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quarta-feira, dezembro 31, 2003

a trilogia do fogo - 2


final de ano

No último dia do Século passado eu escrevia:

Vivi cerca de três quintos do Século que hoje termina. Vivi tempos de silêncios e de medos e tempos de Liberdade e de esperança. O Homem soube criar todas as condições para ser feliz. Deu passos de gigante no desenvolvimento de tecnologias para o servirem, no conhecimento do Mundo que o rodeia, no conhecimento do seu próprio funcionamento intrínseco.

Não deu um único passo para ser, verdadeiramente, feliz.

Não pode ser feliz o abastado e poderoso, cuja abastança e poder são conseguidos à custa de que outros seres humanos sejam cada vez mais pobres e humilhados. Não pode ser feliz o homem que cria cada vez melhores meios de comunicação e onde a incomunicação entre as pessoas é cada vez maior. Não pode ser feliz o homem que desenvolve cada vez mais os métodos para tratamento das doenças e que permite que milhões de seus semelhantes em África sofram atrozmente com a falta dos mais simples medicamentos. Não pode ser feliz o homem que desenvolve a tecnologia para o serviço do bem estar a níveis até há pouco insuspeitados e que permite que milhões de outros homens vivam e morram na maior carência alimentar.

O homem novo para um novo Mundo ainda não existe e ele é a única solução para todos estes problemas. Um Homem Solidário, para a globalização da Solidariedade.


Um ano depois, no final de 2001, comentava assim uma Estória Verdadeira:

Solidariedade Sempre! Na primeira linha, contem comigo, com as minhas modestas forças. Força de quem está fora mas sempre “por dentro” numa problemática que muito já me afectou. Contem comigo.

Mas vamos pensar...

Qual tem sido a nossa contribuição para que as coisas assim não estejam? Pela positiva... Qual tem sido a nossa contribuição para que as coisas mudem? Têm nos tirado muito do que conquistámos com muito ardor e querer... Ainda possuímos a força que o voto nos dá...

A globalização económica, a globalização do lucro... se não estivermos atentos globaliza os quereres e os sentires... mas ela é subscrita na hora da verdade pelo voto que ainda não nos foi retirado... e não estarão a preparar que com o nosso voto deixemos de poder votar?

Primeiro, na luta pelo progresso da nossa carreira... Depois, na luta entre pares... Depois, pactuar com o consumismo que nos empenha... Não estamos a vender a alma ao diabo?

Solidariedade sempre! É urgente lutar pela globalização da solidariedade, contra a globalização económica. Os ácaros morrem quando lhes falta o lixo.


E em 31 de Dezembro de 2002, o que escrevi?

Fiquei imóvel e silencioso a observar tamanha grandeza, toda a energia da ondulação forte que neste último dia do ano bate a longa costa da Praia do Sol. Mar forte, mar macho, como lhe chamam por cá os pescadores, os homens que o conhecem como as próprias palmas das mãos.

O ruído ímpar do mar a enrolar na areia, no amplo areal emoldurado por uma arriba que lhe serve de ressonância, ou ouvido ao longe quando o vento está de feição, parece o trovoar forte das tempestades, aqui, à sua beira, não é mais do que um doce murmúrio.

Que contraste! Entre a fortaleza, violência mesmo, do bater das ondas e o doce murmurar com que o oceano namora as doiradas areias da praia.

E o pensamento caminha, uma vez mais, para as terras do longe, quiçá para o infinito, na procura sistemática do muito querer. Que mar este, o da Caparica, que nos transporta no sonho e, ao mesmo tempo, é tão real na sua força e na sua energia incomparáveis.


31 de Dezembro de 2003, tempo de balanço, num ano de profunda mudança espiritual

Cito dois sentires tão distantes no tempo:

de Che Guevara
A força do pensamento revolucionário não deve opor-se ao desenvolvimento natural da ternura pelos seres humanos

De LuaLil
bem.. o casulo foi talvez um momento de transformação, ou pelo menos foi pensado assim; às vezes é preciso morrer para renascer; é natural esse processo ou mesmo esse desejo quando precisamos deixar algo para trás; a borboleta é a vitoria ... voar é uma dádiva

terça-feira, dezembro 30, 2003

a trilogia do fogo - 1


doces da quadra natalina

Dos mais de quarenta amigos firmes que muito têm acarinhado a presença da Oficina na blogoesfera, uns tantos, têm tido nestes últimos dias provas de grande carinho por este operário que muito vos deseja agradar. Aqui estão algumas referências, sem desprimor para os restantes, aos doces recebidos nesta quadra natalina:

De Pedro Gomes, do Sintra-Gare
Ainda na "Visão" - página 6 - correio do leitor, um excerto de uma carta intitulada "Rui Nabeiro", escrita pelo meu amigo Victor Reis.
Esse mesmo, o grande ser humano Vicktor.
Obrigado, "Visão". Um abraço, amigo.

De João Tunes, do Bota Acima
...se quer um exemplo repare no blogue do seu amigo viktor que pelo nome deve ser ucraniano ou doutro país eslavo e devia ter sido serralheiro mecânico pelo nome que deu ao blogue e que é um regalo para a vista e conta bem contadinha a história aqui da nossa margem sul e eu só estou à espera quando é que ele chega à cova da piedade que foi onde nasci e fui criado e mostra fotografias das suas viagens e traz receitas que é um regalo para a vista que até apetece almoçar o computador embora ache que ele anda a abusar das fotografias pornográficas pois agora de vez em quando mete mamas e rabos e barrigas de raparigas nuas que eu não sei que precisão ele tem de fazer isso porque se tem paisagens e flores para mostrar para que é que ele mete gajas nuas lá pelo meio e eu até já pensei que esse seu amigo serralheiro deve andar é a querer tentar as amigas brasileiras com quem ele está sempre a trocar beijinhos

De Deméter, do Segredos de Deméter
Vicktor, conversar com vc pelo MSN quase me deixa sem responder seu querido comentário. Fico sempre emocionada, ao mesmo tempo que me considero uma Maria sofrida, experiente... e muito amada! É um privilégio muito grande ter você como amigo, parceiro, leitor. Suas palavras me trazem segurança e esperança de um futuro melhor. Toda minha ternura!

De Cathy, do Despenseiros da Palavra
As folhas se espalham no tapete verde,
A essência se compõe para a renovação...
Lindo, Vicktor!
Beijo grande.

De LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho
Vicktor, És um doce mesmo.. são pessoas como tu que nos trazem a certeza que muito do ideal pelo qual lutamos vale a pena! Muito obrigada pelas tuas palavras.. :) até fiquei sem fala! beijos cheios de carinho!

segunda-feira, dezembro 29, 2003

portugal em imagens


Moinho Saloio, de vento para moer farinha

notas de leitura

As editoras começaram a enviar livros para o "professor" tal como estava previsto. _"Professor" eu? _Simples aprendiz da Oficina! _Se quer livros que os compre!!!, dizem os editores.


É uma das mais belas histórias de amor, que tem fascinado gerações sucessivas pela força dramática, mesmo tragédia, dos acontecimentos que são narrados. Pedro e Inês e o seu eterno amor que nem a vileza do ser humano conseguiu pôr termo.

Os túmulos onde se encontram depositados os restos mortais de Pedro e Inês encontram-se no Mosteiro de Alcobaça colocados "pés com pés" para que algum dia ao levantarem-se voltem a ficar "olhos nos olhos".

Maria Pilar Queralt del Hierro captou com sua pena, de forma magnífica, a beleza lendária e a poesia trágica da bela Inês de Castro, que foi coroada rainha depois de morta.


INÊS DE CASTRO, de Maria Pilar Queralt de Hierro
Colecção Grandes Narrativas/219, da Editorial Presença
2ª edição, Setembro de 2003, 147 páginas

assim o tempo vai passando

Faz hoje precisamente três anos escrevinhava eu num breve apontamento dos meus pensares e sentires que, pela primeira vez, partilho com os meus amigos:

O tempo que passa faz-me pensar na sua existência concreta e no seu fluir na existência do ser humano. Como disse Júlio Pomar, magnífico artista plástico português, também eu nunca vi o tempo, não tenho dele uma imagem real, pelo que os meus sentidos, que não a vista, dele vão dando conta.

Os seus efeitos, esses sim, podem ser detectados, muito embora para eles contribuam tantos outros factores que me leva a imaginar se os efeitos não seriam os mesmos se não considerássemos o “tempo que passa”.

Durante muitos anos não usei relógios, outros tempos houve que usava um em cada pulso, vivia ao ritmo da actividade que desenvolvia. Já usei e ainda hoje o faço, um relógio que divide o decurso de um dia em mil partes iguais. Olho muitas vezes para um relógio que contraria a frase feita “no sentido dos ponteiros do relógio”.

Hoje, escrevo o que senti nos dias mais recentes.

Muitas vezes o passar do tempo é lento, como acontece neste momento com o arrastar dos últimos momentos do ano 2003, na senda do ano bissexto que se aproxima. Outras parece um turbilhão, até turbilhão de sentires, como me aconteceu nos dois ou três dias que antecederam o Dia de Natal.

domingo, dezembro 28, 2003

imagens de viagem


Vaduz - Palácio Arquiducal

notas de leitura

As editoras começaram a enviar livros para o "professor" tal como estava previsto. _"Professor" eu? _Simples aprendiz da Oficina! _Se quer livros que os compre!!!, dizem os editores.


Fernando Pessoa, em vida, publicou diversas odes tendo atribuído a sua autoria a Ricardo Reis. Outros poemas e odes somente foram atribuídas a este heterónimo a título póstumo, pois mantiveram-se inéditas durante a sua vida.

Manuela Parreira da Silva, editou para a Assíria & Alvim parte importante do trabalho poético atribuído a Ricardo Reis, num trabalho de interpretação e fixação muito bem conseguido. As suas notas são indispensáveis para a leitura da obra ricardiana.

Na obra de José Saramago "O Ano da Morte de Ricardo Reis", o Prémio Nobel da Literatura escreve que "Ricardo Reis regressou a Portugal (vindo do Brasil) depois da morte de Fernando Pessoa". Algo o terá prendido, entretanto, ao Brasil.


POESIA, de Ricardo Reis; edição de Manuela Parreira da Silva
Obras de Fernando Pessoa/15, da editora Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2000, 233 páginas

a banda do cidadão em acção

A Banda do Cidadão é um meio de comunicação radio pessoal, de uso livre e muito divulgado em todo o Mundo, que se tem mostrado socialmente útil em muitas circunstâncias


Raio de Luz apela em Canal 9

Na noite fora os barcos de pesca, os "barras náuticos" ou "pés de sal" deslocam se mar dentro numa labuta diária, tantas vezes enfrentando um mar perigoso e violento.

Ao largo da costa portuguesa surgem então pequenas luzes assinalando as suas presenças, dando a imagem de um céu muito estrelado, maravilhoso.

O "Raio de Luz" saíra do porto de abrigo ao cair da tarde, tinha navegado muitas milhas no oceano na procura do reflexo prateado dos cardumes.

Já havia mesmo tirado para bordo quantidade significativa de peixe que na manhã seguinte seria transaccionada na lota de Setúbal.

A navegação continuava; a noite calma e o mar chão era um aliciante, era o chamamento da própria natureza.

