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sábado, janeiro 31, 2004

bem me quer


sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Um sorvete de cajá

Os resultados da noite de muita chuva, mesmo tempestuosa, estavam ainda bem visíveis, embora a manhã já avançada se apresentasse calma e luminosa. A água corria a jorros pelas valetas, onde os sumidouros não haviam sido suficientemente eficazes para absorver tanta quantidade de água.

Bastante lixo espalhado pela rua, estruturas mais frágeis destruídas, pequenos ramos de árvores partidos, eram marca da violência das chuvadas da noite anterior, que as brigadas da limpeza procuravam resolver.

A Escritora e o Fotógrafo encontraram-se na calçada, tal como haviam combinado dois dias antes, na certeza de que as condições climatéricas não iriam permitir um frutuoso trabalho de rua, mas que seria de grande utilidade conversarem um pouco mais sobre os projectos em curso.

Ao virar da esquina, a Escritora fez uma proposta irrecusável, pois embora o dia ameaçasse mais chuva a temperatura era bem elevada, coisas do Verão nordestino.

_ Vamos tomar um sorvete?
_ Que doce proposta! Vamos a isso!
_ Vais provar um sorvete de cajá... vais ficar deliciado!

O Fotógrafo viera das terras do longe e ficava deslumbrado, a cada dia que passava, com as cores, os cheirinhos, os sabores de tanta variedade de frutos que o Brasil oferece com tamanha profusão.

_ Sim... Vamos tomar um sorvete de cajá!

E lá foram até à sorveteria onde a Escritora ainda ralhou com o empregado por querer que o gelado fosse muito bem servido. Agora calçada acima muito mais animados com tão saborosa degustação.

O dia estava a mostrar-se surpreendente. Junto ao largo onde a Prefeitura mandara colocar três ou quatro bancos de jardim para que as pessoas pudessem descansar das dificuldades da subida, um grupo de meninos observava maravilhado os desenhos feitos com mosaicos numa intervenção de rua anterior.

A mensagem estava a ser passada numa linguagem que eles bem entendiam. A Escritora ainda comentou:

_ Este é um passo importante para que os meninos ganhem o gosto pela leitura!

Depois, o Fotógrafo começou a escrever mais uma bela página do seu diário, com a máquina fotográfica em acção, enquanto que a Escritora recolhia belas imagens com o clicar dos seus bonitos olhos.

_ Clapt! Clapt!

Uma saudação de alegria, mão com mão. Para o observador atento neste juntar de mãos num “clapt!” houve um ligeiro apertar de afecto entre a mão da Escritora e a do Fotógrafo.

sexta-feira, janeiro 30, 2004

este mar que nos une


o caminho da vida

1
Caminhei a vida
Sonho feito realidade, mas sempre sonho
Percorri alegre jardim de esperança
Na Primavera
Senti flores crescerem à minha volta
Eu próprio alegria
Com a cor indiscritível de teus olhos
Tu e eu

2
Felicidade sentida
Viver no querer sempre maior
De ser e possuir; Do viver
Do dar
E também do receber, do receber-te
Por mil perigos
Por muitos sobressaltos caminho percorrido
Docemente.

3
Lado a lado, sempre
No pensamento a ausência fere
No corpo a presença anima
Dá vida
E o caminho por vezes tortuoso
Que conduz ao infinito
É pelo sonho apresentado luminoso
Cor de esperança.

4
Teu doce corpo
Teu ser é meu ser, é sol
É calor
Construção do sentir sobre o nada
Escolhos vencidos
Em caminho lado a lado percorrido
Ternamente.

(continua)

quinta-feira, janeiro 29, 2004

imagens da nossa costa


elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Esta Liberdade não a desejava Bocage

José Seabra da Silva e outros amigos influentes tinham convencido o Intendente de que Bocage não seria fonte de perigo, pelo que nem sequer a acusação de mação que uma senhora caridosa lhe fez teve qualquer influência .

Seabra convidou-o a trabalhar na Real Biblioteca, mas Bocage não aceitou pois não conseguia ver-se durante um dia de trabalho fechado entre quatro paredes, mexendo e remexendo em livros antigos e bolorentos, inalando a poeira das estantes.

Contudo, o dinheiro fazia-lhe falta para seu próprio sustento e para o ponche que ia beber a Taberna das Parras e, ainda, mas o sustento de sua irmã Maria Francisca, que já não contava com a ajuda da Marquesa de Alorna, desde que esta fora para Inglaterra.

Foi, então, viver ali para os lados da Calçada do Combro, em Lisboa, onde aperfeiçoava as suas versões e adaptações de Ovídio ao mesmo tempo que procurava ganhar algum dinheiro com traduções de obras muito procuradas na época, especialmente narrativas e poemas sobre as belezas naturais que estavam, então, muito na moda.

O negócio tornou-se tão próspero que o director da Casa Literária do Arco do Cego, da cidade de Lisboa, resolveu assalariar Bocage, dando-lhe, assim, um pouco de desafogo financeiro, mas obrigando-o a viver rodeado de dicionários, de anotações de revisão, de frases fabricadas o que muito o contrariava. Mas havia que garantir alguns meios de subsistência.


Soneto XL (erótico)

Pela rua da Rosa eu caminhava
Eram sete da noite, e a porra tesa;
Eis puta, que indicava assaz pobreza,
Co’um lencinho à janela me acenava;

Quais conselhos? A porra fumegava;
“Hei de seguir a lei da natureza!”
Assim dizia e enfeitou-se a empresa;
Prepúcio para traz a porta entrava;

Sem que saúde a moça prazenteira
Se arrima com furor não visto à crica,
E a bela a mole-mole o cu peneira:

Ninguém me gabe o rebolar d’Anica;
Esta puta em foder excede à Freira,
Excede o pensamento, assombra a pica!


quarta-feira, janeiro 28, 2004

imagens da minha terra


Quinta do Alemão - Valle de Rosal


sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com a consultoria e o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Moscatel de Setúbal

O Moscatel de Setúbal é um vinho licoroso, cuja graduação alcoólica varia entre os 18 e 20 graus, sendo preparado na região demarcada de Azeitão, donde têm origem as uvas que lhe servem de base.

Os vinhos mais jovens, engarrafados após permanecerem cerca de cinco anos em cascos de madeira, apresentam uma cor alaranjada raiada de ocre e um sabor com notas adocicadas a moscatel. Com 20 ou mais anos de reserva na madeira ganham em cor, mais profunda e intensa, prevalecendo os aromas a laranja, amêndoas e flores silvestres.

Existem dois tipos de Moscatel de Setúbal, o branco e o roxo, elaborados, respectivamente, a partir das castas Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo.

A área geográfica correspondente à Denominação de Origem "Setúbal" abrange os concelhos de Palmela, Setúbal e parte da freguesia de Nossa Senhora do Castelo, do concelho de Sesimbra.

Consoante o tempo de permanência na madeira, assim o Moscatel de Setúbal se torna mais raro e especial. Em primeiro lugar, situam-se os vinhos jovens, entre 5 e 10 anos de reserva em madeira; depois, com grande qualidade os que têm 20 anos de reserva; finalmente, os mais exclusivos, aqueles que permanecem 50 anos em reserva de envelhecimento.

Algumas raridades estão cotadas ao nível dos melhores vinhos do Mundo:
Vinho Moscatel de Setúbal 1934 - €299,50/75cl
Vinho Moscatel de Setúbal 1900 - €514,73/75 cl
Vinho Moscatel de Setúbal “Trilogia” (1900 + 1934 + 1965) - €124,86/50cl




Queijo de Azeitão

O fabrico do Queijo de Azeitão implantou-se na região nos anos 30 do século XIX, sob influência de um proprietário de Azeitão com raízes na região da Serra da Estrela. Segundo consta, por essa época, Gaspar Henriques de Paiva, um lavrador da Beira Baixa, terá mandado vir da sua terra natal um pastor acompanhado por um rebanho de ovelhas. Inicialmente, semelhante àquele queijo da Beira, o Queijo de Azeitão foi reduzindo gradualmente as suas dimensões, até chegar, já neste século, aos actuais 100 a 250 gramas.



O Queijo de Azeitão deve muito da sua singularidade às características dos solos da região e ao clima da Serra da Arrábida, factores de influência decisiva nas pastagens e, obviamente, no leite fornecido pelos rebanhos. A flor de cardo com que é feita a coalhada, nas queijarias tradicionais, e que só se encontra na região, marca igualmente este queijo de sabor distinto.

O Queijo de Azeitão apresenta pasta semi-mole amanteigada com poucos olhos, possui uma crosta maleável, inteira e lisa, amarelada ou avermelhada, ligeiramente mais espessa que o seu homólogo serrano. A sua área de produção abrange os concelhos de Palmela, Sesimbra e Setúbal e o controlo e a certificação são feitos pela Associação Regional de Criadores de Ovinos Leiteiros da Serra da Arrábida. É frequentemente servido como aperitivo, pois alguns dos compostos do cardo utilizado na sua confecção contribuem para estimular o apetite. Também pode ser servido no final da refeição, tendo sempre o cuidado de o saborear depois do último prato de substância e antes da sobremesa. A melhor época para o Queijo de Azeitão é a que vai do Natal ao Carnaval, devido ao frio e à humidade que se faz sentir nessa época do ano e com as quais o queijo adquire as melhores condições de cura, ficando com o sabor mais apurado.



terça-feira, janeiro 27, 2004

aqui... onde o tejo beija o mar



a rota do andarilho

Rosto marcado no sofrer de um sonho destruído
Olhos cavados, baços, lágrimas secas desde há muito
Em vigílias passadas com a mente agitada e febril
Tentando fugir da realidade implacável e cruel.

Vivendo o sonho, imagens perfeitas e harmoniosas
Julgando infindável a capacidade de amar e o ser amado
Caminhando tortuosos rumos, evitando a desilusão
Atinge o infinito onde a clarividência é soberana.

Onde olhando para trás não destingue o caminho percorrido
O andarilho vê-se descalço, nu e sem imaginação
A realidade é, então, fria, crua, verdade simplesmente
Não lhe sendo dada possibilidade de corrigir os erros cometidos.

