do norte, como Ílhavo, por exemplo, ou do sul, das costas algarvias e do sudoeste alentejano.
Estes caminhos foram estradas romanas, quando os imperiais invasores se deslocavam para a pesca e para a exploração das minas auríferas; Foram caminhos reais, D. João V mandou plantar pinheiros mansos na zona dos medos de forma a segurar as areias e D. João VI percorreu estes caminhos nas suas caçadas e para degustar uma saborosa caldeirada; Foram caminhos de peregrinos que anualmente os percorriam integrados nos Círios a Nossa Senhora do Cabo Espichel, que se realizavam no promontório barbárico.
São caminhos da tradição, são rotas do nosso imaginário cultural.
Etiquetas: minha terra, nomes