Os "mestres das pescarias" utilizando o rádio CB trocavam entre si informações não só sobre a navegação como também sobre a posição dos cardumes naquele mar sem fim.

O tempo, assim, passava mais depressa e sentiam se mais seguros.

Foi então que se deu o acidente.

Num balançar inesperado, o desequilíbrio e um dos homens da companha em queda ficou gravemente ferido.

Os primeiros socorros são desde logo ministrados pelos colegas a quem a dureza do trabalho muito ensinou em matéria de sobrevivência.

O "mestre" recorrendo, então, ao rádio CB põe em funcionamento o sistema de "ajuda rádio" apelando em canal 9 para a situação de emergência.

Tendo dificuldade em entrar em contacto directo com os Bombeiros Voluntárias recebe de imediato ajuda de uma outra estação de CB em terra que escutara o apelo e que consegue estabelecer o contacto com a entidade de socorro.

É acordada a forma de se efectuar o socorro, estabelecido o local onde o barco acostará por forma a que quando tal se verificar já lá se encontre uma ambulância para que com a mínima perda de tempo seja realizado o transporte para a unidade hospitalar.

Todas as comunicações estabelecidas, a traineira pôde avançar afoitamente para o porto de abrigo na certeza de que os meios de socorro aguardarão a sua chegada com a ajuda necessária.

Durante o tempo de regresso o "mestre das pescarias" manteve contacto via rádio CB com terra, facto que lhe deu tranquilidade de espírito necessária a que tudo corresse bem daí para a frente.

O rádio CB acabava de prestar, uma vez mais, um bom serviço, mostrando a amplitude da sua utilidade.

sábado, dezembro 27, 2003

notas de leitura

As editoras começaram a enviar livros para o "professor" tal como estava previsto. _"Professor" eu? _Simples aprendiz da Oficina! _Se quer livros que os compre!!!, dizem os editores.


Dinis Gonçalves assinou os seus escritos como Sebastião Alba, mas também como Dinis e pp (de papá). Por vezes nem os assinava. Necessitava ter sempre à mão um lápis ou uma caneta, que para suporte qualquer coisa lhe servia, um pedaço de papel amachucado ou uma alva folha A4. Quando escrevia mais comodamente instalado, os seus escritos eram elaborados, quando lhe servia de secretária um qualquer caixote, o tejadilho de um carro, ou a própria palma da mão, os seus escritos eram simples desabafos de alma.

Sem abrigo por opção, este homem de muitas vivências e não menos andanças, nunca prescindiu da leitura de um clássico da literatura universal ou de ouvir uma peça de música erudita.

Albas é uma compilação póstuma, elaborada por Maria Santa-Cruz, que com ele partilhou muitos sonhos na juventude, de papéis dispersos que se encontravam na posse da família.


ALBAS, de Sebastião Alba; compilação de Maria Santa-Cruz
Biblioteca Primeiras Pessoas, vol. 2, da Editora Quasi
1ª edição, Outubro de 2003, 269 páginas

uma flor para a vanda


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


O bolo e a laranjada

Sábado à noite, quando a equipa da Académica da Amadora jogava em casa, era uma excitação. Jogo de hóquei em patins, à época no recinto recém-inaugurado no Bairro de Janeiro na zona ocidental da, então, vila da Amadora.

Já muitos anos atrás a prática do hóquei em patins tinha a preferência dos habitantes da Amadora que se dirigiam em festa para um rinque existente nos terrenos adjacentes aos Recreios Desportivos, local de encontro e de convívio das gentes da vila, nos tempos passados dos anos 40 e 50 do Século passado.

Aos sábados em que havia jogo, jantávamos mais cedo e, logo depois, deslocávamo-nos, a família completa, para a periferia da vila, um local já paredes meias com as hortas dos dominicais piqueniques, saudando, aqui e ali, gente conhecida que seguia com o mesmo destino.

Depois era o jogo, sempre antecedido por uma exibição de patinagem artística, executada por esbeltas mulheres, muitas das quais chegaram a obter galardões internacionais.

O jogo era mais animado quando a equipa adversária era uma daquelas onde jogavam os internacionais portugueses, tantas vezes campeões do Mundo. O Hóquei de Sintra com os célebres Cipriano, Edgar e Raio; O Desportivo de Paço de Arcos, com os célebres primos Correia, Correia dos Santos e Jesus Correia (o mesmo dos cinco violinos do futebol sportinguista) e o Emídio Pinto; O campo de Ourique, com o guarda-redes Matos; e tantos outros.

Os da casa: o Álvaro Lopes, o Valadas, o Príncipe, o Pepe ou o Rackar, tudo amadores no melhor sentido da palavra.

Ao fim da noite, jogo terminado, qualquer que fosse o resultado, era a boa disposição do regresso a casa, a romaria no sentido inverso ao que fora no princípio da noite.

A minha alegria era redobrada. Nunca o confessei antes, estou agora aqui a fazê-lo. Bem pertinho de minha casa havia uma leitaria onde, para minha grande alegria, de quinze em quinze dias, no regresso do jogo, o meu pai me comprava um bolo e uma laranjada que durante quinze dias me mantinham a minha expectativa para o próximo jogo.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

santos dumont, pai da aviação

O Pai Natal, o Papai Noel, St. Klaus, é uma figura do imaginário das crianças do norte da Europa ligada às prendas de Natal, transportadas em rápidos trenós puxados por renas através dos imensos campos de neve. No seu trajar branco e verde é uma figura ímpar dos contos tradicionais.

Os americanos da Coca-Cola numa operação de dimensão nunca antes executada, com fortes envolventes financeiras e de marketing, vestiram o Pai Natal de vermelho e branco, as cores do patrocinador, apossaram-se da lenda e difundiram-na para todo o Mundo como parte integrante da cultura (?) norte-americana.

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Na tradição e nas lendas da Irlanda e do seu Povo o “cabeça de nabo” simboliza a situação daqueles que, por não estarem nem bem com deus nem bem com o diabo, uma grande maioria, sofrem e penam eternamente ao cimo do nosso planeta no dia que, em tempos idos, não tinha existência no calendário, era um dia sem tempo, 31 de Outubro.

Os americanos, terceira ou quarta geração dos emigrantes idos da Irlanda, transformaram o nabo em abóbora, abriram-lhe olhos e boca, juntaram luminárias, apossaram-se da lenda e difundiram-na para todo o Mundo como parte integrante da cultura (?) norte-americana.

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Portugal recebe de braços abertos os artistas de todo o Mundo, norte-americanos também. As revistas da especialidades investigam e publicam toda a biografia dos artistas que nos visitam. As organizações primam-se no acolhimento, nas refeições da cozinha portuguesa. Portugal sabe receber como ninguém.

Whitney Houston, num concerto realizado no Pavilhão Atlântico, ali bem junto ao eterno Rio Tejo, completamente esgotado, teve a magnífica tirada dirigida aos admiradores que vibrantemente a aplaudiam... “_ I love Spain!!”.

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Em 2006 vai comemorar-se o centenário da Aviação em homenagem ao homem que começou a mudar o mundo com a invenção do primeiro objecto voador mais pesado do que o ar. Deslumbrou 300 mil parisienses que assistiram a um voo de 220 metros, a cerca de 80 metros do solo, com uma duração de 21 segundos. O brasileiro Santos Dumont ia a bordo do seu 14-Bis de 10 metros de comprimento.

Os americanos desde há muito que têm estado a dar reconhecimento a patranha dos Irmãos Wrigth que afirmaram, que juraram, ter sido os primeiros a voar, sem que ninguém os tivesse visto, como aliás iria acontecer até 1908. Os americanos produzem filmes “históricos”, prepararam uma megafesta onde investiram 210 milhões de euros, por forma a humilharem, como sempre gostam de fazer, o Povo Brasileiro.

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Aqui digo BASTA! Aos embustes, às apropriações indevidas, ao pistoleirismo dos governos norte-americanos.

A quererem preservar a sua cultura não deveriam ter destruído sistematicamente a cultura e o Povo índio, empurrando-os para o maior ostracismo em reservas artificiais e anti-natura.

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Os Povos de Língua Portuguesa deverão apoiar o Brasil na defesa de Santos Dumont como Pai da Aviação

quinta-feira, dezembro 25, 2003

que o natal traga muito amor a vossos corações


dia de natal

Com a leitura dos textos que pareciam emergir naturalmente do papel, a espiral transformava-se num círculo de quereres e sentires, cada vez mais próximo das certezas sobre a razão dos meus recorrentes sonhos.


Um qualquer dia do ano, foi Dia de Natal

Noite mal dormida, agitada, não devido a qualquer pesadelo que me incomodasse o sono que desejava retemperador, mas a um sonho recorrente que muitas noites interrompera o meu descanso.

Sonho na leveza da imaginação, ter capacidade para percorrer espaços sem fim, evitar obstáculos, enfrentar sem cansaço nem desânimo distâncias enormes que me conduzem ao próprio sonho. Circulo vicioso em que tudo de novo recomeça.

Nesta noite aconteceu uma ligeira diferença ao sonho já por mim conhecido de tão habitual. Uma bela mulher, tocada pela mesma magia, cruzou-se comigo uma só vez, o suficiente para fixar as belas linhas de seu rosto para sempre.

Esta diferente sucessão de acontecimentos sonhados, lançaram-me em profunda inquietação somente atenuada quando no frio da manhã recém chegada assomei à varanda da minha casa, situada numa ligeira elevação de terreno sobranceiro ao mar, amplo mar, que se espraia num longo areal que chega até ao local onde se encontra implantada uma fileira de casas de praia.

Deixei-me ser completamente absorvido pela paisagem, pela profundeza do mar azul. Quedo e ledo, como hipnotizado em transe profundo, deixei minha imaginação vaguear pelo tempo e pelo espaço, sentindo-me, cada vez mais, tranquilo, sem que, contudo, conseguisse varrer da minha retina a imagem da mulher sonhada na noite anterior.

Num momento, recordava as belas linhas do rosto maravilhoso, logo depois, o voar pelas terras do sem-fim, a seguir, a imagem de uma mulher a caminhar airosamente pelas areias da praia, que mais do que sonho me parecia realidade.

O meu olhar continuava fixo no mar. Quem me observasse nesse fugaz momento, cabelos brancos, compridos, desgrenhados, barba de igual alvura, aparada como pêra, achar-me-ia, provavelmente, louco, mas no mínimo, estranho.

Minha mente, continuava agitada, por um sem número de imagens, de sentido oposto, logo de seguida convergentes, cuja origem eu não conseguia definir. Dos sonhos? De olhar o horizonte onde o mar se junta ao céu? Duma mulher, bela mulher, deslizando nas doiradas areias da praia? As imagens sobrepunham-se, tornando-se nítidas e, logo depois, desfocadas, mas continuavam perenes no meu cérebro, ou no meu coração?, linhas cada vez mais bem definidas de um belo rosto de mulher.

Noite mais dolorosa que a anterior, pela certeza de sentir a razão de um sonho, que tendo voltado a atormentar o meu repouso, agora, algo de muito real, mas intangível, que eu desejava ardentemente rever uma vez mais.

Mais fria está esta nova manhã. Mas o apelo sentido era tão forte que de novo recebi o nascer do Sol na varanda da minha casa, voltada ao mar. Agora, já não olhava o mar infinito e misterioso e tão azul. Meus olhos esperavam ansiosos ver surgir na praia o vulto da mulher que o sonho me prometera.