Iniciada a fase de destruição do pensamento
Os sonhos são desfeitos para dar corpo à realidade
A mente tenta fixar o pormenor da felicidade que se dilui
O rosto apresenta sinais de fadiga e de desespero.

morango do nordeste

.....
Com essa mulher vou até p'ra praia
Ou para a serra...não para a guerra
.....


segunda-feira, janeiro 26, 2004

uma flor para... miklos féhér


Será que é necessária a morte para que os homens se entendam?

do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Pensar “a Pá”

Meu pai sempre tinha o costume de sair sozinho logo após o almoço de Domingo. Almoço tomado em família: meu pai e minha mãe, minha avó Esménia e eu, sempre terminava com a saída de meu pai para “dar uma volta”. Eu reparava que minha mãe ficava mais triste nessas ocasiões.

Fui apanhando as conversas que minha mãe tinha com minha avó ou com minha tia, quando esta nos visitava, muito embora não falasse muito no assunto. Minha mãe era mais de ficar calada, de sofrer “para dentro”.

Mas das conversas e com o meu fraco entendimento do assunto, apercebia-me dos temores e das preocupações de minha mãe. “_ Será que o meu marido tem uma amante?” Ou então entrava por caminhos mais sobrenaturais. “_ Diz-se que o meu marido vai para a serra dos moinhos falar com a mãe que já faleceu há muitos anos...”

Nos domingos de Inverno, quando escurecia mais cedo, muitas vezes com a chuva a fustigar as vidraças da janela que dava para o nível da rua, pois a nossa casa era a cave de um prédio, colava a cabeça na referida vidraça na expectativa de ver chegar o meu pai.

Na minha cabeça girava já um turbilhão de preocupações com a ausência do meu pai e a tristeza de minha mãe. Ficava então pensativo, ausente. Quando me perguntavam “_ Em que pensas, Victor?”, respondia invariavelmente “_ a Pá!”.

domingo, janeiro 25, 2004

capelas da charneca de caparica



Ermida do Bom Jesus - Encontra-se junto da residência da Quinta da Regateira, na Charneca de Caparica. Está privada de culto há bastante tempo. Tem a data de 1774 nuns azulejos. Pertenceu a Domingos Rosa; depois a Domingos dos Santos e, actualmente, é propriedade dos herdeiros de Luís Álvaro

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Flores da Madeira

Depois da "Rota das Ponchas" aqui descrita e que se prolongou por todo o dia, fomos esperar ao aeroporto de Santa Cruz um companheiro nosso, que vindo do Porto, chegou mais tarde, chegou no avião da noite.

Quando teve conhecimento do "avanço" que lhe levávamos quis recuperar. Calculam o que lhe aconteceu, por certo.


VII
Camacha, em plena serra, é ponto obrigatório de turista ir. Contudo, quando a peregrinação é feita na boa companhia de um madeirense, bem conhecedor do local, é bastante mais aliciante. A Camacha é demais conhecida pelo seu rancho folclórico e pelos trabalhos de vime. Menos conhecida, mas não menos saborosa, é a “camacheira” - poncha de preparação especial que só ali se bebe.

“O Relógio” local de venda de artefactos de vime e que tem um cantinho que é um autêntico Museu do Vime é local de visita obrigatória na Camacha. Trabalhos maravilhosos, representando animais selvagens, fazem parte desse Museu que o visitante não deverá ignorar.

VIII
Percorrendo as sinuosas estradas da serra, deixando o olhar espraiar até às profundezas dos vales onde as aldeias mais parecem miniaturas de brincar, lá vamos descendo de novo em direcção a Santa Cruz, nossa terra de eleição para base de repouso (?). Bordejando o caminho e ladeando os ribeiros tufos imensos de vime aguardam a maturação para virem a servir de matéria-prima aos maravilhosos artefactos tradicionais da região.

Lá para trás, na Camacha, deixámos inolvidáveis recordações. Além da “poncha camacheira” e dos rostos bonitos das camacheiras só comparáveis em beleza com os das maravilhosas moçoilas do Santo da Serra, ficou também “O Relógio”, verdadeiro Museu do Vime.

IX
Continuámos a descer serra abaixo. Vínhamos a percorrer o que, sem forçar a nota, poderíamos chamar “a Rota da Poncha”. Em cada curva da estrada que parece não ter rectas uma tasquinha era uma sugestão de poncha. A seguinte sempre melhor do que a anterior, o que é da tradição ou talvez fosse sugestão.

O Freitas conhece em pormenor estes locais, trata por tu os donos. O viajante é recebido com carinho, como se de um velho amigo se tratasse. E sai mais uma poncha preparada na altura.

nota: visitem o novo blogue do J Carvalho Fernandes para melhor conhecerem a Madeira

sábado, janeiro 24, 2004

ainda o amarelo


sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Trabalhar uma nova comunidade

O fotógrafo e a escritora sentaram-se, lado a lado, no banco do jardim sobranceiro ao mar azul, tão amplo e tão belo, “marzão bonito” como tantas vezes a escritora deixava gravado no seu arquivo de imagens e outras tantas descrito em textos de encantar que o fotógrafo produzia com sua máquina fotográfica.

Estavam silenciosos, pareciam mergulhados em seus pensamentos próprios, isolados do Mundo que os rodeia, parecendo até isolados um do outro, solidão, embora estivessem tão juntos.

Pura ilusão. O sorriso que aflorou em simultâneo aos lábios da escritora e do fotógrafo desmentiam tal situação. Algo sintonizava seus pensamentos e sentires. Saíram dos profundos pensamentos, olharam-se nos olhos e, num fulgor de entendimento, levantaram-se e começaram a caminhar tranquilamente.

Caminharam cidade adentro, foram deixando para trás os belos apartamentos, lojas e restaurantes sempre iluminados mesmo em pleno dia. A paisagem humana mas também os edifícios foram-se mostrando diferentes.

O ambiente era mais agressivo e os edifícios degradados, mas o fotógrafo observava com curiosidade a forma como muitas mulheres, sem dúvida mãews, saudavam amigamente a escritora. Ele sentia-se orgulhoso pela sua companheira de caminhada.

_ Querido amigo, estamos chegados ao meu destino de hoje. Estou a entrar noutra comunidade. Tenho trabalho para preparar.

_ Vai tranquila. Fico aqui na rua a ver as pessoas. Eu sempre espero por ti.

Separaram-se. Separaram-se? A escritora lá seguiu para o seu trabalho diário, duro labor, mas muito ....

O dia anterior fora passado em reuniões com as lideranças do projecto, na preparação da estratégia de mobilização e de inscrição e no estabelecimento do cronograma e da área a ser trabalhada.

O trabalho com os meninos da rua vai ser aplicado na prática com a participação de alunos de duas escolas que antes de descerem às ruas vão desenvolver oficinas temáticas a respeito do conteúdo de saneamento ambiental. Os meninos através da elaboração de desenhos e de frases quadrinhas ficam sabendo como utilizar bem o sistema de esgotamento sanitário que está sendo implantado ou recuperado em suas comunidades.

O tempo que passa cumpriu a sua função. A escritora regressou à calçada onde o fotógrafo a esperava parecendo saber o momento exacto em que o regresso se daria.

A noite já estava aí. Bem à sua frente a Lua na sua primeira tirinha do Crescente iluminava a calçada mais parecendo Lua Cheia. Como companheiro bem junto a si, o planeta Vénus dava mais luz ao firmamento.

Em uníssono disseram: _ Vamos!


sexta-feira, janeiro 23, 2004

este mar que nos une


os frutos do alentejo

Soprava o vento Suão
Dos confins do Alentejo
Com ele aumenta o pão
E exacerba o desejo.

Nas planuras sem fim
Onde o olhar não alcança
Julguei ver-te junto a mim
Em estranho passo de dança.

Teus cabelos esvoaçavam
Mais pareciam espigas raras
Eram espigas que deixavam
Doce aroma nas searas.

Teus olhos da cor do mar
Cintilavam vida e querer
Na luta de ver crescer
Os frutos do muito amar.

A tua boca brejeira
Suave, da alma o espelho
Na planície bandeira
Bandeira de cor vermelho.

Os teus seios baloiçavam
Danças da fecundação
Docemente aparentavam
As espigas prenhes de pão.

O teu corpo, Liberdade
Nos campos do Alentejo
Trabalho, frutos, verdade
Vitória que em ti revejo.



quinta-feira, janeiro 22, 2004

tormenta


elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Enfim, livre!

Mesmo movimentando todas as influências e versejando para as damas que deleitadas iriam pressionar os maridos, a liberdade de Bocage ainda tardou. Tocado pelos senhores do poder, o desembargador Morais Brito despronuncia Bocage de delito contra o Estado, de que se encontrava acusado e incriminado, e entrega-o à Inquisição por erro religioso.

A Inquisição já não era o que antes fora. Desde o Marquês de Pombal que se transformara num tribunal benigno, para manter a sua existência. A Inquisição condena Bocage a receber a boa doutrina o que vai acontecer no mosteiro de S. Bento da Saúde, onde hoje funciona a Assembleia da República.

Manteve-se por pouco tempo neste mosteiro. É convencimento que terá movido novas e mais fortes influências para melhorar a sua situação. A verdade é que o Intendente da Polícia, homem influente na Corte, deu ordem a 22 de Março de 1798 para que Bocage fosse transferido de S. Bento para o Hospício das Necessidades.

Bocage foi entregue à direcção espiritual do Padre Joaquim de Fóios, homem de poesia e do saber, pertencente aos congregados do Oratório, os mais cultos religiosos de Lisboa. O Príncipe Regente foi brindado por Bocage com algumas odes de excepção, tendo-o compensado, por isso, com esmolas que lhe enviava sempre envoltas num sermão de moral.

Bocage era duro de roer. Se por um lado lhe incutiam no espírito religiosidade com que pretendiam modificar sua maneira de ser, ele nunca perdia a oportunidade de estabelecer longas conversações com gente leiga, como é o caso do Conde de S. Lourenço, amigo de Correia Garção, um velho filósofo que transformou tempos de cárcere de Bocage em “horas doiradas”.

Em 1979 mandam Bocage em paz.


Diálogo entre o Poeta e o Tejo

Poeta:
Tejo que tens, estás quedo?
Não banhas hoje esta praia?
De que o teu valor desmaia?

Tejo:
Eu te digo, mas segredo:
Confesso que tenho medo
Do teu ranchinho infernal.

Poeta:
O teu susto é natural,
Parecem três furiasinhas,
Mas contudo são mansinhas,
Não mordem, não fazem mal
-------------------------------
São uns cornos muito bem feitos,
Uns cornos mui delicados
São cornos, que torneados
Se podem trazer aos peitos:
Cornos que sobem direitos,
Pela sua varonia,
E sem mais cronologia
Tem gravados na armadura
Os timbres da fidalguia.


quarta-feira, janeiro 21, 2004

imagens da praia do sol


redondo, no alentejo profundo

Faz parte do ritual das visitas ao Redondo, no coração do Alentejo português, subir até ao Largo do Pelourinho e aí procurar caminho para o restaurante O Barro, para um almoço reconfortante. O local do repasto distribuído por dois pisos é agradável na decoração e acolhedor por parte das pessoas que lá trabalham.



Desta vez, a minha opção para o prato principal foi para uns Pézinhos de Coentrada, de longe a minha preferência na cozinha alentejana, confeccionados com arte e saber, a preceito como soe dizer-se, em que além dos coentros se sentia um ligeiro sabor a poejos. Uma delícia.

Nas entradas os mimos da região, queijos e enchidos, e na sobremesa a sericá com a ameixa a completar. Acompanhei a refeição com vinho da Adega Cooperativa do Redondo. O serviço é agradável e com o café vem a oferta da casa, nozes para partir ao momento ou bolinhos caseiros e o incomparável licor de poejo que tão bom é como digestivo como servido como aperitivo para fazer “boca” à deliciosa comida alentejana.

Estômago confortado, calçada abaixo na direcção da Olaria Maquinista, o próximo destino.

As peças de olaria que são produzidas pela família Maquinista aproximam-se mais do estilo da loiça de São Pedro do Corval do que da produzida localmente. Apresentam, contudo, muita inovação e bom gosto ao que não é estranha a presença e laboração de muitas jovens sentadas a roda do oleiro e na mesa de pintura.

Claro, que estas peças, moldadas com afecto e com arte, comportam muitos segredos que passam de geração em geração, no seio familiar. O pouco que conseguimos saber, os 14 passos da sua manufactura, aqui ficam partilhados.

1. Moldar na roda do oleiro
2. Seca ao sol forte do Alentejo
3. Limpar com uma esponja húmida
4. Tintar com caulino para marcar
5. Secar a pintura do caulino
6. Riscar o desenho pelo artista da casa
7. Pintar o desenho; as ajudantes pintam os cheios
8. Limpar os excessos de tinta
9. Enformar para cozer
10. Primeira cozedura a 960 graus
11. Dar o vidrado
12. Limpar os fundos
13. Cozer no forno o vidrado a 1060 graus
14. Desenformar

As belas peças da tradicional loiça do Redondo, com a variante de São Pedro do Corval, ficam prontas a serem apreciadas pelos amantes de tão bela cerâmica.



terça-feira, janeiro 20, 2004

imagens de portugal


Monsaraz

almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Venham ver as Acácias em Flor na Caparica

A partir dos princípios de Fevereiro, quando as condições climatéricas são precocemente primaveris, ou no decorrer do mês de Março, quando estas são mais adversas e teimam em prolongar a invernia, toda a zona compreendida entre as designadas "terras da Costa" e o Mar Atlântico cobre-se profusamente de um manto amarelo dourado, com o florescer do acacial.

Esta zona de vegetação, ímpar no nosso País, além da função primordial de fixação do longo areal que vai da Trafaria à Fonte da Telha, protege as fecundas "terras da Costa" da brisa do mar e serve de tampão aos fogos florestais, tendo em conta a sua fraca capacidade combustível.


Designada "Mata das Dunas da Trafaria e da Costa de Caparica", integrada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, foi instalada entre os finais do século XIX e os anos 60 do século passado, com a finalidade de fixar as areias de dunas móveis, estendendo-se pela zona fronteira à arriba, sendo constituída essencialmente por várias espécies de acácias (Acácia sp.), predominando a Acácia cianophyla.

Se a instalação cuidada e sistemática do acacial data de anos recentes, com existência entre os trinta e os cem anos, a sua florescência espontânea perde-se na bruma dos tempos imemoriais, encontrando-se referências lendárias dispersas, sem marco nem era determinados.

Na época da floração do acacial, quem percorre a Descida das Vacas, vindo da Charneca de Caparica na direcção da entrada para a Praia do Rei, ao virar na curva sobranceira ao mar, é agradavelmente surpreendido por uma paisagem sem igual, onde um vasto manto verde se apresenta profusamente salpicado de vários cambiantes de amarelo, dependendo do estado de maturação das suas flores.

O amarelo, contrastando com o azul do mar e do céu, com o verde da vegetação, reflectindo a luminosidade ímpar do Sol da Caparica, emana fulgores dourados que estão, por certo, ligados ao imaginário popular do ouro amoedado que enriquecia a capa da velha, uma "Capa-Rica", segundo a lenda, na origem do topónimo de Caparica.

Não é difícil de crer que a velha mulher que a lenda refere, descesse do interior onde vivia num pobre casebre até à borda d’água, até ao acacial onde colhia muitas flores douradas que transportava no interior da sua capa. Os vizinhos e outras pessoas com que se cruzava vislumbravam laivos dourados consoante a misteriosa mulher se deslocava, imaginando que transportava consigo ouro amoedado de não menos misteriosa origem. Daí à lenda foi um passo, não muito longo, por certo.

O Gabinete da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica tem instalado nesta zona, à beira da Praia da Rainha, um Centro de Informações que proporciona aos visitantes passeios guiados por esta maravilhosa zona, percorrendo trilhos e caminhos onde a observação do acacial é mais interessante.

segunda-feira, janeiro 19, 2004

uma flor para a célia


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Passarinhos, passarinhos

Do lado de minha mãe eram sete irmãos. Mais concretamente, duas irmãs e cinco irmãos. Como sempre acontece em todas as famílias numerosas, de entre os irmãos de minha mãe, um tio tinha a minha preferência.

Era o irmão mais novo, logo a seguir à minha mãe, chamava-se Ventura, e desde sempre o conheci como caseiro da quinta de um dos homens mais abastados da região Oeste, uma quinta situada em Enxara do Bispo. Eu ficava encantado de passar alguns dias das minhas férias na liberdade e no contacto com a Natureza que a estadia nessa quinta me proporcionava.

Alguns anos mais tarde, fruto de algum desaguisado com o patrão, o meu tio deixou a quinta onde havia trabalhado longos anos, onde casara e fora pai, tendo ido viver para um casal que tomou de renda, o Casal do Mariola. Nesse casal , bem mais perto na terra natal de minha mãe, alguns anos passei minhas férias de Verão.

Em Lisboa, acompanhando o meu pai quando ele ia às compras à baixa lisboeta, sempre me deliciava com o cheirinho a passarinhos fritos, petisco tradicional das velhas tascas alfacinhas. Era um “repasto de reis” quando o meu pai me comprava um passarinho frito dentro de uma carcaça de pão.

O meu tio, sabendo desse meu gosto gastronómico, numa das minhas idas ao casal propôs-me fazer uma caçada de passarinhos que minha tia confeccionaria o petisco. Tamanho entusiasmo e expectativa com que fiquei, mal dormi a noite que antecedeu a madrugada marcada para a caçada.

Manhã muito cedo lá fui com o meu tio lançar uma rede na boca de um poço onde centenas de passarinhos pernoitavam. Depois, foi enxotá-los, que na sua aflição de fuga se emaranharam na rede e aí estava uma caçada grande e frutuosa. Os passarinhos bem tentavam fugir mas estavam condenados a serem mortos, depenados e fritos em saborosa banha de porco.

Perante aquele espectáculo de vida e para espanto do meu tio só tive uma reacção: _ Tio não quero os passarinhos. Ponha-os em liberdade que eu gosto muito de os ver voar.

Nunca mais comi passarinhos fritos na minha vida. E as únicas caçadas que faço é com a utilização da minha máquina fotográfica, com que procuro escrever algo sobre passarinhos.

domingo, janeiro 18, 2004

imagens da minha terra


o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Flores da Madeira

O meu amigo Freitas era, na realidade, um homem extraordinário. Já passaram vinte anos e de há muito que não sei da sua vida, ou da sua morte, pois já na época a idade avançada e alguns problemas de saúde não eram bom augúrio.

Conecido na Ilha da Madeira, como só o seria o "menino João", era saudado efusivamente onde passasse com o seu "Marabelhas". A todas as saudações correspondia com uma boa disposição excepcional.

Se a alguém devesse dedicar estas "Flores" seria sem dúvida ao meu amigo Freitas.


IV
O roteiro gastronómico não poderia ser ignorado nesta deliciosa viagem. E falando em gastronomia logo nos ocorre as tradicionais espetadas que só em “seu sítio” têm o verdadeiro paladar. Subimos à Portela, a mais de 600 metros acima do nível do mar, para aí na “Casa da Portela” nos deliciarmos com uma espetada preparada mesmo ali à vista de todos nós. Claro, antecedendo como aperitivo tomámos uma poncha, bebida aperitivo/digestivo característica da Madeira e que muito irá ser falada nestes apontamentos.

Percorrendo as estradas de montanha, sempre acima dos 800 metros de altitude, e caminhando pelo Santo da Serra, Poiso (1410m), Ribeiro Frio, Camacha e descendo novamente até Santa Cruz, com passagem pela “Varanda”, seguimos a “Rota da Poncha”. O Freitas, nosso inseparável companheiro, lá nos levou aos locais onde melhor poncha se bebe.