Não passou muito tempo. Uma mulher esbelta e de suave caminhar vinha lá dos lados das casas de madeira que bordejam as areias da praia, dirigindo-se na direcção em que me encontrava.

Na zona frontal à minha casa entrou na água do mar e de lá olhou-me, procurando meus olhos. A distância era grande, mas a intensidade do olhar ofuscou-me de tal forma a visão que, subitamente, virei as costas e entrei em casa.

Embrenhado nos meus pensamentos, as imagens dos sonhos a cruzarem-se com as da realidade, não dei pelo tempo passar. Tempo que deixou de fazer sentido pois a minha vivência ficou totalmente dependente do caminhar do Sol, cujo ocaso muito desejava.

Quando dei por mim, já o Sol estava se pondo com magnífica luminosidade, em tons de amarelo doirado como nunca antes tinha visto. Um sentimento estranho se apossou de mim deixando-me na certeza de que algo muito importante iria acontecer. Algo que há muitos anos esperava e desejava.

Bateram à porta. Já sabia quem seria. Quando abri a porta, aquela bela mulher envergando um vestido solto que o vento fazia voar, sorri suavemente. Pareceu ficar estonteada quando afirmei:
_Eu sabia que vinha.

Questionou-me docemente:
_ Sabia? Como sabia disso?
_ Sim, eu senti quando te vi a primeira vez.

Disse-lhe calmamente procurando, ao mesmo tempo, tranquilizá-la.
_ Ah, hoje pela manhã não? Na praia?

Sorri-lhe, uma vez mais enquanto deixei transparecer o meu sentir de há longo tempo recorrente nos meus sonhos:
_ Hoje? _ Claro que não....Há muito tempo atrás.

Vendo-a algo perturbada, ofereci-lhe um vinho que aceitou. Quando me aproximei apercebi-me que o seu estado de espírito se reforçava, ficando mais confiante. Pude apreciar toda a sensibilidade de tão interessante mulher.

Só então reparei num quadro que trazia apertado a seu corpo.
_ Fiz este quadro hoje, geralmente levo dias pintando, mas esse foi tão rápido e misterioso, eu não o programei, e é você... Resolvi te trazer. As imagens não são tão nítidas, nunca faço imagens muito nítidas, talvez por achar que a vida também não seja assim..
_ Está perfeito, eu vejo o mar assim.... Obrigado.

Ficámos conversando horas sem fim. O tempo fugiu entre os dedos como acontece com a areia da praia aqui tão perto.

O meu olhar procurava-a com avidez, tentando encontrar todos os elos existentes entre esta bela mulher e as linhas perfeitas do rosto que desde há muito sempre me acompanha nos sonhos.

Senti-a assustada quando a olhava mais profundamente, mas era irresistível fazê-lo.
_ Tenho que ir. Já é tarde.

Ofereci-me para a acompanhar a casa, mas não aceitou, justificando-se com a necessidade imperiosa de ficar só.

Durante longos dias deixei de ver na praia a bela mulher com seu vestido esvoaçante, muito embora, ao nascer da manhã sempre permanecesse na varanda olhando o amplo mar na espera de um encantamento.

Depois desalentado, temente de que tudo não tivesse passado de mais um sonho, encerrei-me em casa, nem sequer abrindo a porta quando batiam. A coragem de enfrentar a realidade esvaiu-se como o fumo dos cigarros que fumava sem sentido.

Passaram dias e meses, o sonho que durante tanto tempo me acompanhou também ele se afastou, seguindo as pisadas da bela mulher da praia. A minha tranquilidade, contudo, não mais regressou.

Meses passados, tantos que lhe perdi a conta, o sonho regressou numa noite mais agitada do que nunca, num chamamento irrecusável para a vida. Levantei-me cedo, percorri a distância que vai da minha casa à fileira das casas implantadas junto à praia, deixando os pés entrarem na areia, recebendo no rosto a fria brisa matinal.

Junto à sua casa, bati à porta. Tão doce mulher recebeu-me com um sorriso suave e terno:
_ Eu sabia que vinhas.

Correspondi a sua ternura, sorri e entrei.

Na sala um cavalete com um quadro praticamente terminado. Muito semelhante ao que meses atrás me havia oferecido. Só faltava o homem de barba e cabelo branco na varanda.

Nesse dia, um qualquer dia do ano, foi Dia de Natal.


Completava-se um ciclo de 20 anos, ou seria de 30? ou de 40? Os contos "Espiral" e "Um qualquer dia do ano, foi Dia de Natal" decidiram que na sua caminhada para o editor jamais se separariam.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

minhas prendas de natal



espiral do pensamento

Quando abri a "Carta que veio de Longe" fui encantado com um suave odor de rosas vermelhas, rosas de Vale de Rosal, que emanava das três folhas de papel contidas na carta.

A surpresa foi maior quando verifiquei que o texto que vinha escrito de um dos lados das folhas de papel se desvanecia tanto mais, quanto o odor das rosas se libertava.

Procurei preservar as palavras que, cada vez menos eram visíveis, transcrevendo-as para aqui:


Espiral

Ainda fazia o frio da manhã recém chegada. Desci as escadas da minha casa que davam direto na areia do mar, não usava casaco, pois sabia que ao voltar estaria quente. Ao iniciar minha caminhada na praia meus primeiros passos são lentos e é nesse momento que eu me sinto abastecer de toda essa natureza generosa, ela penetra em mim como fonte geradora de vida....O ciclo da vida é mesmo sempre assim, mas já estava a dar passos largos e fortes, corria.

Tive uma sensação de alegria, de paz, continuei ainda muito tempo a correr na areia da praia, quando senti vontade de sentar-me um pouco. Queria admirar o mar, escutar seus segredos, quem sabe ouvir os meus , aqueles que nem mesmo eu sei...Mergulhar em mim.

Deitei-me e não sei quando tempo permaneci ali, devo ter adormecido. O sol forte no rosto me fez voltar. Continuei meu caminho, que me parecia mais interessante que de costume. Senti vontade de voltar por um caminho diferente, eu terminaria por uma estrada estreita, paralela ao mar, que ficava mais ao alto. Subi, ali ficavam algumas casas, exóticas e misteriosas.

No alto de uma varanda alguém me chamou a atenção. Como eu andava devagar neste momento, aos poucos pude perceber aqueles contornos. Era forte, alto, com um olhar misterioso e fixo. Estava quieto, tão quieto, olhava firmemente o mar como se estivesse em transe, completamente envolvido pela paisagem. Quis que ele me olhasse e pensei: ao passar mais perto, talvez quebre sua concentração, quem sabe posso ver os seus olhos. Senti-me atraída por ele. Fui me aproximando, mas nada aconteceu , ele permanecia quieto, olhar fixo para o mar... O que aquele homem olhava, pensava, sentia? Senti-me ainda mais atraída e fascinada. Seu ar de mistério envolvia-me. Continuei meu caminho de volta.

Ao chegar em casa, muitas lembranças desta manhã ficaram se repetindo como se fossem trechos de filmes, e aquele homem misterioso.. Porque não conseguia parar de pensar naquela cena? Descobri-me com uma curiosidade enorme de olhar os seus olhos...Quem seria ele?

Meu dia parecia normal como todos os outros, exceto pelos meus pensamentos que voavam, estavam no mar, estavam naquela varanda. Ainda não podia compreender porque a presença daquele homem havia me impressionado tanto, mas a verdade é que não consegui me concentrar em outras atividades neste dia. Sou uma artista plástica. À manhã e ao entardecer sempre me davam muita inspiração para iniciar um quadro, me aproximei do meu cavalete e fiquei olhando a tela branca, tudo parecia-me envolto em mistério. Não sabia ao certo o que queria... Ou sabia? De repente comecei a desenhar o mar...A varanda, e fiz o esboço daquela varanda, daquele homem, surpreendi-me com a rapidez dos pincéis, com a rapidez da minha mente.

Uma nova manhã. Desta vez resolvi sair mais cedo, ainda mais frio. Olhava bem à frente e pensava...Eu não vou subir aquele caminho, eu não vou encontrar aquela varanda, eu não vou olhar aqueles olhos. Lutava comigo, com o que sentia, com o meu desejo. Em frente à casa dele, não resisti, parei, virei-me e lá estava ele, do mesmo jeito, com o mesmo olhar.

Entrei no mar, nunca fazia isso, e de lá olhei seus olhos, que mesmo apesar da distância pude percebê-los, ele olhou em minha direção, aquele olhar me aqueceu. Em seguida ele virou as costas e entrou. Quis chamá-lo, ir atrás dele. Lutei contra isso. Senti frio, resolvi voltar correndo à minha casa. Tomei um banho e um chocolate bem quente, olhei meu cavalete e a minha Tela.. Peguei meus pincéis e aquele esboço passou a ter contornos, um rosto, um olhar. Levo dias pintando meus quadros ou mesmo escrevendo minhas histórias, mas, naquele momento tudo fluía muito facilmente. Passei o resto do dia a trabalhar nele e ao final da tarde estava pronto.

Eram umas seis da tarde, o sol estava se pondo, aquele amarelo ouro espalhado pelo ar, a tonalidade das casas, das árvores ganhavam um toque especial. ..Eu estava me sentindo feliz. Olhei aquela paisagem pela janela, olhei para a Tela, olhei mais uma vez...Peguei o quadro, tirei do meu cavalete e sai com ele nas mãos...Eu estava com um vestido solto e o vento fazia ele voar, tinha medo que se encostasse ao quadro, eu travava uma batalha com o vestido, com o vento, com minhas emoções ,comigo. Não parei de andar até chegar em frente á casa dele, respirei fundo e bati à porta.....
Não demorou nada, não deu tempo para que eu sentisse medo ou vontade de desistir. Ele abriu e sorriu, um sorriso suave e disse:
_ Eu sabia que vinha.

Aquilo me deixou tonta, como ele sabia que eu vinha? Por que ele me dizia isso de forma calma e aliviada?
_ Sabia? Como sabia disso?
_ Sim, eu senti quando te vi a primeira vez. Ele continuava falando calmamente.
_ Ah, hoje pela manhã não? Na praia?
_ Hoje? Sorriu mais uma vez...._ Claro que não....Há muito tempo atrás. Estava ficando tão perturbada que resolvi não perguntar mais nada. Talvez parecesse boba.

Ele me perguntou se queria um vinho, disse que sim e quando ele se aproximou com as taças na mãos, percebi que o quadro ainda estava preso comigo, me dando apoio, me amparando...Senti-me mesmo boba, insegura e assustada.. Resolvi mudar aquilo tudo, afinal eu me sentia uma mulher forte, corajosa, que arriscava...Peguei a taça, tomei um gole, aquilo me aqueceu.

Fiz este quadro hoje, geralmente levo dias pintando, mas esse foi tão rápido e misterioso, eu não o programei, e é você...Resolvi te trazer. As imagens não são tão nítidas, nunca faço imagens muito nítidas, talvez por achar que a vida também não seja assim..
_ Está perfeito, eu vejo o mar assim.... Obrigado.

Conversamos algumas horas, não sei ao certo quantas, mas vez por outra, sentia alguma coisa diferente em seu olhar, ficava meio perturbada e não me sentia à vontade de questionar, aquele encontro me dava uma sensação boa, eu queria apenas sentir. Acho que tomamos toda a garrafa de vinho, e o que aqueles olhos queriam me dizer? Será que eu também tinha algo a dizer? Era uma emoção diferente, gostava do que estava sentindo.