V
A poncha pode ser bebida fria ou morna, é um excelente “calorífero” para compensar o frio que se sente no alto da serra. A melhor de todas é a que é preparada na altura, como se diz “ao momento”, de acordo com uma fórmula e um processo cuja origem se perde na bruma da montanha.

Receita da poncha: Mistura-se uma parte de sumo de limão com outro tanto de mel puro de abelhas. Utiliza-se um utensílio apropriado feito em madeira para conseguir a perfeita ligação dos dois ingredientes. Após o que se junta aguardente de cana em quantidade igual à da mistura antes obtida. Mais um ligeiro toque na mistura e a Poncha está pronta a servir.


VI
Quem vai a Ribeiro Frio, lá bem no alto da serra, não deverá perder a oportunidade de visitar os viveiros de trutas. Com água gelada a correr pelas veredas cobertas de fetos, esfriando mais o ambiente já de si frio pela altitude, as trutas nos diversos pontos do seu desenvolvimento são um espectáculo deveras aliciante.

Naquela altitude, inspirar profundamente o ar ambiente, húmido e rarefeito, pode provocar uma ligeira tontura, mas é sem dúvida revigorante e inesquecível por muitos anos que passem.

sábado, janeiro 17, 2004

capelas da charneca de caparica



Capela de Nossa Senhora da Conceição da Charneca - Por devoção dos habitantes da povoação da Charneca de Caparica, nos anos setenta do Século passado, foi construída uma capela pública consagrada à Padroeira de Portugal, elevada, a seguir, à categoria de sede de vicariato.

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtem as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Caminhando calçada acima

Lado a lado, caminharam calçada acima, bem para o interior do bairro degradado e pobre, situado mesmo ali à beira de uma grande e bela cidade. Seguiam silenciosos, absortos nos seus pensamentos. Naquele momento as palavras não eram necessárias, pois sem elas se estavam na mesma comunicando, permuta de mensagens quase diria codificadas, num cruzamento profundo dos pensares. A cumplicidade estava no auge dos sentires.

Ele, cabelo e barba fartos e brancos, fotógrafo com a sensibilidade na ponta dos dedos e no olhar atento, habituara-se com o passar dos anos, a escrever ideias e sentimentos com uma máquina fotográfica.

Ela, jovem, cabelo curto a desenhar a asa de uma exótica ave, escritora, e tantas outras coisas numa vida plena de solidariedade, obtinha as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios bem desenhados no seu olhar doce e profundo.

Caminharam, caminharam tranquilamente naquele bairro que tantos apontavam como violento e marginal, mas que nem por isso deixava de ser constituído por pessoas. Caminhavam com a tranquilidade de quem vai no rumo certo, de quem acompanha um sonho premonitório.

Pararam um pouco. Se olharam nos olhos. Era importante agora dizer algo, tanta coisa que lhes atravessara o pensamento enquanto silenciosos caminhavam lado a lado.

_ Você já viu quanta mudança desde que pela última vez caminhámos esta calçada?

_ A comunidade está mesmo a mudar. Já não vês tantos meninos na rua como dantes...

_ Encontraram seu caminho... as calçadas estão mais bonitas, a higiene é maior. Vê aquela parede com uma tão bonita pintura mural... e que bela mensagem contém...

_ Hum! Que lágrima atrevida a brotar de teus olhos...

Continuaram a subida da calçada, sem qualquer receio. O Povo quando é mais feliz é menos violento. Na realidade, a salubridade parecia ter decidido instalar-se por ali.

Pararam. A escritora começou por sorrir, riso aberto logo depois. Forte gargalhar a ecoar na calçada.

_ Você está a ver que creche bonita? Novinha, ainda em acabamentos. Que alegria!

_ Sim! Hoje está a ser um dia surpreendente.

_ Imagina este espaço cheio de crianças... imagina a felicidade das mães por terem um lugar decente onde deixarem seus filhos...

_ Me sinto feliz também... Pela obra e pela felicidade que tu estás sentindo.

_ Já viu? Esta cidade maravilhosa, com o oceano azul aqui tão perto a confundir-se com o céu... Mas quanta carência ainda tem, com gente pobre sem condições de vida.

_ Mas este Povo está a recuperar a dignidade e a cidadania. A Esperança, aquela do Cavaleiro, é mais forte do que nunca.

Estavam extasiados com tamanha mudança. O Mundo tem que conhecer a força e a vontade de um Povo com Esperança.

_ Sabes, muita gente tenta ignorar estes passos gigantescos no caminhar da Felicidade. Ou porque não estão a ser directamente beneficiados, ainda não chegou a sua prioridade; ou porque não procuram informação adequada.

_ Minha querida, vamos à acção: fotografe tudo com o seu olhar tão belo...

_ E tu escreve, escreve com sua máquina fotográfica; o Mundo deve saber o que este Brasil de encantamento está realizando.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

imagens do meu arquivo


mais mimos para a oficina

Não sou mal agradecido. Não exagero na minha modéstia. Reconheço a importância das palavras que me são dirigidas. Cada comentário que me fazem é um ensinamento. A minha presença na blogoesfera e na Vida é uma constante procura de Felicidade. Sinto-me feliz quando partilho e quando comigo partilham. A partilha do Saber é a única forma de o Mundo crescer.

Custa-me, no entanto, trazer para aqui os mimos que me tributam na blogoesfera e na Vida, pois, umbigo gosto o de uma bonita mulher de preferência com um piercing e não do meu. Mas, por outro lado, sinto o desejo grande de reconhecer publicamente as palavras cheias de afecto que me dedicam.

O meu amigo João, do Bota Acima, escreveu:
MELHOR BLOGUE (as razões da preferência estão mais que ditas pelo que não vale a pena pôr mais na escrita): Oficina das Ideias

A Doce LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho escreveu:
O Vicktor, do "Oficina das Idéias" tem sido absolutamente atencioso e delicado, com comentários simpáticos, colocando sempre em seu blog, passagem obrigatória, algo que tenha a ver com o Brasil, com atividades profissionais que desenvolvo, além de mimos como mandar-me livros deste outro lado do atlântico!! Vicktor... Não encontrei palavras capazes de dizer de verdade o quanto me sinto feliz com a tua amizade, atenção e carinho! Não posso esquecer claro a homenagem feita em foto que aqui dividirei com todos! Mais uma vez.. Obrigada!!
(Não me mimes tanto.. acabas por me estragar!! eheheh)


O Pedro, do Sintra-Gare escreveu:
Na minha opinião, os blogs mais completos do momento são o Fumaças e o Oficina das Ideias; acresce o facto de serem mantidos por dois amigos, o que muito me apraz registar. Há sempre, conforme as preferências, razões de sobra para os visitar.

Só posso dizer: Muito do conteúdo do meu blogue é devido ao permanente afecto dos meus amigos, leitores e comentadores. Por isso, muito obrigado! E que o LUAr sempre ilumine o meu pensar e o meu sentir.

brasil do meu encantamento

O comandante americano

O governo dos Estados Unidos vive apavorado com o espectro do terrorismo internacional. Embora a estupidez do presidente Bush não o deixe enxergar mais longe do que lhe é permitido pelos grandes senhores do capitalismo internacional, de quem se encontra refém, ele tem MEDO. Já me faz lembrar a velha história do Jack Taxas que disparava contra a sua própria sombra.

O Bush tem medo, especialmente, daqueles que mantém a espinha dorsal na vertical, que não vergam à sua chantagem e à humilhação. Na América Latina, Bush teme a Venezuela, Cuba e o Brasil. E, então, aponta o dedo “Terroristas!”.

Bush quer dominar o Mundo mesmo quando lhe dizem, pois ele consciência não tem, que está a “perder o pé”, que o Mundo não acredita nele.

Então, tenta criar uma imagem de super-herói, como aprendeu no seu único tipo de leitura, as histórias em quadrinhos:

_ Vamos voltar à Lua! (como não tenha sido por MEDO que os americanos abandonaram o projecto)
_ Vamos enviar uma nave tripulada a Marte! (como se no actual desenvolvimento científico isso fosse possível).

Entretanto, o MEDO, a “sombra do Jack Taxas”, pistoleiro e cow-boy, continua a persegui-lo:

_ Vamos exigir ao Mundo que nos voos para os Estados Unidos tragam polícias a bordo.
_ Vamos identificar ao pormenor, fotografias e impressões digitais, os viajantes que venham para os Estados Unidos com origem em países considerados “não amigos”.

Os Estados Unidos consideram, além de Cuba que é uma verdadeira espinha cravada na garganta dos governantes americanos, Venezuela e Brasil como países “perigosos”. Vai daí, os brasileiros serem incluídos na lista de “possíveis terroristas” e devidamente fichados à entrada nos “states”.

O Brasil que passou, desde há algum tempo, a ter uma coluna vertebral sã, reagiu a tamanha humilhação e afronta com a medida que seria mais lógica, reciprocidade. Não fosse o diabo tecê-las e passassem a entrar no Brasil vindos dos “states” possíveis pistoleiros, cow-boys e outros “serial killers”.

Acontece que na passada quarta-feira...

Ao desembarcar na cidade, vindo de Miami, na Flórida, o comandante Dale Robbin Hersh, 53 anos, usou o dedo médio da mão direita ao segurar sua ficha de identificação em frente ao corpo ao ser fotografado.

O comandante preso em flagrante e autuado por desacato pela Polícia Federal. No final da tarde, o comandante prestou depoimento na 1ª Vara Federal de Guarulhos, onde a empresa conseguiu fazer o acordo. Segundo o procurador da República Matheus Baraldi Magnani, o valor da multa correspondente a 150 salários mínimos foi calculado com base no salário do piloto que se cifra em 10 mil dólares, e na agressão à moral e ao trabalho da PF. O dinheiro será utilizado no asilo Casa de São Paulo, em Guarulhos.

Os dez tripulantes do voo que ridicularizaram o procedimento de identificação brasileiro não foram admitidos no pais. "A tripulação acompanhou o gesto de seu comandante e começou a comportar-se de maneira jocosa, de maneira a desabonar a atitude dos policiais federais e do sistema de identificação brasileiro", afirmou o porta-voz da FP, delegado Wagner Castilho.

Os tripulantes foram isolados em uma sala da American Airlines no aeroporto da cidade e já foram sumariamente recambiados para os Estados Unidos.

sobre este tema não perder Entre o Sono e o Sonho

quinta-feira, janeiro 15, 2004

a noite em que a lua teve mais brilho


elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Caminho para a libertação

As sombras e a humidade do cárcere influenciam, definitivamente, a poesia de Bocage, agora carregada de dramatismo. Bocage entra na fase da “poesia séria”. O boémio já era, agora vinha ao de cima dos seus escritos a verdadeira inspiração de alguém preocupado com o social, que retratou de uma forma incomparável.

Humanamente enriqueceu. Deixou para trás a vida boémia, de arruaça e bebedeira, que desenvolvia ali nas imediações do Botequim das Parras. Chorou a vida. Viu-se ameaçado por um cárcere prolongado, talvez para o resto da sua vida.

Bocage recorreu a antigos amigos da Arcádia. Implorou junto dos poderosos. Vendeu a alma ao diabo em troca da sua libertação. Movimentaram-se ministros e fidalgos. Dedica poemas ao Marquês de Abrantes, a uma dama da Rainha, à esposa de um ministro. E que poemas...

Foi chamado a perguntas e versejou:

Portei-me como quem tinha
Para a verdade tendência
Do peso da opinião
Aligeirei a inocência...


Este tipo de quadras era cantado com músicas de fado no Ferro de Engomar, tasca e restaurante ali para os lados do Chinquilho, nas Portas de Benfica, mesmo à saída de Lisboa. Local tradicional da boémia lisboeta, onde os cantantes de fado vadio conviviam com a nobreza. Diz-se que até o Rei por lá aparecia disfarçado de fadista outras vezes embuçado.

Somente como curiosidade, nos anos sessenta e setenta do século passado ainda cheguei a jantar no Ferro de Engomar. Já não era o que teria sido na época de Bocage, mas ainda se respirava boémia e fadistagem.

Soneto 28

Se considero o triste abatimento,
Em que me faz jazer minha desgraça,
A Desesperação me despedaça
No mesmo instante o frágil sofrimento;

Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me trespassa,
Que Esse, que trouxe ao Mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento;

Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando;

Vejo-o morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.


quarta-feira, janeiro 14, 2004

imagens da minha terra


sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Polvo cozido com Grelos

Já tenho referido diversas vezes que a gastronomia tipicamente caparicana é muito simples, pois a sua origem está em famílias de poucos haveres, que viviam da pesca e dos mimos das hortas, o que servia, igualmente, de base a sua gastronomia.

Ingredientes
2 kg. de polvo
cebola com tres cravinhos espetados
1 folha de louro
1 copo de vinho tinto
1 copo de água
batatas
grelos de nabo
2 ovos cozidos
sal


Preparação
O polvo fresco depois de arranjado foi congelado. A cozedura do polvo é feita numa panela de pressão, com uma cebola com três cravinhos de cabecinha espetados, uma folha de louro, dois decilitros de vinho tinto e outro tanto de água, temperado com sal ao gosto.

À parte, cozem-se as batatas, os ovos e os grelos.

O segredo do excelente paladar do Polvo cozido com Grelos está na origem dos ingredientes. O polvo veio das artes apanhado na quebra do rio Tejo com o Oceano e as batatas e os grelos de nabo, são mimos das hortas da Costa.


terça-feira, janeiro 13, 2004

capela de s. josé


Capela de S. José, mandada erigir em Charneca de Caparica, pelo padre António da Costa Dias Candal e votiva a S. José

almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Costa de Caparica – Festas da Vila

Vão decorrer, de 17 de Janeiro a 15 de Fevereiro, as Festas Anuais da Vila de Costa de Caparica, uma tradição de há muitos anos que anima as gentes do mar e das hortas, as pessoas que escolheram a Costa para viverem, muito embora trabalhem em Almada ou em Lisboa e, igualmente, os forasteiros.

As pessoas que deram origem à povoação da Costa de Caparica, pescadores vindos do norte de Portugal, da região de Ílhavo, ou do sul, do Algarve e também do sudoeste alentejano, cedo ficaram encantados pelas condições climatéricas e de pesca fixando-se nesta zona para onde depois chamaram as famílias.

A Costa de Caparica foi fadada para ser terra de acolhimento de imigrantes. Depois das migrações internas dos pescadores de Ílhavo e do Sudoeste Alentejano, no princípio do século passado, foram os cabo-verdianos e guineenses, nos anos setenta do mesmo século. Mais recentemente muitos emigrantes vindos das estepes dos países eslavos e nos últimos anos homens e mulheres do Brasil.

A Costa de Caparica recebeu a maior comunidade brasileira que escolheu Portugal para viver.

É neste ambiente multirracial que irá decorrer a 2ª Mostra das Caldeiradas, sentindo eu a mágoa pessoal de que a maioria desta gente, por dificuldades financeiras, não a irá degustar. De qualquer forma, aqui fica o convite: Venham até à Costa de Caparica e degustem uma deliciosa Caldeirada em um dos 36 restaurantes participantes, num dos fins-de-semana que decorrem de 17 de Janeiro a 15 de Fevereiro. Pode acontecer que nos encontremos...

Os autóctones da Costa de Caparica foram sempre gente de poucos remedeios. Confeccionavam a sua alimentação com o que do mar recolhiam e com o que nas hortas cultivavam. De ingredientes modestos mas com uma confecção apurada assim se foi construindo a gastronomia caparicana.

São diversas as receitas de caldeirada que tem sido possível recolher junto dos pescadores, mas contém, invariavelmente pescado como a xaputa, as lulas, o carapau, as amêijoas e a tramelga, esta última por ser aveludada e paladar celestial conhecida entre os pescadores da Costa por “galinha do mar”.

segunda-feira, janeiro 12, 2004

portugal em imagens


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Receio com fundamento

Durante dois anos, que corresponderam ao então designado Ciclo Preparatório do ensino escolar, continuei a fazer a viagem de combóio entre a Amadora, onde residia e Cruz da pedra onde se situava a escola. Uma viagem que hoje, de automóvel, se faz em quaisquer quinze minutos, levava, então, no velho combóio a vapor quase quarenta e cinco minutos. Fora a caminhada que havia ainda que fazer a pé.

Continuava a morar na casa onde havia nascido, na Avenida da República, junto ao jardim, Jardim Delfim Guimarães onde existia um memorial comemorativo da primeira viagem aérea entre Portugal e Macau, e cuja origem tinha sido no campo de aviação da Esquadrilha República situada nos terrenos envolventes da vila.

No percurso de quarenta e cinco minutos em que todos os passageiros se conheciam pelo nome, e entretenimento principal dos mais velhos era jogar cartas, em especial o jogo designado “sueca”. Um ou outro dedicava-se à leitura e até à escrita.

Um viajante, em particular, era saudado e admirado por toda a gente, pois fazia o percurso rodoviário desenhando, principalmente a carvão. Tratava-se de Stwart Carvalhais, anos mais tarde, possivelmente depois de morto, reconhecido como o grande retratista dos costumes alfacinhas.

O Stwart deslocava-se para a redação da revista onde trabalhava, o Cara Alegre, e aproveitava o tempo de viagem para lá ir trabalhando as suas pranchetas onde de forma única retractou os usos e costumes populares da cidade de Lisboa.

E viajava o Calheiros, emérito jogador se “sueca” que eu mirava entre respeitoso e temeroso pois à época, nos meus dez ou onze anos, andava a catrapiscar a sua filha, a Milu. Sempre temi que ele me abordasse sobre o assunto. E um dia aconteceu. _Victor, que tal estudares mais e deixares os namoricos para mais tarde.

domingo, janeiro 11, 2004

uma flor para a sónia


Feliz Aniversário Querida Amiga

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Flores da Madeira

Em 1982 viajei para o Funchal, na Ilha da Madeira, integrado numa comitiva de jornalistas especializados em radiocomunicações de lazer e de emergência, embora eu de jornalista nada tivesse, a convite da Câmara Municipal de Santa Cruz. Aliás, a minha presença era justificada pelo facto de ir realizar uma conferência, no salão nobre da Câmara Municipal, sobre o tema da “utilidade pública da Banda do Cidadão”.

Nesta digressão à Pérola do Atlântico estava incluída uma visita à Ilha, proporcionada pela direcção do Clube CB Cruz Santa que inaugurava igualmente a sua sede social. As radiocomunicações de lazer estavam no seu auge de utilização e grande parte das autarquias do País competiam entre si no sentido de quem melhores condições proporcionava às associações que nasciam um pouco por todo o território.

Foi nessa viagem de encanto que nasceram as “Flores da Madeira” aqui já publicadas mas que de novo vos apresento, a solicitações diversas.

I
A Ilha da Madeira, terra que é das flores e também... dos amores, é sem dúvida um dos cantinhos de Portugal mais belo, pitoresco e acolhedor. Suas gentes, caracteristicamente afáveis e carinhosas, são vivas e inteligentes, reconhecendo de imediato quem delas se abeira com amizade.

Para o continental, a viagem à “Pérola do Atlântico” é, desde o início, uma aventura. Após a descolagem em Lisboa e depois de cerca de 1 hora de viagem sobre o Atlântico azul e luminoso, já com Porto Santo à vista, o coração acelera o seu bater. O balançar das asas do avião provocado pela forte turbulência local, a visão da pista que mais parece um minúsculo porta-aviões, são sensações deveras impressionantes. Vale a perícia incomparável dos pilotos portugueses para que poucos minutos passados possa ter lugar um uff! generalizado.

II
O Aeroporto do Funchal, situado no concelho de Santa Cruz, é de pequenas dimensões mas o visitante é, de imediato, agradavelmente surpreendido por uma autêntica sinfonia de odores e de cores. São as flores da Madeira. É o primeiro jardim dos muitos que o visitante irá encontrar pelos caminhos da Madeira e acompanhá-lo-á com uma imagem inesquecível.