Quando vi que poderíamos revelar algo, me assustei....
_ Tenho que ir. Já é tarde.
_ Posso te acompanhar até a sua casa? Ele disse.
_Não, tenho que ficar um pouco só agora. Obrigada. Alguma coisa me diz que tenho que seguir sozinha.

Saí de lá, com uma vontade enorme de voltar e perguntar: quem é você? Mas eu sabia que ainda não era a hora. Estava tão excitada com tudo isso que demorei muito tempo a dormir, apesar do vinho.

Tive medo de ir ao encontro dele no outro dia, e no outro e no outro, portanto alguns dias se passaram sem que eu o visse novamente. Mas ao levantar, quis ir correndo direto até ele, eu o perguntaria tudo, eu diria o que sinto, iríamos desvendar esse mistério todo que nos envolvia. Fiz exatamente isso, saí correndo, correndo, só parei diante da sua porta. E bati. Bati. Bati. Mas, ele não abriu e não me sorriu com aquele sorriso suave. Sentia uma dor enorme, difícil de explicar, afinal não sabia ao certo o que se passava nem o que tinha perdido. Chorei. E pensei que eu deveria tê-lo procurado, pensei em coisas que geralmente costumava falar para as pessoas: nunca fuja do seu destino! E eu tinha fugido do meu, por quê? Isso me deixou profundamente triste e decepcionada comigo mesma.

Continuei com meus passeios e em frente à casa dele eu parava e olhava para a varanda, que não tinha mais ninguém. Talvez tenha feito isso por dias e dias, meses e meses seguidos, não sei.

Hoje, senti vontade de fazer um quadro diferente, levantei cedo, não quis correr na praia, resolvi que ficaria em casa, que começaria naquele mesmo instante um quadro que se esboçava em mim com uma força tão grande como aquele que fiz, de um mar, de uma varanda, de um homem que não sei quem é.

Meu pincel deslizava, formas foram surgindo, ainda era a mesma varanda. Como seria possível? Pensei. Mas não tinha ninguém lá...Apenas uma varanda...
Estava absolutamente absorvida com o meu trabalho, demorei a perceber, mas alguém batia em minha porta. . Abri. Era ele....

Mais uma vez ele sorriu suavemente.
Retribui o sorriso e disse:
_ Eu Sabia que vinha.


Trata-se de um conto. Como tal assinado por alguém que o futuro se iluminará como escritora: Liliana Miranda.


Verifiquei então, surpresa das surpresas, que enquanto este maravilhoso texto se desvanecia de um lado das folhas de papel, um outro texto se tornava cada vez mais visível no outro lado das folhas.


terça-feira, dezembro 23, 2003

um santo natal


prenda de natal

A Carta que veio de Longe

Nesta quadra natalícia os carteiros andam numa verdadeira azáfama, transportando os seus sacos de amizade e tantos sonhos, ao contrário do que acontece em outras épocas do ano, em que a maioria das missivas estão longe dos afectos, tão necessários em qualquer dia do ano.

O carteiro de Vale de Rosal é um homem já idoso, mas muito especial. Chama-se Manuel, o senhor Manel, nome do meu pai de quem, sempre que o vejo, avivo a recordação. Até na sua afável maneira de ser são parecidos. Por outro lado, transporta-se numa bicicleta o que me faz lembrar o “carteiro” de Pablo Neruda, no seu incansável trabalho de transmitir notícias, umas boas outras más, claro está.

Hoje acordei ainda o dia madrugava. Com um inexplicável sentimento de ansiedade ali me quedei horas a fio entre o sono que terminara e o sonho que insistia em manter-se. Aquele estranho estado de vigília, de desassossego, da falta de um sinal para me empurrar para fora da cama.

O sonho desenvolvia-se em círculos infinitos, numa espiral de pensamentos que, cada vez mais, me aproximava da necessidade premente de me levantar, de ir à varanda, de me deixar envolver pelo chamamento insistente do mar.

Na fria manhã, olhei o mar agitado, mar forte, tumultuoso até, que quando chegava à areia da praia, a ganhar as suas primeiras tonalidades doiradas da aurora, se espraiava docemente, borbulhando com suavidade.

O mar estava a contar-me uma história. Conversava comigo nesta alternância de agitação e de suavidade. Pretendia transmitir-me uma mensagem, vinda sei lá de onde, das terras do longe, por certo.

Voltei-me para nascente onde o Sol começava a despontar. Pela vereda que serpenteava entre as terras próximas e descia até minha casa, vislumbrei o senhor Manel que na sua bicicleta se dirigia na minha direcção. Quando cruzámos nossos olhares seu braço erguido começou a agitar com entusiasmo uma carta, dizendo: _ Tenho notícias para si...

Quando chegou à minha beira e me entregou a missiva, sorriu tranquilamente por sentir sua missão cumprida.

_ Veio de tão longe esta carta... mas chegou antes do Natal!

Falou de uma forma que parecia conhecer o conteúdo da missiva, saber que era portadora de notícias agradáveis.

Olhei a carta que havia chegado a minhas mãos com o entusiasmo do senhor Manel. No remetente tinha somente “Lua, algures no Universo”. O destinatário “Vicktor, Vale de Rosal, Praia do Sol”.

Despedi-me do senhor Manel, desejando-lhe muita paz e saúde no seu Natal. Afastou-se levando a bicicleta à mão, pois o regresso era pela íngreme vereda por onde antes tinha descido. Após se ter voltado para trás para um último adeus, abri a carta.

Antes mesmo de retirar as três folhas de papel contidas no sobrescrito o ar ambiente foi inundado por um suave odor a rosas, a rosas vermelhas.

_ É impossível o que está a acontecer... Pensei em voz alta.

Aquele odor que, cada vez mais, impregnava o ar era o odor das rosas de Vale de Rosal. Das rosas vermelhas do meu jardim. Como era possível este odor estar a libertar-se de uma carta vinda de terras do tão longe?

A emanação deste odor tão familiar só se atenuou quando retirei do interior as três folhas de papel escritas de um só lado. Não havia qualquer dúvida. O odor nascia no próprio texto que as folhas trazia escrito e cujo texto comecei a ler. A Espiral.

Li tudo de forma compulsiva. A emoção apoderou-se de todo o meu ser. Estava ali escrito naquele texto, palavra por palavra, a explicação para o sonho que recorrentemente eu tinha desde há vinte, há trinta, há quarenta anos.

Acabara de receber a mais bela prenda de Natal, como o mar já me havia confidenciado.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

uma flor para minha musa inspiradora



um desenho mágico

Conto singelo como simples são as coisas boas da vida, como simples são os pensares das crianças, como simples foi a forma encontrada por Tiago para fazer nascer o Menino Jesus. O Tiago descobrio que num dia qualquer do ano basta desenhar um Menino Jesus e um simples sopro mágico para ser Dia de Natal.

A todos os que visitam, comentam e inspiram a Oficina o meu desejo de um Natal Feliz e Solidário.


Um Desenho Mágico

O Tiago vive feliz nos seus quase quatro anos de idade, despreocupado e sadio. Ocupa os seus tempos diários entre a ida para a ama, ao cuidado de quem fica enquanto os pais vão para o trabalho, e o convívio familiar, muitas das vezes na companhia da sua irmã mais velha.

Bem cedo surpreendeu seus pais e familiares com a destreza com que pegava num lápis de carvão e fazia riscos numa folha de papel. A cor pouco lhe dizia, era mais o contraste dos riscos negros com a alvura do papel. Com o tempo, passou a cruzar os riscos uns com os outros, a dar alguma forma aos desenhos, simples mas que para o Tiago já teriam algum significado, pois ficava tempos infinitos a olhar para eles.

De todas as tarefas escolares era, sem dúvida, “os riscos e os rabiscos” aquela que mais o encantava e atraía, pois embora aplicado nas outras áreas da aprendizagem, algo o chamava para o desenho. Algo procurava nos desenhos. Ficava horas a fio, na companhia da sua irmã mais velha ou dos colegas, a desenhar.

Passado algum tempo descobriu a cor. Foi uma descoberta importante e esplendorosa quando sentiu que além de modificar o aspecto do papel quando nele traçava riscos de carvão, poderia também dar vida às formas embrionárias e muito simples que desenhava.

O azul forte, cor do mar que ele tanto gostava, especialmente, nos dias de Verão para dar mergulhos atrás de mergulhos, passou a ser a cor da sua preferência. Procurava, de igual forma, encontrar lápis de cor que dessem a tonalidade da pele, difícil hem?, com os quais procurava pintar os rostos de pessoas cada vez mais presentes nos seus desenhos.

De descoberta em descoberta, de risco em risco, de lápis de cor em lápis de cor, o Tiago foi desenhando de forma cada vez mais perceptível para os outros. A ama chegou a comentar para seus pais “Tem muito jeito para pintar... e fá-lo sempre tão concentrado!”.

Era uma concentração algo estranha, pois o Tiago, além de desenhar e pintar as figuras humanas que ia criando, ficava horas e horas apreciando o resultado do seu labor, como na procura de encontrar algo mas que ainda não tinha conseguido vislumbrar.

Um dia começou a nomear as figuras que desenhava: “Esta és tu mamã.... e este és tu Papá!”. Depois o tio, a irmã, a avó, enfim toda a família ia sendo retratada. Os olhos de Tiago brilhavam de contentamento sempre que a sua mãe ou seu pai reconheciam num dos desenhos do Tiago um ente familiar.

Uma outra paixão que o Tiago sempre tinha era pelos bebés recém-nascidos. Quando visitavam algum casal amigo, em visita de parabéns pelo feliz acontecimento, o Tiago exultava de alegria e observava atentamente o bebé, como se pretendesse compreender o mistério do nascimento.

Agora que se vive a magia do Natal, a magia do nascimento do Menino Jesus, uma centelha luminosa parece ter dado novos entendimentos ao Tiago. Um dia, encheu-se de coragem e questionou a mãe que tanto o acarinha e compreende sobre algo em que há muito meditava: “Mamã... foste tu e o papá que fizeram o meu desenho? Foste tu e o pai que me pintaram? Pintaram as minhas orelhas? O meu nariz? A minha boca?”. Perante o espanto de sua mãe ainda acrescentou: “Fizeram o desenho e, depois, eu saí do papel...”. “Foi assim, também, que aconteceu com o Menino Jesus?”.

O Tiago com imaginação e fantasia tinha encontrado a “sua” solução para o mistério da procriação. Para ele, está perfeitamente explicada a forma como os bebés vêem ao Mundo.

Daqui a uns tempos, tempos curtos por certo, o Tiago ira conhecer a magia da sementinha, mas entretanto, vive intensamente a descoberta de toda a fantasia e encantamento de um desenho colorido numa alva folha de papel, de onde se liberta com um sopro mágico, ganhando vida.

domingo, dezembro 21, 2003

imagens de viagem


Alemanha - Hamburgo

a banda do cidadão em acção

A Banda do Cidadão é um meio de comunicação radio pessoal, de uso livre e muito divulgado em todo o Mundo, que se sem mostrado socialmente útil em muitas circunstâncias


Ser útil com a Banda do Cidadão numa situação inesperada

Vila Nova de Milfontes. Dez horas de uma manhã quente de Agosto de 1981.