Nos primeiros contactos com a realidade da Ilha da Madeira o deslumbramento surge com a verdadeira rapsódia colorida de vermelho e verde do infindável número de cactos floridos que ladeiam as estradas e caminhos.

III
A melhor forma de se conhecer os recantos mais belos da Ilha da Madeira é sem dúvida viajar no “Maravilhas”. O “Maravilhas”, “marabelhas” no dizer dos madeirenses, é uma carrinha VW com mais de 20 anos de existência que pelas mão do seu proprietário, o bom amigo Freitas, percorre todas as estradas da Madeira.

Aliás, pela estrada fora, o “Maravilhas” é por demais conhecido a avaliar pelas muitas saudações que lhe são dirigidas e pela forma carinhosa como o Freitas as retribui.

sábado, janeiro 10, 2004

imagens da nossa costa


solidão sua eterna companheira

O velho andarilho
Curvado de cansaço
Louco de dor
Das agruras da longa caminhada
Fixou, de súbito, o infinito.

Lá longe, qual oásis
Frescura cor de esperança
E muita transparência
Cura da sua dor, alívio da sua mágoa.

A ilusão que sempre o acompanhou
Deu-lhe forças para atingir
O bem querido.

Aproximou-se
Dirigiu-lhe palavras de loucura.

De muito querer.

De súbito
A fresca verdura
A água translúcida
A cor dos lírios e dos nenúfares
Em mulher se transformou.

Numa rápida mutação
A bela mulher de doçura sem fim
Mergulhou no jovem rio
Que a seu lado serpenteava.

Um esfregar de olhos
Um inacreditável acontecimento
O espanto.

O romeiro viu-se só
Nos caminhos sem sentido e sem rumo.

Solidão sua eterna companheira.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

imagens da minha terra


fragmentos para a história da minha terra

Pesquisa e comentários sobre o que foi publicado, no decorrer do tempo, de autores diversos, relevante para a história da Charneca de Caparica


De Valle de Rosal para o Brasil

Em 1989, aquando das comemorações do centenário da reedificação da Capela de Valle de Rosal e quando se perspectiva comemorar os “cinco séculos de evangelização e encontro de culturas” saiu da sala da portaria da Quinta de Valle de Rosal uma cruz de madeira que foi levada em procissão para a Igreja Paroquial de Charneca de Caparica.

Com esta cerimónia muito simples pretendeu-se marcar o retomar da evocação pública dos 40 Mártires de Valle de Rosal, que sob a orientação de Inácio de Azevedo, foram martirizados em 1570, quando se dirigiam para o Brasil para evangelizar.

Em 1990, além da procissão ao pedestal do cruzeiro, existente no Monte da Cruz, sobranceiro a Valle do Rosal, foi aí evocada a memória do Beato Inácio de Azevedo e dos seus companheiros, através da leitura de trechos de literatura existente sobre o assunto. De seguida, a procissão regressou à Quinta e na Capela foi colocado o círio pascal e entoadas orações e cantos religiosos.

Não temos conhecimento de que nos anos seguintes esta manifestação religiosa e de fé se tenha mantido, contrariando a ideia inicial dos promotores.

tomei o café da manhã servido por uma pianista

Logo bem cedo, ainda a alvorada não se tinha de todo despedido para dar lugar ao dia aberto, dirigi-me à pastelaria, com fabrico próprio e tudo, onde habitualmente tomo o café da manhã. Na zona onde normalmente me sento não havia lugar livre pelo que tomei outro rumo. Hoje não teria a costumada cavaqueira com o senhor Paulo que, entretanto, não deixou de vir até à minha mesa para uma saudação matinal, mas fui atendido por uma empregada que hoje fazia o serviço das mesas do outro lado.

Anotou o pedido, como sempre um café e um claudino, que muitos em Lisboa chamam caparicas, atendendo-me com uma delicadeza pouco comum. Reparei então na letra do seu apontamento. Uma caligrafia perfeita, entre a escrita corrida e o desenho, encantadora. Não resisti a comentar: _Que bonita letra! A um _Ah! quase envergonhado atrevi-me a perguntar: _O que fazia no seu país? (Eu sabia que ela era uma imigrante moldava).

Respondeu-me muito simplesmente: _Na Moldávia era professora de violino e de piano. Tirei a licenciatura na Universidade de St. Petersburgo. Fiquei sem palavras... muito embora aquele café me tivesse sabido a música de Mozart.

Conversámos um pouco mais. Fiquei a saber das dificuldades encontradas para trabalhar em Portugal onde tem a sua situação regularizada. Fiquei a saber das dificuldades em prosseguir a sua carreira, para o que, anualmente, as entidades oficiais portuguesas exigem a apresentação de documentação da Universidade de origem devidamente traduzida para português, com incomportáveis custos envolvidos.

Soube o seu nome: Viktoria.

Só consegui murmurar: _Viktoria nunca deixe de seguir o seu sonho!

quinta-feira, janeiro 08, 2004

este mar tão belo que nos une


homenagem merecida

A homenagem aqui do pessoal da Oficina vai com todo o afecto para Paulo Querido, operário ele também dum excelente serviço de alojamento e ferramental tão importante para nós modestos utilizadores da blogoesfera.

Embora esta Oficina não se encontre alojada em tal servidor, quiçá por questões de imobilismo, reconhecemos o empenhamento de Paulo Querido no WEBLOG.COM.PT

Oficiais do mesmo ofício, de um deles claro, sabemos das dificuldades e artimanhas das tecnologias emergente e quanta tenacidade e querer são necessários para ir para a frente.

Parabéns, pois, Paulo Querido!

Já agora, amigo Paulo, cá pela Oficina não somos só de palavras...

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Bocage no degredo

Com a Revolução Francesa à vista compreende-se que uma coisa eram os espíritos de eleição, como Bocage, e outra os interesses do poder do estado. Pina Manique tinha que defender o regime o os ideais à volta da fé vigente. Bocage, por seu lado, muito embora tenha dedicado alguma da sua inspiração a temas religiosos, como a Ode à Imaculada Conceição, colocava-se, as mais das vezes, do lado do Povo desfavorecido, vociferando contra o clero.

Quando um frade escalabitano protestou contra um barrista que feirava bonecos de barro representando os da sua classe com corpos anafados, amplas panças e cordões cingidos, logo Bocage saiu à liça com um soneto de improviso pondo-se do lado do barrista e contra os frades.

Em Lisboa os seus detractores atribuíram-lhe a autoria da tragédia Vestal d’Anchet que era dada como de um anónimo na representação no Teatro Morgado de Assentis. Com ou sem razão foram-se acumulando suspeitas sobre Bocage.

Pina Manique deu, então, ordem para os seus polícias fazerem uma devassa à vida de Bocage, considerando ser desbragado de costumes e, além do mais, ser avesso às obrigações da religião.

Apanharam Bocage, quando este, a bordo da corveta Aviso, se preparava para zarpar para a Bahia Meteram-no no Limoeiro, uma prisão que era à época uma autêntica enxovia.

Voa a Lília gentil meu pensamento
Nas asas de esperanças sequiosas;
Amor, à frente de ilusões ditosas,
O chama, e lhe acelera o movimento.

Ígneo desejo audaz que em mim sustento
Mancha o puro candor das mãos mimosas,
Os olhos cor dos céus, a tez de rosas,
E o mais, onde a ventura é um momento

Eis que pesada voz terrível grito
Soa em minha alma, o coração me oprime
E austero me recorda a lei e o rito.

Devo abafar-te, amor, paixão sublime?
Ah! Se amar como eu a amo é um delito,
Lília formosa aformoseia o crime.


quarta-feira, janeiro 07, 2004

inverno florido

Aí estão as primeiras flores que em pleno Inverno português já anunciam a Primavera. Como sempre, a Natureza apresenta primeiro as suas flores amarelas. Depois serão as brancas e as roxas. Mais, tarde uma sinfonia de cores.

referências merecidas

Pelo destaque que merece, atendendo ao conteúdo humano e a repor "o seu a seu dono" aqui fica um comentário de LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho, ao post da Oficina de 6 de Janeiro, intitulado a blogoesfera é assim.

Estas fotografias são de Oficinas de Arte realizadas pela Secretaria de
Sanemaneto da Prefeitura do Recife com crianças e adolescentes moradores da
comunidade onde vem sendo por nós construído o Sistema de Esgotamento
Santitário, dentro de um conceito mais amplo de Saneamento Ambiental... Resgatamos a auto-estima destas crianças, orientamos quanto ao correto uso
do sistema bem como a eles lembramos que são cidadãos e como tal devem ser
participantes e co-responsáveis.
Orgulho-me sim de fazer parte de uma equipe onde a preocupação começa no ser
humano..
Dizia Gandhi: " Política é o cuidado das coisas comuns, o gesto amoroso para
com o povo"


Gostava de salientar a importância da divulgação deste trabalho junto do próprio Povo brasileiro, inclusive, por outros comentários recebidos.