Como habitualmente deslocava-me com a família para a zona balnear que distava alguns quilómetros do local onde me encontro a residir.

Nessa manhã como tencionava passar todo o dia na praia, desloquei-me de carro à vila, afim de adquirir alguns géneros de que precisaria na hora da refeição. A avenida principal encontrava-se em acabamentos de pavimentação, com uma antiquada máquina de rega asfáltica a gemer, penosamente, acompanhada por alguns trabalhadores que lentamente cumpriam a sua missão.

Quando de regresso à viatura não resisti à tentação de acompanhado pela mulher e filhos ir tomar um café. A rua estava já pejada de passeantes, uns dirigindo-se para a praia, outros na faina habitual do seu quotidiano e ainda outros, em pequenos grupos conversando.

Passados poucos minutos, de regresso à rua principal, depois de saciado o vício do café matinal, verifico com espanto, que no local onde pouco antes tinha passado algo de anormal se estava passando.

Um homem saltava e gritava e já uma pequena multidão se aglomerava à sua roda. Apressei o passo na tentativa de verificar o que se estava passando e de me informar. A informação chegou rápida e brutal. A mangueira da máquina de betume tinha saltado e violentamente tinha embatido nas vistas do homem que gritava.

Imaginei as dores que ele deveria sentir. Sabia que a máquina trabalha a altas temperaturas, que a pressão com que a mangueira expele o betume é elevadíssima e era para mim evidente que era necessário actuar rapidamente por forma a minorar o sofrimento e a evitar consequências mais graves.

Depois de alguns momentos de hesitação, perguntei se havia bombeiros. Alguém berrou que não, que só existia uma ambulância junto à Casa do Povo.

Corri para o carro e liguei o rádio CB em canal 9. Apelei socorro para os Bombeiros do Cercal, distantes cerca de 15 quilómetros. Não consegui o contacto.

No momento em que ia tomar a decisão de eu próprio fazer o transporte do sinistrado para o Hospital de Odemira, distante cerca de 30 quilómetros, respondeu-me a estação "PIGAL" que sendo da localidade sabia o sítio exacto em que se encontrava a ambulância, conhecendo, inclusive, o motorista.

Mais calmo, saí do carro e informei que dentro de segundos uma ambulância chegaria. Para muita gente, era a primeira vez que viam um rádio CB e para muitos outros era a verificação da sua utilidade. Uns e outros concordavam que sem aquele equipamento rádio, pouco ou nada se poderia ter feito.

Uma sirene soou. Era a ambulância. A minha missão tinha acabado, a família e a praia esperavam me e eu pensava: "que pena tantos quartéis de bombeiros não usarem ainda rádio CB".

sábado, dezembro 20, 2003

imagens do meu arquivo


Mar Tormentoso


fragmentos para a história da minha terra

Pesquisa e comentários sobre o que foi publicado, no decorrer do tempo, de autores diversos, relevante para a história da Charneca de Caparica


A Comissão de Festas de Charneca de Caparica organizava anualmente as Festas Tradicionais que começaram por se realizar na Quinta de Monserrate, então da propriedade do empresário teatral Vasco Morgado.

Era este senhor muito ligado às artes cénicas, especialmente ao teatro musical e de revista, estando a seu cargo a exploração do saudoso Teatro Monumental, em Lisboa. Esse facto, e por ele ser a maioria das vezes o mordomo das Festas da Charneca, trazia até esta aldeia rural da margem sul do Tejo muitos forasteiros.

Nessa época, e estamos a falar entre os anos 40 e 70 do Século passado, organizavam-se também os círios de peregrinação anual à Senhora do Cabo, no Cabo Espichel, que seguia um percurso ainda hoje referenciado por um marco quilométrico existente na Charneca de Caparica, junto ao Mário Casimiro, mas cujo traçado por muito deteriorado é praticamente desconhecido das gentes que hoje aqui vivem.

Conta-se, recordam os mais velhos da terra, que o círio vindo de Alcabideche com destino ao Cabo Espichel se encontrava com o da Charneca nas imediações da quita de Monserrate seguindo o restante percurso em conjunto.

Da tradição popular encontrámos esta quadra dispersa em documentação avulso:

O Velho de Alcabideche
E a Velha da Caparica
Foram à Rocha do Cabo
Acharam prenda tão rica


lugar comum

Numa conversa de amigos veio à fala um lugar comum, contudo dito com sentimento. Por isso, aqui o partilho com os meus amigos:

Olho para trás e de nada me arrependo... estou feliz e tranquilo... sinto que ninguém prejudiquei na minha viagem... contudo, se pudesse voltar a tempos idos ia aproveitar para aprender mais.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

imagens da minha terra


Costa de Caparica - Artes

corpo de mulher

As Coxas

O cinzel do artista em suave afago batido com o maço
Retira da pedra pedaços que a Natureza a mais tinha deixado
Nossos olhos são surpreendidos, quiçá de profundo embaraço
Pela beleza ímpar de esbeltas coxas, sonho em mármore talhado.

O sopro mágico do artista deu forma, deu cor e tanta vida
Em magníficas variações de luminosidade e de sombra
Que o Mundo se agitou, bateu mais o coração, doce batida
Que o amante, eterno amante, se encanta e assombra.

No cruzar e descruzar das coxas com tamanha sensualidade
Nascem promessas de carícias, loucos sentires, suaves devaneios
Sonhos sonhados em noites de vigília tornados realidade
Esplendor ímpar de bonitas coxas, tais como teu ventre e seios.

Caminhar doces coxas num percurso lento rumo ao Sul
É certeza de encontrar a deliciosa beleza de mimosos pés
Num beijo eterno que vai muito para lá do amplo mar azul
Êxtase de amantes, saciedade de sentires, no Mundo de lés-a-lés.

No rumo certo, para Norte caminhando, na busca do tesoiro
O querer sempre mais na procura do total encantamento
O repouso de guerreiro ou novas liças em suave tosão de oiro
Doces carícias, sentir profundo, a carícia de um profundo sentimento.



quinta-feira, dezembro 18, 2003

imagens da nossa costa


Praia da Bela Vista

com licor de ginja um robusto estrella

O João Carvalho Fernandes, que no seu Fumaças dá cartas quanto a charutos, e não só, dignifica a degustação tranquila de um licor de ginja com a recomendação do acompanhamento com um charuto Robusto da Fábrica de Tabaco Estrella, dos Açores.

Aqui na Oficina construímos a ligação entre o Fumaças e o Elogio da Ginja, com muito prazer!

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


As Sátiras

As sátiras de Bocage projectam-no para um reconhecimento que nunca antes teria sido pensado. Em 1791 publica o primeiro tomo da Rimas, e é considerado o máximo na má-língua dita de forma única.

O seu reconhecimento vem provocar divisões entre apoiantes e detractores. Do seu lado estão os futuros tertúlios da Tebaida da Mãe de Água, padrinhos literários de Alexandre Herculano. É proclamado o poeta da Europa por um empresário de teatro na rua de S. José na baixa lisboeta.

Contra si estão os que Bocage chama de “corja vil”, no comando do seu inimigo figadal o Padre Caldas.

A polémica embravece com um nunca mais acabar de sátiras onde Bocage é acusado, provavelmente com razão, de levar uma vida desbragada rodeado de mulheres da vida e com noites mal dormidas e bem bebidas.

Bocage acaba por ser expulso da Nova Arcádia, aliás desde ha muito havia deixado de frequentar a Casa do Conde de Pombeiro. Contudo a guerra é uma guerra de foguetório, com mais canas do que pólvora. Intimidade espiritual tem Bocage com a Marquesa de Alorna que lhe dá motes e protege a sua pobre irmã, Maria Francisca.

Soneto 53

Tenta em vão temerária conjectura
Sondar o abismo do invisível Fado,
Que, de umbrosos mistérios enlutado,
Some aos olhos mortais a luz futura.

Presumia (ai de mim!) vendo a ternura
Daquela, que me trouxe enfeitiçado,
Presumia que Amor tinha guardado
Nos braços do meu Bem minha ventura.

Ó Terra! Ó Céu! Mentiram-me os brilhantes
Olhos seus, onde achei suave abrigo:
Quão fáceis de enganar são os Amantes!

Humanos, que seguis as leis, que sigo,
Vós, corações, que ao meu sois semelhantes,
Ah! Comigo aprendi, chorai comigo.


quarta-feira, dezembro 17, 2003

sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Mexilhões à Portuguesa
Para 4 pessoas

Para a preparação deste opíparo arco-íris de odores sabores, recomendo a utilização de mexilhões muito frescor, se possível, com tratamento de depuração, o que hoje já se pratica em muitos viveiros naturais destes bivaldes.



Ingredientes
2,5 kg. de mexilhões
3 cebolas
6 dentes de alho
2 c.s. de margarina
2 c.s. de azeite
1 kg. de tomate maduro
1 pimento fresco
1 folha de louro
1 dl. de vinho branco
1 malagueta de piripiri
1 molho de coentros picados
1 molho de salsa picada
pimenta em grão moída na altura
sal

Preparação
Raspe muito bem os mexilhões, retire-lhes as barbas e lave-os em várias águas. Não utilize os mexilhões que ao serem tocados se mantenham abertos. Corte as cebolas e os alhos em rodelas finas e, num recipiente largo, leve a cozer com a margarina e o azeite. Junte o tomate, pelado e sem grainhas, cortado em bocadinhos, o pimento cortado em tiras finas, o louro, o vinho branco, o piripiri e os coentros e salsa picados. Tape e deixe cozer até o tomate estar macio. Introduza os mexilhões e mexa até estarem todos abertos. Tape, tempere com sal e deixe apurar durante cerca de 10 minutos, agitando o tacho, de vez em quando. Sirva polvilhado com coentros picados.



terça-feira, dezembro 16, 2003

uma flor para a suzy


Mil Felicidades

ginja com elas

Os amantes do Licor de Ginja, especialmente, ginjas com elas, já têm na blogoesfera um espaço que lhes é dedicado.

O Elogio da Ginja, de Paulo Moreiras, é esse espaço que na blogoesfera trata com desvelo esse maravilhoso licor de génese portuguesa e que aqui convido os meus dedicados leitores a uma visita cuidada.

Ouvir uma boa música, comer "elas" e beber este licor que de monges também é, divinal fim de tarde. Há um charuto para acompanhar um Licor de Ginja? O Fumaças que o diga, ele que tem a sabedoria nesta área.


portugal em imagens


Óbidos

almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Noites de Almada

Almada Velha anima-se quando a noite desce sobre a cidade criando, aqui e ali, sombras cúmplices dos beijos furtivos dos namorados, mas também das dramáticas situações de consumo de droga e de prostituição.

A noite dos jovens e dos menos jovens é vivida nas imediações da Capitão Leitão, de grandes tradições na vivência almadense, a cair para os lados do Tejo, nas zonas do Miradouro e do Castelo.

Os pequenos bares acolhem, a cada noite que passa, centenas de visitantes que na justificação de "um copo" conversam como somente os almadenses sabem conversar, sobre os temas do momento e as preocupações do dia-a-dia. Os forasteiros integram-se facilmente na grande convivialidade das gentes de Almada, ganhando o estatuto de cidadania se mais do que uma vez aparecerem. Almada está habituada, desde tempos imemoriais, a acolher no seu seio gentes de terras distantes e diversificadas, de cores e credos diversos, propiciando a sua perfeita integração. Grupos alegres, por vezes muito "alegres", percorrem incessantemente as ruas e calçadas da cidade que já albergou nas suas muralhas D. Nuno Álvares Pereira e o Prior do Crato, quando Lisboa lhes foi agreste.

Mas não só na cidade de Almada a noite é assim vivida. Também no seu termo, um pouco por toda a parte, os beberes e comeres da região apelam à nossa presença. Cacilhas, Piedade, Feijó, Laranjeiro, Sobreda, Pragal, Charneca, Caparica, Costa e Trafaria encerram em si segredos que urge descobrir.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

uma flor para a cori


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


O Senhor Viegas

Quando há poucos dias vi e ouvi na televisão uma entrevista feita à Dona Mariana, mãe de um importante artista, actor, declamador português já falecido, prematuramente falecido, o emérito Mário Viegas, dispararam na minha memória factos há muito arrumados lá no fundo do baú das recordações.

A referida Senhora evocava a memória de seu filho, o percurso familiar, as razões que levaram a primeira filha a nascer na Amadora e o filho Mário ter nascido em Santarém. O facto da família se ter desde há muito dedicado ao comércio farmacêutico e de o seu filho Mário ter seguido um caminho tão diverso, a vida artística.

Sempre fui grande admirador do Mário Viegas. Mas fiquei com a atenção presa nesta sucessão de factos e situações. E, então, o meu espírito iluminou-se: O primeiro patrão do meu Pai, o Senhor Viegas, era o avô do actor Mário Viegas; a mãe do Mário Viegas era a pequenita que o meu Pai me contava ser a traquinas filha do patrão.

Setenta anos depois, coube-me a mim próprio ter a felicidade de cruzar estas recordações da vivência de meu Pai com as do avô do actor Mário Viegas. Vivência de patrão com um jovem marçano, mas que meu Pai sempre me referenciou como o grande mestre da sua vida profissional que dava nessa altura os primeiros passos.

domingo, dezembro 14, 2003

imagens de viagem


Budapeste - Igreja Mátyás

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Santo António em Budapeste

Visita obrigatória de quem viaja para Budapeste, a Igreja Mátyás situa-se na zona antiga da cidade, designada por Buda, e nela estão contidas todas as destruições e reconstruções a que esta maravilhosa cidade se viu sujeita com o decorrer dos séculos.

Originalmente Igreja Paroquial de Santa Maria, foi edificada entre os séculos XIII e XV, alguns dos estilos presentes datam do reinado de Segismundo, embora tenha ido buscar o nome pelo qual é actualmente conhecida ao rei Mátyás Corvinus que lhe introduziu modificações arquitectónicas profundas. Foi descaracterizada quando em 1541 foi transformada em Grande Mesquita dos turcos.

Esta igreja foi quase totalmente destruída aquando da libertação de Buda, tendo sido reconstruída ao estilo barroco pelos monges franciscanos. Mais tarde foi restaurada ao estilo neogótico. Pode, por esta descrição, concluir-se da miscelânea de estilos que constituem a Igreja de Mátyás.

Esta igreja é igualmente conhecida por Igreja de Nossas Senhora da Assunção.

Quando em Outubro de 1990 visitámos pela primeira vez esta igreja ficámos deveras surpreendidos quando num altar ao fundo da nave principal deparámos com uma imagem de Santo António de Lisboa. Foi uma emoção indiscritível a tantos milhares de quilómetros da capital de Portugal encontrarmos a imagem do seu santo padroeiro.

Passados menos de dois anos, em Maio de 1992, voltámos a visitar a Igreja de Mátyás. O que havia sido uma maravilhosa surpresa transformou-se numa imensa desilusão: O altar e a imagem mantinham-se no mesmo local, a designação da imagem mudara – Santo António de Pádua.

A Hungria já encetara a aproximação à, então, Comunidade Económica Europeia... A pressão italiana a par com a alemã era sentida até nestes pequenos pormenores.

sábado, dezembro 13, 2003

imagens


fragmentos para a história da minha terra

Pesquisa e comentários sobre o que foi publicado, no decorrer do tempo, de autores diversos, relevante para a história da Charneca de Caparica


Apontamentos

Base de Vida (o que produziam)
Batatas
Cebolas
Ervilhas
Tomates
Leite

O leite era vendido aos Leiteiros que por sua vez o transportavam em carroças para Lisboa ou vendiam directamente aos cafés.

Indústria de produção de cabazes e canoas fabricados em cana, pelos Cabazeiros, que eram levados para os laboratórios de medicamentos em Lisboa, para embalar medicamentos para exportação.

Os Carvoeiros passavam semanas no mato a queimar lenha para a produção de carvão que depois vendiam à população em sacas de 10 e 20 quilos.

Muitos homens e mulheres trabalhavam nas fábricas de cortiça na Cova da Piedade e no Seixal (Mundet), para onde se deslocavam diariamente a pé.

Um dos ofícios que mais se destacava nas terras da Charneca de Caparica era o de Costureira, praticado por muitas mulheres que trabalhavam em casa para as camisarias e casas de moda de Lisboa.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

imagens da minha terra


corpo de mulher

O Umbigo

Maravilhoso corpo, uma planície de trigo em tom doirado
Acolhe preciosa jóia de valor incalculável e tão bela
Que é convergência de quereres e sentires do ser amado
Sensual imagem de esplendor admirável, qual aguarela.

Uma gota de suor escorre lentamente pelo liso ventre
Acolhe-se no umbigo desenhado por excelente artista
Transforma-se em diamante de brilho que é luz do sol
E refulge laivos de beleza que delicia nossa vista.

O umbigo centro do mundo dos seres solitários e egoístas
É da mesma forma, um êxtase de luxúria e sensualidade
Quando desenhado no ventre aveludado que os artistas
Pintam com esbatidas tonalidades de avelã e de jade.

O olhar perde-se por caminhos misteriosos e secretos
Que se cruzam com vegetação luxuriante, ora sépia ora doirada
Que no Outono serve de leito dos amores furtivos ou dilectos
Fulgor dos sentires e dos quereres da nossa dulcíssima amada.

As promessas do umbigo para quem desliza rumo ao Sul
Por planícies doiradas de searas prenhes de cereal maduro
São certezas de encontrar paisagem em verde e azul
É o esplendor da concretização de amor profundo e puro.



quinta-feira, dezembro 11, 2003

uma noite de encantamento

Há dias assim. Há dias em que todos os acontecimentos parecem convergir para aumentar a nossa sensibilidade, o nosso sentir profundo relativamente a acontecimentos que noutras circunstâncias nos passariam despercebidos.

Amante do teatro de revista desde muito jovem, quando pela mão de Paulo da Fonseca frequentava os bastidores, por não ter ainda idade para assistir ao espectáculo, retorno, de vez em quando, ao Parque Mayer para rever um género de teatro que nunca deixou de fazer parte do meu imaginário da crítica social.

Aconteceu recentemente, pela amizade que tenho ao Helder Costa, ir ao Teatro Maria Vitória assistir à revista “Vai para fora... ou vai dentro”. Calhou-me no acaso da escolha dos bilhetes sentar-me no lugar que o empresário dedicou à actriz e fadista Aida Baptista.

Com o decorrer dos quadros, com o desenvolvimento das rábulas, senti que com a salvaguarda da não existência de censura, tínhamos voltado aos tempos anteriores à Revolução de Abril. O mesmo Zé Povinho sofredor, humilhado, cilindrado pelos impostos. Os mesmos governantes prepotentes, oportunistas e traficantes de favores.

O meu primeiro deslumbramento: os temas revisteiros de 2003 não andarem muito longe daqueles que eram utilizados antes do 25 de Abril.

Integrando um elenco riquíssimo em carisma revisteiro Odete Santos, deputada comunista na Assembleia da República, com trabalhos teatrais de grande folgo no campo do teatro clássico e que aceitou integrar pela primeira vez um elenco de teatro de revista.

Já muitas vezes a ouvi referir o seu grande amor pela arte teatral, amor bem patente no quadro das Irmãs em que contracena com o novel e promissor actor Ricardo Castro. Um dueto impagável de crítica social à boa maneira da revista portuguesa.

O meu segundo deslumbramento: a excelente capacidade interpretativa e a dignidade de actuação de Odete Santos “estreante” no teatro de revista à portuguesa.

Cerca da meia note, um pouco mais, à saída do teatro, percorri a baixa lisboeta, sem as iluminações próprias e habituais da quadra natalícia, que haviam sido desligadas, penso, cerca das 24 horas. Cidade triste e soturna, já só sobravam sombras a essa hora.

A partir da ponte sobre o Tejo e na direcção do Sul foi o encantamento da luz. Profusamente iluminados o monumento ao Cristo-Rei, a Igreja do Pragal, o Centro-Sul e a Avenida Bento Gonçalves; O Fórum Almada e os depósitos de água do Laranjeiro, Monte de Caparica, Feijó, Lazarim e Charneca.

O meu terceiro deslumbramento: A fascinante sinfonia de cor e luz da margem sul do Tejo em contraste com a cidade ensombrada e desoladora que era Lisboa alguns minutos antes.

fatias de tomar

O Orion, do Sonhos de Ícaro, ao comentar a nossa viagem gastronómica às doçuras de Tomar, sugeria a publicação das receitas de tais iguarias. Não é fácil conseguir o receituário dos doces conventuais, mas uma breve investigação e a colaboração interessada da Maria Teresa trouxe até nós para ser partilhada com os nossos amigos a receita das

Fatias de Tomar

Ingredientes
15 gemas
1 ovo
125 gr. de açúcar
1 dl. de água
manteiga qb

Confecção
Ligue o forno a 170 graus. Bata as gemas com o ovo, sem parar, num recipiente, até dobrar o volume. Unte uma forma com manteiga e encha com o preparado. Coloque no forno, em banho-maria, durante 30 minutos.

Faça uma calda com o açúcar e a água, até obter ponto de fio. Corte em fatias e coloque-as numa travessa e regue com a calda.



Para as consevar pode colocar a fatias dentro de um frasco cheio com a calda e bem rolhado.

Deliciei-me comendo as Fatias de Tomar acompanhadas com uma ginginha caseira.

comentários ou poemas?

Uma imagem outonal obtida num dos bonitos jardins de Tomar mereceu, de alguns dos dedicados leitores da Oficina, comentários que são autênticos poemas.

Hum... imagino que deva ser outono na Europa, observando esta foto.
Bruno Bethonico

As folhas se espalham no tapete verde,
A essência se compõe para a renovação...

Cathy

Que tapete apetecível para se deitar de mão dada com a pessoa amada e olhar as nuvens...
Elsa

quarta-feira, dezembro 10, 2003

imagens do meu arquivo


sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Hoje, os Sabores de Valle de Rosal foram até Tomar...

Viajar de Vale de Rosal até à cidade de Tomar não demora mais do que uma hora e meia, utilizando as modernas rodovias que actualmente rasgam o tecido geográfico de Portugal. O que se ganha em rapidez, perde-se, obviamente, na falta de contacto com as aldeias, vilas e cidades, gentes e monumentos, que as antigas vias principais possibilitavam que fosse feito.