Belas imagens. Como é gratificante ver o trabalho de pessoas que fazem sua parte para tornar o nosso mundo cada vez melhor. Considero-me presenteada por vocês, Lualil e Vicktor.
Cathy, do Despenseiros da Palavra

Não conhecia este trabalho realizado pelos meninos de rua no Rcife, sei que quando chego aqui recebo tanta informação boa que me faz tornar-me mais rico culturalmente e posteriormente posso repartir os valores adiquiridos com outroas pessoas!
Orion, do Sonhos de Ícaro

sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Bolo Rei

Ingredientes
1,250 Kg de farinha de trigo
50 g de fermento de padeiro ou 25 g de fermento organico
3 dl de leite
250 g açúcar
12 ovos
300 g de manteiga
1 g de sal
150 g de passas
100 g de cidrão doce
100 g de ameixas
100 g de amêndoas
150 g de nozes
150 g de pinhões
frutas cristalizadas

Confecção
Amassam-se duzentos e cinquenta gramas de farinha de trigo da melhor com cinquenta gramas de fermento de padeiro ou com vinte e cinco gramas de fermento orgânico em pasta, desfeito qualquer deles em um decilitro de leite morno, tapa-se bem e deixa-se a massa a levedar em sítio quente, por cinco a seis horas.
À parte deita-se num alguidar um kilo de farinha, amassando-o com duzentos e cinquenta gramas de açúcar em pó, seis ovos inteiros, seis gemas, trezentas gramas de manteiga derretida, um grama de sal fino e dois decilitros de leite, devendo ficar uma massa consistente; podendo-se deitar mais leite se for necessário por a farinha ser muito seca. Misturam-se os duzentos e ciquenta grama de farinha que se amassaram com o fermento, amassando tudo bem, e, em estando a mistura bem homogénia, juntam-se cento e cinquenta gramas de passas, cem gramas de cidrão doce cortado miúdo, cem gramas de ameixas de Elvas cortadas aos quartos e sem caroço, cem gramas de amêndoas despeladas, cento e cinquenta gramas de nozes cortadas em quatro bocados e cinquenta gramas de pinhões; amassa-se novamente para encorporar bem na massa todos os elementos que se juntam, cobrindo-se com um pano deixando levedar até aumentar o volume de metade, o que precisará de pelo menos de seis a dez horas, conforme a temperatura do ar e o estado atmosférico, sendo preferível preparar a massa à noite para cozer no dia seguinte.
Estando a massa bem levedada,fazem-se bolos em coroa, pondo-se no vazio do centro uma tigela ou um copo para não fechar; por cima da massa põem-se algumas ameixas de Elvas cortadas ao meio e pêras ou outras frutas secas cristalizadas e algumas amêndoas, deixando repousar por duas horas, polvilhando com açúcar pilé e pondo-os a cozer no forno com calor forte.
Antes de pôr no forno, pode-se pintar a massa por cima com gema de ovo.
Feita a massa fazem-se os bolos e pôem-se em tabuleiro indo ao forno de calor brando.

Existem outras receitas de Bolo Rei com ligeiras diferenças. Esta receita aqui aprentada foi compilada pelo Roteiro Gastronómico de Portugal.

terça-feira, janeiro 06, 2004

dia dos reis magos

A Festa de Reis ou as festividades do Dia de Reis tem origem no culto católico e destina-se a comemorar a chegada dos Reis Magos ao presépio. Na gruta em que nasceu o Menino Jesus festeja-se, dessa forma, a oferta das prendas de nascimento por parte dos Reis poderosos. Isto passa-se no tempo do Rei Herodes.

Os três Reis Magos chegaram do Oriente a Jerusalém guiados por uma estrela os conduziu até o berço onde estava o Menino Jesus com sua mãe Maria e seu pai José, o carpinteiro. Os Reis Magos eram o Melchior, que era um ancião, Gaspar, um jovem branco, e Baltazar, um homem de raça negra e barba. Com a sua chegada, os Reis Magos anunciaram ao povo de Jerusalém que havia nascido o rei dos judeus em Belém. Ainda que todo o povo tenha ficado alarmado, Herodes lhes deu permissão de viajar até Belém na busca do menino.

Os três Reis ficaram alegres ao vê-lo e ofereceram seus presentes: ouro, incenso e mirra. Depois disso, regressaram a sua terra por outro caminho, com medo da reacção de Herodes. Desde então, o dia 6 de Janeiro é celebrado em muitos países pela chegada dos Reis Magos. Neste dia, é considerada uma tradição dar presentes às crianças em alternativa ao Dia de Natal.
Neste dia, em Portugal, come-se o Bolo Rei e, igualmente, algumas bagas de romã, com o significado de desejar felicidade.


É, igualmente, da tradição guardar-se durante um ano a coroa da romã, um pedaço de pão e uma pequena moeda. Ainda me recordo de se guardar meio-tostão, que a vida ia difícil. Agora será uma moeda de um ou dois cêntimos de Euro.


a blogoesfera é assim...

Um espaço fantástico de interactividade, onde um simples comentário pode trazer ao conteúdo de um post um enriquecimento extraordinário. Claro que para se consegir estes maravilhosos resultados tem que existir, acima de tudo, muita humildade.

Humildade de quem escreve, que tem como único objectivo partilhar, sem esperar elogios ou troféus. Humildade de quem lê que procura entender o conteúdo a mensagem. Humildade de quem comenta que o faz para enriquecimento de um trabalho alheio, o que não é muito frequente neste meio. Humildade do comentado que aceita o comentário de uma forma positiva, com muito afecto.

Vem este escrito a propósito de uma fantástica ajuda recebida da minha querida amiga LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho, que teve a gentileza, o carinho, de me enviar algumas fotografias, deliciosas fotografias, onde os meninos de rua estão a sê-lo cada vez menos. Que felicidade!

A construção de calçada tem aspectos lúdicos muito profundos, qual puzzle que vai sendo obra das mãos destes meninos. Além disso contém uma importante mensagem ambiental, de salubridade, de cidadania.


O trabalho colectivo, a entreajuda está sempre presente nestas acções de rua, com o objectivo de fomentar laços de amizade em acções positivas, deixando bem claro a estes meninos a importância de se ajudarem uns aos outros.


O trabalho de pormenor, autênticas obras de arte, aumentam a auto-estima destes meninos pela noção com que ficam de que são capazes de realizar. Nunca mais serão os mesmos, aumentaram as suas defesas relativamente aos ardiz da sociedade.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

uma flor para a gracinha


Parabéns nesta data feliz

bem hajam...

Educadoras pela Arte

Nas favelas do Rio, nos bairros pobres de São Paulo ou do Recife, um pouco por todo o Brasil, os meninos da rua travam, dia-a-dia, uma luta sem quartel para não caírem nas teias da marginalidade e do crime.

Estes meninos quando nascem trazem consigo exactamente o mesmo que todos os meninos do Mundo. E transportam do ventre de suas mães para a vida os mesmos sonhos e ilusões. O sonho do homem novo, íntegro e solidário, apto para em igualdade de oportunidades desfrutar da felicidade de ser.

Contudo, a traiçoeira sociedade retira-lhe, de imediato, tais oportunidades, que deveriam ser iguais para todos os meninos, oportunidade de estudar, de ter saúde, de se alimentar condignamente, de ser feliz.

Mas a Natureza na sua tamanha sabedoria não descansa nas atrocidades que os seres humanos, aqueles que pretendem assumir para si o poder do Mundo, desenvolvem todos os dias, e tenta criar factores de equilíbrio universal.

Um punhado de mulheres e de homens de grande abnegação trabalham arduamente com os meninos em risco de soçobrarem à marginalidade, em zonas de elevado risco dentro das grandes metrópoles brasileira por forma a ministrar-lhes conceitos de cidadania que os possam afastar do crime.

Tendo a arte de rua, calçadas, pinturas murais e outros, como factor determinante de receptividade por parte dos meninos, partilham através dela conceitos ambientais e de cidadania de forma integrada, com elevado índice de êxito.

As educadoras pela arte estão a desenvolver nas grandes cidades do Brasil, nas zonas mais degradadas e perigosas, junto dos meninos da rua, um trabalho fantástico. De forma abnegada e sofrida, sujeitas às elevadas temperaturas do Verão do Brasil, continuam a palmilhar ruas e becos, partilhando noções básicas de higiene, de salubridade, de cidadania.

As educadoras pela arte são Mulheres com M grande que merecem o reconhecimento do Brasil e do Mundo. Junto aqui o meu modesto aplauso ao que a um nível incomensuravelmente superior foi dado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Às educadoras pela arte que se encontram mais perto do meu coração deixo aqui um beijinho grade que peço transmitam a todas essas abnegadas mulheres brasileiras. O Mundo solidário aprecia e reconhece o vosso trabalho. Bem Hajam!

domingo, janeiro 04, 2004

venham cantar as janeiras

As Janeiras da Charneca

As Janeiras são cantadas, de porta a porta, entre o primeiro dia do Ano e o Dia de Reis, que se comemora a 6 de Janeiro de cada ano. Em muitas localidades, contudo, estes cantares prolongam-se até finais do mês de Janeiro.

Supõe-se que as Janeiras estejam relacionadas com os cultos pagãos, desenrolando-se no mês do deus romano Jano, de Janua que significa porta, entrada. Esta figura da mitologia romana, representada com duas caras, encontra-se fortemente ligada à ideia de entrada mas, muito em especial, à noção de transição, de conhecimento do passado e do futuro.

A origem da tradição de cantar as Janeiras não se pode, contudo, dissociar da penúria em que as pessoas, de um modo geral, viviam, encontrando nesta e noutras manifestações semelhantes um meio de obterem alguma dádiva, principalmente, vinho e alimentos, dos senhores abastados, sem que, com isso, se sentissem humilhadas.

Para isso, cantavam as Janeiras, num misto de religiosidade, atendendo à época em que são cantadas, e de ironia e mordacidade sempre com um apelo à dádiva de comes e bebes.

No decorrer das cantorias são evocados, normalmente, o dono e a dona da casa e alguma outra figura que tenha preponderância familiar.



A tradição de cantar as Janeiras na Charneca de Caparica perde-se nos fumos dos tempos e da memória, mas estabelece sempre uma estreita ligação entre o mar, ali tão perto, e a actividade das pessoas, mais ligada aos campos, actividade rural, pois o mar era difícil de domar, era mar macho, na grande maioria dos meses do ano, facto agravado pela fragilidade das embarcações de então.



António Bizarro, musicólogo há muito radicado na Charneca de Caparica, recolheu da tradição e adaptou à realidade contemporânea este singelo cantar que ainda hoje se fez ouvir em diversos locais desta povoação.

Ainda agora aqui cheguei
Já pus o pé na escada
Logo o meu coração disse
Aqui mora gente honrada.

Boas Festas, Boas Festas
Boas Festas de alegria
Que as manda o Rei do Céu
Filho da Virgem Maria.

Viva lá senhor ...
Sua cara é de sol
Coberta de diamantes
Com safiras ao redol.