As razões da viajem a Tomar estavam longe de preocupações gastronómicas, mas pela mão do bom amigo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais de Tomar, também membro activo da Confraria da Festa dos Tabuleiros, não foi difícil percorrer os deliciosos caminhos da doçaria da Região dos Templários.

Um itinerário que começou pelas Fatias de Tomar, forma regional da apresentação das chamadas fatias da China, neste caso mergulhadas em calda de açúcar, passando pelas trouxas e estrelas de Tomar, pelas queijadinhas de amêndoa e de gila e culminando nos deliciosos Beija-me Depressa.


Fatias de Tomar


Os ovos, doces de ovos de diversas consistências, sempre presentes, não estivéssemos paredes meias com o Convento de Cristo e os indispensáveis frutos secos da região.


Queijadas e Beija-me Depressa


O nosso amigo recomendou e eu partilho com agrado:

Doçaria Estrelas de Tomar, na Rua Serpa Pinto, em Tomar.

terça-feira, dezembro 09, 2003

portugal em imagens


Padrão dos Descobrimentos


almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Almada Monumental

De origem árabe, o toponímico Almadan significa "a mina", termo que após várias derivações vem no século XVII a adquirir a forma de ALMADA.

Almada foi uma vila árabe conquistada em 1147, aquando da tomada de Lisboa, tendo o seu domínio definitivo apenas sido conseguido em 1195.

Conheceu ao longo dos vários séculos um crescimento contínuo, embora lento, apenas abalado pelos estragos do terramoto de 1755, que causou elevados estragos e deixou destruídas ou em ruínas a grande maioria das construções existentes.

No último quartel do século XIX inicia-se a expansão urbana e a passagem da economia agrícola à economia industrial que vai distinguir a vila e o concelho do restante território.

Quanto ao património construído distinguem-se como locais de interesse:

Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso
Reconstruída em estilo pombalino no século XIX (1856/59), no local onde terá existido a Igreja de Sta. Luzia, é um templo de uma só nave cujas paredes estão parcialmente revestidas de azulejos azuis e brancos com molduras barrocas do século XVIII, relatando a vida da Virgem. Todos os anos daí sai a Procissão de Nossa Senhora do Bom Sucesso, a 1 de Novembro, tradição que remonta a 1755.

Cais do Ginjal
Extensão de toda a margem a sul do Tejo entre Cacilhas e os armazéns situados no extremo do cais junto às escadinhas que dão acesso a Almada pela Boca do Vento. Nos séculos XVII e XVIII aí se estabelecem os grandes armazéns de vinho, azeite e tanoaria. Na segunda metade do século XIX era já um aglomerado industrial com vários armazéns e os estaleiros navais da Hugo Parry (c. 1860), onde se constróem os primeiros navios de ferro e aço para a nossa Marinha de Guerra. A partir da implantação da República e com a desactivação industrial do local, os armazéns passaram a ser utilizados como restaurantes, tornando-se, então, célebres as famosas caldeiradas do Ginjal.

Pátio do Prior
O Pátio do Prior deve o seu nome ao facto de as suas casas terem sido pertença de D. António, Prior do Crato, que as herdara de seu pai, o duque de Beja e donatário de Almada, o qual terá ordenado a sua construção no séculos XVI/XVII. Após a derrota e o exílio do Prior do Crato, as casas foram adquiridas pelos Abranches que nas vésperas da Revolução de 1640 aí terão recebido o duque de Bragança e é possível que aí tivesse sido um dos sítios de conspiração.

Paços do Concelho
Edifício de três pisos que incluía a própria Câmara, a cadeia e o tribunal judicial, inaugurado em 1875, só teve as suas obras concluídas em 1931. Com dupla escadaria de acesso ao primeiro andar, tem uma torre sineira (aproveitada da Igreja de Sta. Maria que resistiu ao terramoto de 1775), cujo relógio foi oferecido pela rainha D. Maria I.

Igreja de Sant'iago
Mandada reedificar por D. António, irmão de D. João V, antiga igreja matriz de Almada, a sua construção data dos primeiros anos da Reconquista Cristã. É uma igreja de uma só nave remodelada em diversas ocasiões, onde os mais antigos vestígios que possui são a capela-mor coberta por uma abóbada de cruzaria de ogivas de estilo manuelino e as paredes laterais que resistiram ao terramoto de 1755. Possui, igualmente, ricos azulejos do século XVIII. Data da segunda metade do século XVIII a fachada neoclássica, onde se encontra um escudo ovalado com a cruz de "Santiago de Espada", a cuja ordem o templo pertenceu.

Castelo de Almada
Situado à beira da arriba, era inatacável pelo lado que dá para o rio Tejo e constituía uma óptima defesa pelo lado de terra. Deve o seu actual aspecto às obras aí efectuadas em 1820. Foi provavelmente edificado sobre sucessivas construções que remontam ao primitivo castelo de origem árabe. Totalmente destruído no século XII (c. 1191), terá sido reconstruído ainda neste século ou princípios do seguinte. Em 1384, foi cercado pelos castelhanos, ataque a que resistiu. Em 1868 é inaugurado, do lado poente, o jardim público e o miradouro.

Judiaria
É actualmente nome de rua, de travessa e de praceta, certamente por alargamento do toponímico que primitivamente não incluiria, na Idade Média, mais que uma pequena morada de casas habitadas por judeus ou cristãos novos. Nestes locais podem ainda distinguir-se algumas casas que, pelas paredes mestras, cantarias e telhados em "tesoura" podem datar do século XVI, embora tendo sofrido vários restauros. Durante os séculos XVII e XVIII, a rua era uma das mais importantes de Almada.

Igreja e Convento de S. Paulo
Não muito longe da Cerca foram fundados em 1562 por Frei Francisco Foreiro, em homenagem a S. Paulo. Com o terramoto de 1775, a Igreja de S. Paulo abateu e ardeu totalmente mas foi reconstruída ainda no século XVIII, conservando elementos construtivos anteriores. O templo barroco de uma só nave, coberto por um tecto de madeira, está parcialmente revestido por painéis de azulejos azuis e brancos do século XVIII.

Palácio António José Gomes
Edifício de estilo neoclássico mandado construir pelo industrial da moagem do Caramujo, António José Gomes, é um exemplo de romantismo e eclectismo da época. Denota influências da arquitectura suíça e é uma casa bem ao gosto da burguesia liberal. De fachada simétrica com um corpo central e dois laterais separados por pilastras, apresenta três tipos de janelas, das quais se destaca o andar nobre realçado por uma varanda a todo o comprimento. São de destacar as estátuas existentes por cima da platibanda com motivos alegóricos referentes à indústria e ao comércio.

Nora de Ferro
Instalada na quinta da família Gomes sobressai uma nora que se julga executada na oficina Eiffel, de grande elegância, exemplo da sumptuosa introdução na sua arquitectura da tecnologia do ferro.

E ainda...

Igreja da Misericórdia
Integrada no edifício do antigo Hospital de Almada, esta igreja gravemente danificada pelo terramoto de 1755, foi construída no século XVI (c. 1555) e ampliada mais tarde. Igreja de uma só nave com tecto em madeira, é forrada a azulejos policromos do século XVII e no transepto encontram-se dois brasões de armas dos Carvalhos e Sousas do Prado e dos Mendonças. Na capela-mor encontra-se um belo retábulo quinhentista que cobre a totalidade da sua parede fundeira.

Fonte da Pipa
Encontra-se à beira-rio, este chafariz monumental de quatro bicas. Foi construído no reinado de D. João V (c. 1736) a expensas de um imposto lançado sobre os açougues, como se pode verificar numa inscrição que contém. Além de ter servido de lavadouro público, pela qualidade da sua água, serviu também para os navios que escalavam a cidade de Lisboa, durante os séculos XVIII e XIX, se abastecerem.

Quinta e Palácio da Cerca
No extremo norte da parte velha da cidade, bem no topo da falésia, a Quinta da Cerca, junto à Rua do mesmo nome, é composta pela casa nobre de habitação de dois pisos, pelo pátio de acesso com portão de ferro e jardins. Datável do século XVII/XVIII é o mais característico exemplar de arquitectura civil da cidade, tendo em 1808, aquando da 1ª invasão francesa, servido de aquartelamento a um regimento francês. É um privilegiado miradouro da cidade de Lisboa. Aí se encontra instalado o Museu de Arte Contemporânea.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

uma flor para a bel



do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


A minha primeira grande decisão


Dos nove para os dez anos tive que tomar a minha primeira grande decisão. Terminaria em breve a instrução primária, a então chamada 4ª classe, mais tarde segundo ciclo do ensino e, agora, se ainda não mudou, o 4º ano de escolaridade. A minha opção seria livremente tomada para uma de três alternativa: ensino liceal, ensino comercial ou ensino industrial.

Sublinhei o termo livremente, pois seria eu a decidir, contudo:

O Liceu é para os meninos ricos, que depois seguirão para a Universidade”, diziam-me.
O Liceu é para os meninos copo de leite”, alguém comentava para aumentar a minha auto-estima.

O meu pai, comerciante, com as muitas dificuldades de um início de negócio, sempre acrescentava:

O Pai tem uma loja, se calhar o curso Comercial, não era mau
O curso Industrial é mais duro, é preciso trabalhar o ferro e a madeira”.

Resultado, enquanto os “meninos mais ricos” e os “meninos copo de leite” foram para o Liceu eu fui para a Escola Comercial, os primeiros dois anos chamados “ciclo preparatório”, donde ainda poderia seguir a opção do Curso Industrial. Para o Liceu é que estava fora de causa.

O ensino obrigatório era, então, a 4ª Classe e havia que estar preparado para começar a ajudar ao rendimento familiar o mais cedo possível. Os “meninos ricos” esses poderiam andar a estudar muitos mais anos.

Assim, aos 10 anos de idade lá comecei a fazer a viagem de combóio, ainda a vapor produzido pela combustão do carvão, entre a Amadora, a Porcalhota do tempo da Monarquia, e a Cruz da Pedra já para lá das portas de Lisboa.

O destino era a Escola Preparatória, Marquesa de Alorna para as raparigas; Pedro de Santarém para os rapazes, mas instaladas no mesmo edifício. Estávamos em 1954. Uma porta da minha vida estava, então, a ser aberta a partir desse momento.

domingo, dezembro 07, 2003

imagens de viagem


Budapeste - o Passado e o Presente


o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Gastronomia húngara

Os húngaros vivem bem e comem com grande prazer. Segundo a opinião dos nutricionistas os húngaros alimentam-se de forma excessiva, pois é muito difícil resistir às comidas húngaras tradicionais, com a cor rubi da paprika, em que os seus aromas, por si só, são capazes de despertar o apetite.

A Hungria é a pátria do verdadeiro goulash, conhecido e apreciado desde o Canadá à Austrália, assim como os milhares de petiscos, como sejam as empadas de fígado de ganso e, ainda, os diferentes guisados e assados.

A história da gastronomia húngara vem desde centenas de anos atrás e foi influenciada tanto pela arte culinária turca e italiana, como pela cozinha francesa.

No Museu da Indústria Hoteleira e da Economia Húngara, situado no Castelo do bairro mais monumental de Budapeste, existe uma exposição que desperta o apetite: ela mostra-nos, em forma de retrospectiva, até ao ano de 1500, como e o que se cozinhava nas diferentes épocas. Um dos reis húngaros mais famoso, o rei Matias, no século XV, convidou cozinheiros italianos para ensinarem a arte de utilizar os diferentes condimentos.

Graças às condições geográficas da Hungria, os vegetais que usam são produzidos no seu solo: os tomates, a batata e o repolho.

Quanto à paprika muitos opinam que tem uma única pátria: a Hungria.

Segundo contam as crónicas a sua origem é a Península Ibérica onde a paprika foi produzida pela primeira vez, mas este fruto e condimento atingiu na Hungria a fama mundial, com um paladar e odor diferente e esquisito.


Aperitivos
Aguardente húngara – pálinka, de agradável sabor

Sopas
De gulash, em húngaro gulyás, confeccionada originalmente pelos pastores do campo e da pampa húngara: carne de vaca, com muita cebola, paprika vermelha, tomate, cominhos e pequenos feijões. De acordo com a tradição o gulash cozinha-se e serve-se num recipiente especial de ferro fundido, chamado bogrács.
De galinha, cozinha-se em fogo lento, com muitos legumes e feijão verde muito delgado.
De peixe, confeccionada em muitas variedades, consoante a região, havendo cinco tipos de sopa de peixe, somente nas margens do Danúbio.

Repolhos
Com os repolhos preparam-se numerosos guisados, de entre os quais o mais conhecido é o Repolho à Székely.

Peixe
Frito em paprika e carpa moleira à moda de Dorozsma e, ainda, um prato esquisito que é a gelatina de peixe.

Carnes
O coelho com paprika, os filetes de coelho à caçador e as carnes de porco e de javali são dos melhores do mundo. Frangos, patos e gansos e, especialmente, o fígado de ganso são servidos nas diferentes formas de cozinhado, assado, tostado e em patê.

Vinhos
Tojak, Badacsony, Tihany, Villány, Sopron, Pécs e Szekszárd.

Digestivos
Licor Unicon.

As csárdas
Restaurantes típicos húngaros, famosos graças aos bandoleiros. Os bandoleiros roubavam os ricos para dar aos pobres e refugiavam-se nestes locais, iludindo a perseguição dos guardas dos senhores da terra. Na maioria dos casos as csárdas tinham duas entradas, por uma vinham os guardas, por outra fugiam os bandoleiros. Actualmente, ainda existem muitas csárdas em Hortobágy, perto do Lago Balaton e nas províncias de Somogy e Zala e, ainda, perto da fronteira ocidental, nos territórios de Sopron e Koszeg.

Vale a pena pensarmos um pouco nestes lugares, pelas especialidades em condimentos, guisados e assados, como também pelo característico do seu mobiliário feito à mão, numa tradição de centenas de anos espelhada também nas cerâmicas e bordados da região.

Cafés e pastelarias
Quanto a cafés e pastelarias encontram-se em Budapeste algumas que são autênticos pontos de encontro entre o oriente e o ocidente: o café Hungaria, no boulevard Lenin, no coração da cidade, o café Gerbeaud, na Praça Vorosmarty, bem perto da rua Váci e a pastelaria Ruszwurm, no interior das muralhas do Castelo de Buda.

O Apostolok
Restaurante caracteristicamente húngaro, dá porta para a rua Kigyó, ali bem perto da rua Váci, no centro cosmopolita e comercial da cidade de Budapeste, na zona de Peste, a dois passos do doce Danúbio.

Uma lista variada de comida tradicional húngara dificulta a escolha, muito embora esta vá sendo ajudada por alguns golos de Unicon, o licor que tão agradável é, como digestivo ou como aperitivo.

sábado, dezembro 06, 2003

imagens



fragmentos para a história da minha terra

Pesquisa e comentários sobre o que foi publicado, no decorrer do tempo, de autores diversos, relevante para a história da Charneca de Caparica


Devoção religiosa

Capela de Nossa Senhora da Conceição da Charneca - Por devoção dos habitantes da povoação da Charneca de Caparica, nos anos setenta do Século passado, foi construída uma capela pública consagrada à Padroeira de Portugal, elevada, a seguir, à categoria de sede de vicariato.

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Capela de Nossa Senhora de Monserrate - Situada no pátio da quinta de Monserrate, na Charneca de Caparica. Além da Padroeira, venera-se aqui com especial devoção, a imagem de São Luís. Rei de França.

Na primeira metade do século XIX, pertencia a Francisco António Ferreira, conhecido por "Sola", por herança de seus avós; depois foi o general Manuel António de Araújo Veiga, a quem chamavam "o Capitão Rico" e é, actualmente, de seu bisneto Vasco Morgado Junior, o filho de empresário teatral Vasco Morgado. Encontra-se totalmente degradada.

...

Ermida do Bom Jesus - Encontra-se junto da residência da Quinta da Regateira, na Charneca de Caparica. Está privada de culto há bastante tempo. Tem a data de 1774 nuns azulejos. Pertenceu a Domingos Rosa; depois a Domingos dos Santos e, actualmente, é propriedade dos herdeiros de Luís Álvaro.

...

Igreja Conventual de Nossa Senhora da Rosa - Foi pertença dos frades paulistas que se estabeleceram, na Charneca de Caparica, junto de um vale por onde, no Inverno, corriam as águas para o mar, e aonde, por vezes, chegam as marés.
Desta igreja existe apenas o arco transepto, cravado na parede de uma casa que deveria ter sido a capela-mor.

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Capela de Nossa Senhora da Assunção - Fica anexa à antiga residência dos padres da Companhia de Jesus, na quinta do Vale do Rosal. Pertenceu primeiro ao Colégio de Santo Antão e, depois, ao de Campolide, ambos dos mesmos padres.
O Orago, representado num baixo-relevo colorido, obra-prima de um inacino, encontra-se, actualmente, na redacção da revista "Brotéria". Este retábulo foi um dia atingido por uma faísca que, chamuscando uns anjos que nele figuram, não atingiu a imagem da Virgem.

Auxiliou bastante a edificação deste templo o Padre Martim Gonçalves da Câmara, preceptor de El-Rei D. Sebastião e seu escrivão da puridade. Em 1889, a capela foi restaurada e, em 1910, escapou ao incêndio que devorou a residência. Actualmente, está transformada em dependência agrícola.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

as cores da mata dos medos



corpo de mulher

As Nádegas

O escultor trabalhou o róseo mármore com desvelo,
Burilou com o cinzel superfícies doces e arredondadas,
Mágico sopro divino deu vida, harmonia sem paralelo,
Às mais belas e sensuais nádegas alguma vez imaginadas.

Nádegas perfeitas, esculturais, obra de arte acabada,
Que encantam o olhar dos amantes do desejo sensual,
Maravilham o espírito, animam a mente. É a alvorada
De um dia esplendoroso, como outro por certo não há igual.

Dunas de fulgurante brilho que a mãe Natureza talhou,
No constante e sensível trabalho de sonhar e criar beleza,
Areais beijados por mares transparentes de que o poeta falou
Onde se espraiam corpos ao sol quente, dádiva da Natureza

Na doirada seara de trigo, no suave ondular das espigas,
Sonho ver nádegas de princesa, belas, perfeitas, sensuais,
A magia de uma dupla elegante e muito juntas como amigas,
Que encantam os príncipes e tantas outras figuras reais.

A suavidade de tuas nádegas são ondas de um mar de sonho
Onde o corsário navega, senhor de mares e oceanos sem fim
No desejo que é embriaguez de dulcíssimo e rubro medronho
Da descoberta de maravilhoso tesouro de sedas e cetim.




quinta-feira, dezembro 04, 2003

vinhos de portugal - notas de prova

Primum Branco 2002

Classificação: Vinho Regional
Região: Terras do Sado
Castas: Sauvignon Branco (25%); Arinto (60%); Pinot Branco (15%)

Prova
Cor: Amarelo esverdeado
Aroma: Aspargos, figos, citrinos e alguma madeira
Paladar: Frutado, suave e macio
Final: Médio

Óptimo para acompanhar Cadelinhas à Bulhão Pato
Temperatura ideal: 13 graus C



Um pouco da sua história: Primum dá o nome a uma família de vinhos de excelência, que resultam de diferentes combinações entre as melhores castas produzidas na região de Algeruz. Esta vinha foi plantada em 1990 e situa-se no coração da região vinhateira de Palmela.

A prova deste vinho foi integrada numa degustação de 3 brancos, 1 branco doce e 4 tintos soberanamente conduzida por Sérgio Marques (da José Maria da Fonseca).

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


A Nova Arcádia teve a protecção do Intendente da polícia que assim julgava poder melhor controlar os desmandos revolucionários e ímpios que sempre podiam surgir das reuniões do jovens boémios e artistas.

A Academia, a Nova Arcádia que de início se reunia na casa deste e daquele, sempre de gente de nome e de haveres, como eram o Conde de Vimioso e o Conde de Pombeiro, passou a encontrar-se em lugar próprio no desmantelado e abandonado Castelo de S. Jorge, cedido oficialmente pelo Intendente.

Viu, assim, a Nova Arcádia formalizada a sua existência oficial ao ponto de serem chamados a abrilhantar as cerimónias do nascimento da Princesa Dona Maria Teresa no Palácio da Ajuda. Nesse evento, o sempre irreverente Bocage improvisou versos que desfizeram o severo protocolo.

Bocage não resistiu muito tempo ao elogio mútuo e ao bem dizer e bem parecer dos árcades. Atira-se satiricamente aos seus companheiros, ao Padre Caldas, ao Conde, às reuniões de quartas-feiras com tal argúcia e má-língua que se celebrizou, a partir daí, dividindo os intelectuais em apoiantes e completamente contra.

Improviso

À meia noite
Saiu de um cano
Cheio de merda
Crispiniano.

Eis que da ronda
Tropel insano
Divisa ao longe
Crispinianno

Capuz o cobre
És franciscano?
- Sou (lhe responde)
Crispiniano.

Chega o alcaide,
Dá-lhe um abano,
Sai da gravata
Crispiniano.


quarta-feira, dezembro 03, 2003

portugal em imagens


Entradas

sabores de valle de rosal

A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Cadelinhas à Bulhão Pato
Para 4 pessoas


Para a preparação desta deliciosa iguaria, recomendo a utilização de cadelinhas (ou conquilhas, ou lambujinhas) apanhadas por arrasto manual ao longo das doiradas areias da beira-mar caparicana. Devem apresentar-se frescas, fechando ao mínimo toque.



Ingredientes
1 kg. de cadelinhas (ou conquilhas)
sal
azeite
4 dentes de alho
1 chávena de vinho branco
pimenta em grão
coentros picados
1 c. Chá de farinha Maizena
sumo de limão



Preparação
Ponha as cadelinhas em água e sal no frigorífico, durante umas horas, para perder a areia. Depois, lave as cadelinhas, escorra-as. Num tacho, ponha o azeite e 4 alhos esmagados. Leve ao lume até alourar. Retire do lume e junte uma chávena de vinho branco. Volte ao lume até evaporar o vinho, agitando um pouco o tacho. Junte as cadelinhas, tempere de pimenta moída na altura e polvilhe com coentros picados. Mantenha em lume vivo até as cadelinhas abrirem. Junte uma colher de chá de farinha Maizena desfeita num pouco de água para engrossar o molho. Coloque as cadelinhas com o molho numa travessa, junte sumo de limão e sirva bem quente.



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