Levante-se lá senhora ...
Do seu banco de cortiça
Venha-nos dar as Janeiras
Ou de carne ou de chouriça.

Viva lá senhor ...
Raminho de bem querer
Se a sua pipa tem vinho
Venha nos dar de beber.

Acabadas estão as festas
Embora venham os Reis
Vede lá por vossas casas
As Janeiras que nos deis.




sábado, janeiro 03, 2004

arriba fóssil


madrugar

Quando a noite chegou ao fim
E foi madrugada,
Pousei meus olhos em teus lábios
De carmim.
E da minha mente cansada
Brotaram sábios pensamentos.

Sem palavras entendi teu ser,
Beijei teu rosto docemente
E com a loucura que nos dá
O muito querer,
Beijei teus olhos, tua boca,
Teu corpo meigo e fremente.

Nossos seres se uniram
Em doce enleio.
Senti teu peito ardente
Em profundo respirar.
Desejámos estar assim eternamente,
Mas logo findou o madrugar.

Foi alvorada.
O sol alevantou o seu esplendor.
Sentimos a força de estar juntos
Perante o mundo hostil,
Máquinas, ruído, poluição,
Que já não entende o amor.

Lado a lado caminhamos o futuro.

E com sol a pino
Do dia meado,
Amadurecemos ideais na noite concebidos.

sexta-feira, janeiro 02, 2004

amizade muito boa

O que posso dizer quando a minha pequena Amiga Bel, do Casa da Boneca escreve no último dia do Ano de 2003 Um beijo para toda a minha familia, para meus amigos e especial para o Vicktor!!!!?

Só posso dizer: ESTOU MUITO FELIZ!


máscara


corpo angelical

Noites a fio sem cessar
Sonhei teus olhos de mel
Em viagem de encantar
Pela terra e pelo mar
Viajavas num corcel

Me prende pra todo o tempo
Teu rosto angelical
Foi o meu encantamento
Foi a luz do sentimento
Teu sorriso divinal

Perdi-me no teu sorriso
Naveguei em teu olhar
Não são falta de juízo
São dádivas do Paraíso
O sentir e o beijar

Colorida de carmim
Tua boca sensual
Sinal de dizer sim
Sinal de amor sem fim
É do querer um sinal

Espigas de trigo maduro
Teus cabelos muito loiros
De sentimento tão puro
Corpo formoso e seguro
São para a alma tesoiro

Em ombros cor de pimenta
Teu pescoço elegante
Seios em carícia lenta
De minha boca sedenta
Do teu corpo tão vibrante

Coroam seios doces formosos
Teus mamilos muito escuros
Pedindo sentires fogosos
De um beijo desejosos
São tentação de tão duros

Uma pérola um brilhante
Teu umbigo celestial
Tão bonito elegante
Sensual e intrigante
Como ele não há igual

Monumento de beleza
Nádegas a cinzel talhadas
Dádiva da Natureza
Dignas de elevada nobreza
Tão belas e delicadas

No cruzar de lindas pernas
Escondes um belo tesouro
Imagens que são eternas
Luminosas quais lanternas
Para o prazer duradouro

quinta-feira, janeiro 01, 2004

a trilogia do fogo - 3


seis meses na blogoesfera

Com o final do Ano de 2003 coincide a comemoração dos seis meses de presença da Oficina das Ideias na blogoesfera. Seis meses extremamente enriquecedores para os operários desta Oficina, que puderam partilhar alguns dos seus artefactos mas, especialmente, aprender, aprender, aprender com a partilha de sentires e de saberes que foi possível realizar.

Quanto mais não fosse por isso já tinha valido a pena esta presença. Mas ainda mais importante foi a partilha de afecto, a sedimentação de fortes laços de amizade, o aprofundamento da já anteriormente existente. A amizade e os afectos aumentaram a tranquilidade e o bem estar do pessoal aqui da Oficina.

Sentimos ter contribuído para o estreitamento dos laços de muito querer no espaço da lusofonia. A língua portuguesa é tão importante na sua qualidade como o ar que respiramos. Fomos encontrar amantes da literatura portuguesa e ficámos presos de amores pela literatura brasileira. Temos a forte convicção de que em 2004 mais países de língua oficial portuguesa se chegarão a nós.

As ideias brotam livres na nossa mente. Temos que evitar que a folha de papel as aprisione

No final de seis meses de presença diária, o balanço que poderemos fazer é positivo, quer em termos de visitas, quase 7.950, tendo a média diária baixado para 42, quer em termos de comentários, cujo conteúdo de um modo geral nos dão a tranquilidade de que estamos a seguir o rumo certo.

Pelo lado da Oficina, estamos sempre preocupados em inovar os conteúdos, procurando parcerias que dando mais valor ao nosso trabalho sejam igualmente fonte de inspiração para novos voos pelo espaço infinito dos sentimentos e dos afectos.

Um destaque merecido para ao meus comentaristas, pela importância da sua presença na Oficina:

LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho; Bruno&Letícia, do Left to my own Devices; JoãoT, do Bota Acima; Deméter, do Segredos de Deméter; António Dias; JoãoV, do Marítimo; Jorge Afonso; Orion, do Sonhos de Ícaro; Elsa, do Rabiscos e Letras; Bel, do Casa de Boneca; Cathy, do Despenseiros da Palavra; Sue, do Asa de Borboleta; Nuno, do Arte de Opinar; Giesta, do Flores do Campo; Ana, do Lua; Gotinha, do Blogotinha; KillerS, do Sintra-Gare; JoãoCF, do Fumaças; CatS, do Dentro do Entre; Ulisses, do Despenseiros da Palavra; AlexandreM, do No Arame; Maizum, do MaizumPoMonte; Jacky, do Palavras em Férias; e Catarina, do 100Nada.

A TODOS o meu Muito Obrigado!


Em Dezembro a Oficina das Ideias publicou:

Textos
01 de Dezembro - cinco meses na blogoesfera
02 de Dezembro – Almada, a Terra e as Gentes - Casa da Cerca; os meus comentadores; do fundo do baú das memórias – A minha primeira escola
03 de Dezembro – sabores de Valle Rosal – Cadelinhas à Bulhão Pato
04 de Dezembro – Notas de prova – Primum Branco 2002; elmano sadino – Nova Arcádia
05 de Dezembro – corpo de mulher – As Nádegas
06 de Dezembro – fragmentos para a história da minha terra – Devoção Religiosa
07 de Dezembro – o meu caderno de viagens – Gastronomia Húngara
08 de Dezembro – do fundo do baú das memórias – a minha primeira grande decisão
09 de Dezembro – Almada, a Terra e as Gentes – Almada Monumental
10 de Dezembro – sabores de Valle Rosal – Doces de Tomar
11 de Dezembro – Uma Noite de Encantamento; Fatias de Tomar (receita); Comentários ou Poemas?
12 de Dezembro – corpo de mulher – O Umbigo
13 de Dezembro – fragmentos para a história da minha terra – Apontamentos
14 de Dezembro – o meu caderno de viagens – Santo António em Budapeste
15 de Dezembro – do fundo do baú das memórias – O Senhor Viegas
16 de Dezembro – Ginja com elas; Almada, a Terra e as Gentes – Noites de Almada
17 de Dezembro – sabores de Valle Rosal – Mexilhões à Portuguesa
18 de Dezembro – Com licor de ginja um Robusto Estrella; elmano sadino – As Sátiras
19 de Dezembro – corpo de mulher – As Coxas
20 de Dezembro – fragmentos para a história da minha terra – O Círio; Lugar Comum
21 de Dezembro – a Banda do Cidadão em Acção – Ser útil
22 de Dezembro – Um Desenho Mágico
23 de Dezembro – prenda de Natal – A Carta que veio do longe
24 de Dezembro – Espiral, um conto magnífico de Liliana
25 de Dezembro – Um qualquer dia do ano, foi Dia de Natal
26 de Dezembro – Santos Dumont, pai da aviação
27 de Dezembro – notas de leitura – Albas; do fundo do baú das memórias – O bolo e a laranjada
28 de Dezembro – notas de leitura – Poesia; a Banda do Cidadão em Acção – Raio de Luz
29 de Dezembro – notas de leitura – Inês de Castro; Assim o tempo vai passando
30 de Dezembro – Doces da quadra natalina
31 de Dezembro – Final de Ano

Flores para...
01 de Dezembro – Charlotte, felicidades para o seu casamento
08 de Dezembro – Bel, uma amiguinha do coração
15 de Dezembro – Cori, uma amiga barcelonesa coleccionadora de pacotes de açúcar
16 de Dezembro – Suzy, pelo seu aniversário
22 de Dezembro – Musa Inspiradora, mais palavras para quê?
27 de Dezembro – Vanda, uma amiga dos pacotes de açúcar

Imagens
03 de Dezembro - Portugal em Imagens – Entradas (Alentejo)
05 de Dezembro – Cores da Mata dos Medos – medronhos
06 de Dezembro – Imagens – bola de fogo
07 de Dezembro – imagens de viagem – Budapeste
09 de Dezembro – Portugal em Imagens – Padrão dos Descobrimentos
10 de Dezembro – do meu arquivo – Outono
12 de Dezembro – imagens da minha terra – Almada Fórum
13 de Dezembro – imagens – roda dentada
14 de Dezembro - imagens de viagem – Budapeste
16 de Dezembro – Portugal em Imagens – Óbidos
18 de Dezembro – imagens da nossa costa – Praia da Bela Vista
19 de Dezembro - imagens da minha terra – as Artes
20 de Dezembro - do meu arquivo – Mar Tormentoso
21 de Dezembro - imagens de viagem – Hamburgo
23 de Dezembro – Feliz Natal
24 de Dezembro – Minhas prendas de Natal
25 de Dezembro – Que o Natal traga muito amor aos vossos corações
28 de Dezembro – imagens de viagem – Vaduz
29 de Dezembro – Portugal em Imagens – Moinho Saloio
30 de Dezembro – A trilogia do fogo – 1
31 de Dezembro – A trilogia do fogo - 2

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